Distrital está no primeiro mandato e foi candidato único; eleição foi unânime. Liliane deixou cargo após divulgação de conversas sobre suposto esquema.
Correligionário do governador Rodrigo Rollemberg, o deputado distrital Juarezão (PSB) foi eleito nesta segunda-feira (21) como o novo vice-presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Único candidato à vaga, ele foi aprovado por unanimidade entre os 14 deputados presentes. A sessão foi encerrada em cerca de 20 minutos, sem votação de projetos.
Juarezão deve permanecer no cargo até a eleição da próxima Mesa Diretora, prevista para o início de 2017. A vice-presidência estava desocupada desde a última quarta (17), quando Liliane Roriz (PTB) renunciou ao posto na Mesa.
Dez distritais não compareceram à votação, incluindo os três parlamentares do PT. O líder do partido, Wasny de Roure, informou que a bancada se ausentaria por considerar que a atual Mesa Diretora não tem “legitimidade” para conduzir o processo.
“A renúncia da deputada Liliane Roriz e a eleição de um outro deputado distrital para completar o mandato não afastam, muito menos eliminam a gravidade dos fatos denunciados nos meios de comunicação, com forte indício de sua veracidade material”, diz nota do partido.
No discurso de posse, Juarezão declarou que assume o cargo com “muita satisfação” e que é uma pessoa “humilde e honesta”. Ele se esquivou de perguntas sobre as recentes denúncias de corrupção dentro da Câmara.
“Por enquanto, não tenho nada a declarar sobre as acusações da Liliane. A Mesa Diretora já pediu para investigar, eu apoio a investigação e a Corregedoria vai apurar esse caso”, declarou. Juarezão também não se posicionou sobre o processo de cassação da ex-vice-presidente, em tramitação na Casa.
Juarezão e Liliane foram eleitos em outubro de 2014 sob o mesmo partido, o PRTB. Na janela de transferência aberta em 2015, ambos deixaram a legenda. O PSB de Rollemberg, que não elegeu nenhum deputado em 2014, conta hoje com Juarezão e Luzia de Paula – ela foi eleita pelo PEN e passou pela Rede antes de se filiar ao PSB.
Permanecem na Mesa Diretora a presidente da Câmara, Celina Leão (PPS), o primeiro-secretário, o primeiro secretário, Raimundo Ribeiro (PPS), o segundo secretário, Julio Cesar (PRB), e o terceiro secretário, Bispo Renato Andrade (PR). Destes, apenas Ribeiro não é citado nominalmente nas denúncias divulgadas até esta segunda.
Denúncias
Oficialmente, a filha do ex-governador Joaquim Roriz disse que saiu por “motivo de foro íntimo”. Nos bastidores, a renúncia é atribuída ao vazamento de conversas gravadas por Liliane em que colocam a presidente da Câmara, Celina Leão (PPS), sob suspeita de articular um esquema de pagamento de propina em contratos de UTI.
Nos áudios feitos por Liliane, Celina fala sobre mudança de finalidade de uma emenda parlamentar que direcionou R$ 30 milhões da sobra orçamentária da Câmara a um grupo de seis empresas que prestam serviço de UTI. Segundo as denúncias, o repasse acabou beneficiando deputados.
Em entrevista à TV Globo, Liliane detalhou parte do suposto “acordo”. Segundo ela, a negociação tratava de uma “sobra orçamentária” de R$ 30 milhões, destinada originalmente à reforma de escolas e unidades de saúde.
No começo de dezembro, os distritais aprovaram uma mudança no texto, direcionando o aporte para pagar dívidas do Palácio do Buriti com prestadoras de serviço em UTIs. Pela denúncia, o esquema envolveria repasse aos deputados de 7% sobre o valor das emendas.
Celina negou irregularidades e disse que Liliane mentiu porque sente “inveja” dela. Ela também adiantou que vai encaminhar documentos ao Ministério Público para provar que não agiu de forma ilegal na destinação de recursos de emendas parlamentares.
“A acusação é falha porque a emenda é da deputada. A emenda é dela, da vice-presidente. Ela que propôs. Se existe ilegalidade, ela que remoque responder”, afirmou Celina. Segundo ela, o termo “projeto” se refere ao texto da emenda.
Liliane seria julgada pelo Tribunal de Justiça naquela quarta em um processo que poderia cassar a possibilidade de ela se reeleger. A audiência foi adiada por falta de quórum.
“No dia do julgamento, ela tenta criar esse circo, colocando suspeição sobre os deputados. Se ela tinha percepcao de ilegalidade, por que ela propôs isso? Todo o trâmite tem que ser respondido por ela.”