Maikon Kempinski vai repetir ação no mesmo lugar onde foi interrompido pela Polícia Militar em 15 de julho. Ele também vai participar de debate sobre nudez artística e de foto-protesto.
artista paranaense que foi detido pela Polícia Militar do Distrito Federal enquanto fazia uma performance de nu artístico na praça do Museu da República volta à capital em setembro. Maikon Kempinski vai repetir a encenação no mesmo local, desta vez pelo festival Cena Contemporânea, que ocorre entre 22 de agosto e 3 de setembro.
O artista também vai aproveitar o retorno a Brasília para participar de um debate sobre nudez artística. Na ocasião, Kempinski vai falar sobre a carreira, o processo de construção artística e os aspectos culturais, políticos e sociais inseridos no contexto da detenção no dia 15 de julho.
“Por que o corpo ainda assusta tanto? Que tipo de poderes querem subjugar, impor regras?”
Ele disse ao G1 que tem recebido até ameaças pela internet para não voltar. “Quero falar um pouco sobre tudo o que eu passei [no dia da detenção] e o que aquela situação me mostrou. O importante é que vou fazer a performance acontecer até o final e com a polícia garantindo.”
De acordo com os organizadores do festival, o convite para que Kempinski volte com a mesma obra foi proposto em “repúdio à arbitrariedade praticada, que rompe com a liberdade outorgada à expressão artística”. O debate e a performance serão realizados no dia 2 de setembro, às 9h e às 17h respectivamente, no Museu da República.
Agora vai
Para evitar imprevistos, o diretor do Cena Contemporânea, Alaor Rosa, informou que vai pedir apoio do governo para fazer a segurança de todo o festival. “A inteção é que aconteça de forma segura, deixando mais afastadas as pessoas que não sabem do que se trata e filtrando para perto aquelas que querem assistir à obra.”
“Vai ser uma forma de tirar a mancha de cidade repressora. Brasília tem capacidade para fazer qualquer tipo de intervenção artística os espaços forem respeitados.”
A Secretaria de Segurança Pública informou que as edições anteriores do festival contaram com apoio da pasta. O G1 aguarda retorno sobre a parceria neste ano. O efetivo das forças de segurança é calculado a partir da expectativa de público e local de realização, tanto de policiais, quanto de agentes do Detran e bombeiros.
“Vai ser pedagógico, porque não abrimos precedentes. Seria prejudicial para outros artistas se isso tivesse acontecido e não tivéssemos recebido o apoio do governo”, afirmou Kempinski sobre a segunda tentativa de apresentar a obra.
A obra
Durante a performance “DNA de Dan”, interpretada como ato obsceno pela PM, o artista aplica uma substância líquida sobre o corpo que, com o passar do tempo, começa a secar. Imóvel dentro de uma bolha inflável, ele começa a se mexer e romper as camadas da substância, como uma cobra, que troca de pele.
A obra foi apresentada em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte pelo festival “Palco Giratório”, do Sesc. Também fez parte da exposição “Terra Comunal”, da artista sérvia Marina Abramovic em 2015.
Foto-protesto
Após o debate sobre nudez, artistas e participantes serão convidados a se despir para compor a cenografia da Esplanada dos Ministérios com uma foto-protesto. A cena será registrada pelo fotógrafo brasiliense Kazuo Okubo. Somente maiores de 18 anos podem participar.
Relembre
Maikon Kempinski foi interrompido pela Polícia Militar aos 30 minutos de performance, que tem duração de 4 horas, por praticar “ato obsceno”. Na ocasião, militares rasgaram a bolha de plástico onde ele se apresentava para retirá-lo. A estrutura tinha um zíper para entrada e saída de espectadores.
A Polícia Militar justificou a abordagem afirmando que a performance tinha “revoltado algumas famílias que aproveitavam o dia ao lado de crianças para conhecer os monumentos de Brasília e que ficaram surpresas ao presenciar o ato obsceno”.
“Houve uma censura com violência de um sujeito específico que interrompeu e que ninguém sabe o nome”, disse o artista ao G1 no dia 19 de julho.
“Ele rasgou a bolha, me botou num camburão com duas motos de sirene ligada. Ele está muito bem protegido, mas todo mundo sabe meu nome.”
O governador, Rodrigo Rollemberg, e o secretário de Cultura, Guilherme Reis, fizeram um pedido de desculpas público no dia seguinte ao ocorrido. “O governo de Brasília destaca a importância da cultura. Rollemberg e Reis lembram que a cultura é sempre bem-vinda à capital da república e lamentam o desconforto causado ao artista, pois o governo acredita, apoia e incentiva a livre manifestação artística.”
Quatro dias depois, a polícia informou à imprensa que o artista havia sido interrompido porque a produção “não adotou os cuidados necessários para que a classificação indicativa de 16 anos fosse respeitada”.
Segundo a nota da PM, os militares foram acionados por pessoas que estavam na praça do museu – onde a ação ocorria ao ar livre – que “não tinham conhecimento de que se tratava de uma performance artística”.
Ainda de acordo com a polícia, os produtores não apresentaram autorização da Secretaria de Segurança Pública ou da Administração Regional. O Sesc, responsável pelo evento, afirmou que tinha a autorização do museu e que tomou todas as providências para informar a indicação da obra.