A explosão de aparelhos de mensagem do tipo pager usados pelo grupo armado Hezbollah, no Líbano, deixou ao menos oito pessoas mortas e milhares de feridas nesta terça-feira (17/9), informou o ministério da Saúde do país.
O Líbano e o Hezbollah, grupo que também atua como um partido político, responsabilizaram Israel pela explosão dos aparelhos, também chamados no Brasil de “bipe” e muito usados no passado para troca de mensagens.
As explosões teriam acontecido em diversos lugares, desde a rua até supermercados e barbearias.
O governo libanês afirma que 200 dos 2.750 feridos estão em estado crítico.
Em um comunidado, o Hezbollah disse que Israel, um “inimigo traidor e criminoso certamente receberá o castigo justo por esta agressão pecaminosa, queira ou não”.
O grupo armado apoiado pelo Irã, com sede no Líbano, tem sido um inimigo de Israel há décadas. Os combates entre os dois lados se intensificaram nos últimos meses, princupalmente após início do guerra em Gaza, aumentando o receio de uma guerra total.
O governo do Líbano também culpou as autoridades israelenses. O ministro da Informação do país, Ziad Makary, condenou as explosões de pagers como uma “agressão israelense”, de acordo com a emissora libanesa Al-Manar TV.
Israel ainda não comentou sobre o ocorrido.
As explosões
A agência de notícias estatal do Líbano informou que ocorreram explosões nos subúrbios de Beirute e em outras áreas do país.
A emissora de televisão Al-Manar, ligada ao Hezbollah, também noticiou a explosão de muitos pagers, sem identificar os feridos.
Vídeos e fotos compartilhados nas redes sociais mostravam homens feridos sentados ou deitados no chão, e outros sendo transportados para hospitais.
Imagens de câmeras de segurança não verificadas mostravam explosões em comércios.
Um membro do Hezbollah disse à agência de notícias Reuters que se tratava da “maior falha de segurança [do grupo]” desde que as hostilidades com Israel se intensificaram há 11 meses, em paralelo à guerra de Gaza.
Em um primeiro comunicado, o Hezbollah classificou as explosões como “misteriosas” e disse que elas causaram a morte de, pelo menos, três pessoas.
“Explodiram pagers que pertenciam a funcionários de várias unidades do Hezbollah e instituições”, disse a milícia armada em um comunicado, acrescentando que no incidente morreram “uma jovem e dois de nossos irmãos”.
O grupo acrescentou que estava conduzindo uma “ampla investigação de segurança e científica” sobre as causas das detonações “simultâneas”.
O embaixador do Irã no Líbano está entre as centenas de pessoas que teriam se ferido. A televisão estatal iraniana informou que seus ferimentos são “superficiais” e que ele está “consciente e fora de perigo”.
Um ex-perito em munições do Exército Britânico, que pediu para não ser identificado, disse à BBC que os dispositivos provavelmente estavam carregados com entre 10 a 20 gramas de explosivo de alta qualidade, escondido dentro de um componente eletrônico falso.
Logo após as explosões, muitos apontaram para a possibilidade de um ataque hacker que poderia ter causado o superaquecimento das baterias dos pagers e as explosões — o que seria completamente sem precedentes.
De acordo com Joe Tidy, correspondente em cibersegurança da BBC, especialistas estão apontando o fato de que as imagens das explosões não são consistentes com um possível o superaquecimento de uma bateria.
Silêncio em Israel
Desde que o grupo armado palestino Hamas lançou o surpreendente e mortal ataque contra Israel no dia 7 de outubro, dando início à guerra em Gaza, a fronteira do Líbano se tornou uma espécie de segundo front, onde o Exército de Israel tem trocado fogo com o Hezbollah.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) não comentaram as explosões ocorridas nesta terça-feira no Líbano.
No entanto, os acontecimentos ocorreram horas depois de o gabinete de segurança de Israel definir como objetivo oficial da guerra o retorno seguro de 60 mil residentes ao norte do país, que haviam sido deslocados pelos ataques do Hezbollah.
“O gabinete de segurança atualizou os objetivos da guerra para incluir o seguinte: devolver os residentes do norte de forma segura às suas casas”, disse o escritório do primeiro-ministrom, Benjamin Netanyahu. “Israel continuará a agir para implementar esse objetivo.”
Na segunda-feira (16/9), o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou durante uma reunião com o enviado americano Amos Hochstein que a única maneira de devolver os residentes ao norte de Israel era por meio de uma “ação militar”.
“A possibilidade de um acordo está se esgotando, já que o Hezbollah continua ‘se ligando’ ao Hamas e se recusa a por fim ao conflito”, afirmava um comunicado de seu escritório.
Israel advertiu repetidamente que poderia lançar uma operação militar para expulsar o Hezbollah da fronteira.
Em seu comunicado, o Hezbollah reiterou seu “apoio e respaldo à corajosa resistência palestina”.
Análise: ‘Devastor para o Hezbollah’
De Paul Adams, correspondente de diplomacia da BBC
É difícil imaginar um ataque mais calculado para espalhar medo e confusão.
O Hezbollah depende em grande medida de pagers para as comunicações do grupo.
Os telefones celulares foram abandonados há muito tempo por serem muito vulneráveis, como demonstrou o assassinato, por parte de Israel, do fabricante de bombas do Hamas, Yahya Ayyash, em 1996.
Os membros do Hezbollah foram vítimas de explosões em supermercados, nas ruas, em automóveis, em suas casas e até mesmo em barbearias.
Incidentes foram relatados por todo o Líbano, desde Beirute até o vale do Bekaa, e até mesmo na vizinha Síria.
Cada explosão pode ter sido pequena, mas algumas causaram danos catastróficos.
Em um momento em que Hezbollah e Israel estão envolvidos em uma guerra de baixa intensidade, esses ataques terão consequências devastadoras para a força de trabalho, as comunicações e o moral do Hezbollah.
Israel ainda não comentou, mas é evidente que foi obra deles.
É o prelúdio de um ataque maior? O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse na segunda ao enviado americano Amos Hochstein que Israel “faria o que fosse necessário para garantir sua segurança”.
Ainda não há sinais de que esteja sendo reunido o número de homens e veículos blindados necessários para uma grande incursão militar no sul do Líbano, mas os ataques de hoje representam uma nova escalada e é difícil imaginar que o Hezbollah não se sinta obrigado a responder de alguma forma.
Fonte: Correio Braziliense