Antes de passar sete anos pelos mares defendendo a vida debaixo d’água, a fotógrafa Bárbara Veiga descobriu o ativismo quando a relação que mantinha com o oceano não ultrapassava as margens da praia.
Colaboradora do Greenpeace, a carioca lança, nesta quinta-feira (25) em Brasília, um livro sobre as experiências que viveu em alto mar. “Sete anos em sete mares” reúne relatos que Bárbara havia escrito em cerca de 50 blocos de anotação, que carregou consigo desde o início da jornada.
O evento ocorre às 19h na livraria Sebinho, na 406 Norte. Ela também vai ministrar um workshop com o tema “Empreendendo em causas transformadoras” na sexta (26), no espaço Co-Piloto, na 306 Sul. Bárbara é co-fundadora da Liga das Mulheres pelo Oceano.
Capa do livro “Sete anos em sete mares”, da fotógrafa, documentarista e ativista Bárbara Veiga — Foto: Bárbara Veiga/Divulgação
A luta pela preservação do meio ambiente e da vida marinha começou aos 14 anos, mas foi em 2006 que ela participou da primeira expedição pelos mares, à bordo de um barco do Greenpeace. Três anos depois, ela e o então companheiro compraram um veleiro de segunda mão na Malásia. Ao todo, foram sete anos entre ondas, tempestades e litorais.
“Passei por 80 países desde o começo. À bordo do veleiro, cruzei o Oceano Índico, passando pelo Golfo do Áden, que separa o Iémen da Somália, até o Mar Vermelho e chegando no Mediterrâneo”, disse ao G1.
“A vida no mar é muito intensa. Se tem algum problema, você precisa resolver na hora. Não tem uma amiga para ligar.”
No caminho, a ativista se deparou com pesca ilegal, caça a baleias, confrontou um meio predominantemente masculino, foi presa duas vezes e, mesmo assim, não desistiu de lutar pelas causas de impacto socioambiental.
“Me impressionou conhecer sobreviventes do tsunami no Sri Lanka, uma família que havia perdido dois parentes e estava se restaurando emocionalmente. Não tinham absolutamente nada.”
A fotógrafa, documentarista e ativista Bárbara Veiga — Foto: Bárbara Veiga/Reprodução
A autora disse ao G1 que embarcou na aventura como uma “jovem apaixonada pela vida” e que não tinha pretensão de escrever um livro sobre a experiência. “Nem sabia que que ia durar sete anos.”
“Quando voltei da jornada, revisitei as escritas e me emocionei. Foi duro e lindo ao mesmo tempo, porque foram memórias fortes. Com o tempo, a gente esquece a riqueza de detalhes, então que bom que eu tinha esses cadernos.”
Uma das experiências mais marcantes, segundo Bárbara, foi quando piratas se aproximaram do veleiro e, por pouco, não entraram no barco. Diferente do que ela poderia imaginar, porém, os homens não tinham intenção de saquear a embarcação ou cometer qualquer tipo de crime. Ao contrário, pediram ajuda.
Ela e o ex-companheiro tinham ancorado o veleiro a cerca de 35 milhas da costa – o equivalente a 56 quilômetros – e estavam um tanto afastados do barco praticando mergulho quando ela ouviu, debaixo d’água, o barulho de um motor. “Fiz sinal para gente subir e vi um barco se aproximando.”
“Subi no veleiro enquanto o barco se aproximava e corri para vestir uma burca que guardava por segurança, porque eu estava de maiô. Vi quatro homens com aspecto de desnutridos, com trapos de roupas sujas e peguei uma cesta com comidas secas e uma caixa de leite de amêndoas.”
“Tentei fazer contato com outra embarcação que eu sabia que faria aquele trajeto, mas ninguém me respondeu”, contou ao G1. “Entreguei a cesta meio atrapalhada com a burca e notei que um dos homens parecia ser o líder do grupo.”
“Ele estava com um pé no barco deles e outro no meu veleiro.”
“Ele pegou a cesta e eu fiquei observando se havia armas ou algo nocivo com eles. Foi quando ele começou a molhar a mão na água e mostrar com gestos que estava com uma infecção na genitália.”
“Nós não tínhamos uma língua em comum, então respondi por gestos. Peguei uma caixa de antibióticos que tinha e mostrei que ele precisava tomar um de dia e outro de noite. Era só o que tinha. O que mais eu podia fazer?”
“Depois disso, foi um momento de silêncio, troca de olhares profundos, daqueles que te penetram.”
“Eles subiram a âncora do barco deles, o homem com quem havia me comunicado tirou o pé do meu veleiro e fiquei observando aqueles homens até eles sumirem na linha do horizonte, repensando minha vida.”
Pela terra e pelo mar
Bárbara Veiga deu o primeiro passo como ativista aos 14 anos. Na época, ela costumava fazer trilhas pelas praias mais afastadas do Rio de Janeiro com os amigos e foi surpreendida pela quantidade de lixo que encontrou pelo caminho.
Ainda adolescente, ela criou grupos de limpeza das praias e, aos poucos, passou a integrar o corpo de voluntários de organizações não governamentais dedicadas à proteção da natureza.
Em 2006, quando tinha 22 anos, Bárbara foi convidada pelo Greenpeace a participar de ações na Amazônia. “Fomos colher provas para denunciar uma empresa norte-americana que atuava ilegalmente na região, desmatando áreas para pastagem e plantação de soja.”
Depois disso, o trabalho da fotógrafa migrou para os mares. Dentro do Greenpeace, ela recebeu um novo convite, dessa vez para defender a vida das baleias – alvos da caça ostensiva no Japão.
“Existia um mercado obscuro que lucrava R$ 250 mil dólares por baleia”, disse ao G1. “No final do ano passado, a comercialização foi liberada, depois de tantas décadas dessa venda velada. Imagina a minha preocupação?”
Campanha da fotógrafa Bárbara Veiga por dois anos, a bordo do navio Steve Irwin para uma missão da ONG Sea Shepherd em proteção as baleias, que virou a série de TV Whale Wars do Discovery Channel. — Foto: Bárbara Veiga/Reprodução
Ela também atuou, durante dois anos, na Antártica com a Sea Shepherd, uma ONG norte-americana dedicada à proteção da vida marinha. “Em média, são assassinadas de 500 a 800 baleias por temporada, geralmente de dezembro a março, que é quando elas estão em migração.”
“Essa matança gera um desequilíbrio da diversidade marinha sem precedentes, com extinção de espécies. Isso não é nenhuma novidade.”
A última missão de Bárbara foi em 2014. Atualmente, ela trabalha principalmente como fotógrafa e documentarista, viajando e, claro, ainda visitando os mares. Ela segue como colaboradora do Greenpeace.
Programe-se
Lançamento ‘Sete anos em sete mares’, de Bárbara Veiga
- Data: 25 de abril
- Hora: 19h
- Local: Livraria Sebinho – 406 Norte, Bloco C, Loja 44
- Entrada gratuita
Workshop sobre empreender em causas transformadoras, com Bárbara Veiga
- Data: 26 de abril
- Hora: 19h às 21h
- Local: Espaço Co-Piloto – CLS 306, Bloco A, Loja 33 (sobreloja)
- Ingresso: R$ 20