Em um trecho, presidente da Casa cita ausência de ‘deputado secretário’.
Outra voz pede uma ‘divisão igual do bolo’; vazamento é ‘grave’, diz Celina.
Áudios gravados durante uma reunião de deputados distritais com o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, e divulgados na internet mostram parlamentares fazendo suposta cobrança de cargos na administração pública. Nas gravações, os deputados falam em “repartir o bolo por igual” e questionam a inexistência de “secretários deputados”. Os trechos foram publicados no último sábado (19).
A presidente da Câmara Legislativa do DF, Celina Leão (PDT), diz que a reunião ocorreu em maio, no gabinete do governador, e que o vazamento será investigado. Segundo ela, 11 distritais e pelo menos 2 secretários estavam com Rollemberg na reunião “grampeada”.
“Nós já pedimos abertura de investigação ao Ministério Público, à Polícia Civil e à Polícia Federal, para acompanhar. Se você parar pra pensar, é um caso muito grave, dentro de um gabinete, da sala do governador”, declarou Celina em entrevista à TV Globo. Ela diz ter reconhecido a própria voz em uma das gravações.
O secretário de Relações Institucionais do DF, Marcos Dantas, afirmou ao G1 que o grampo é “lamentável”. “A gente lamenta muito tudo isso. Não é nossa prática ficar ‘arapongando’, gravando as pessoas. Eu estava nessa reunião na sala do governador. O que foi colocado foi um pedido para indicar deputados para o Executivo, o que não vejo nenhum problema”, disse Dantas.
‘Classe política’
No trecho atribuído a Celina Leão, a parlamentar fala sobre a ausência de parlamentares no primeiro escalão do Executivo. O nome e a voz do interlocutor não aparecem no áudio, mas Celina se refere a ele pelo termo “senhor”.
“A classe política, querendo ou não, precisa estar presente no governo do senhor. O senhor não tem um secretário deputado. Um secretário deputado. Tô falando que pode ser deputado federal, pode ser deputado local. Querendo ou não, a classe política tá fora do governo”, afirma Celina no áudio.
“Eu falei uma coisa para o senhor e volto a repetir: o senhor é bom demais. Coração bom demais. ‘Não, vai lá, eu vou deixar você fazer o trabalho político do jeito que você quiser, eu te dou liberdade.’ […] Se a gente não tiver uma pauta com o senhor, a Câmara vai arrumar a pauta dela”, continua a gravação.
No mesmo trecho, Celina fala que as negociações se dariam “dentro de uma filosofia de correção, sem fatiar”. “Sem rebaixar a classe política dessa forma, colocando uma participação de ideias, eu acho que o senhor vai conseguir um ambiente harmônico com todos nós”.
‘Dividir o bolo’
O segundo áudio, supostamente da mesma reunião, é atribuído ao deputado Juarezão (PRTB), estreante na Câmara Legislativa. A voz gravada fala que “o bolo tinha que ser dividido por igual” entre os distritais.
Questionado pela TV Globo, o parlamentar não confirmou a autoria das declarações. “Não me lembro. Tenho que ver o áudio para saber se fui eu”, disse. A voz captada na gravação fala sobre melhorias em Brazlândia, reduto eleitoral do político.
“O comandante da PM em Brazlândia riu da minha cara antes de ontem, no telefone: ‘Duvido se vai acontecer’. Quando eu falei com Marcão [Dantas], ele me ligou e falou: ‘Juarezão, vai vir 20 PM pra Brazlândia'”, diz o áudio.
“Eu quero sim, queria que o senhor dividisse o bolo com os deputados por igual. Porque dizem que tem deputado que deixa secretaria e tem mais não sei o quê. Então, eu só queria isso e acho que todos vão concordar, porque o bolo tem que ser dividido por igual”.
O pedido continua. “Se o senhor deu um pra mim, tá, dê um pra ele, um pra ele, um pra ele. O Marcão controla esse trem bem controlado. Por isso que eu acho que a base tá meia complicada [sic]. […] Na minha cidade, tudo que eu preciso eu ligo, falo com o Marcão, falo com o senhor, mas na questão da Câmara, divide o bolo por igual.”
“Se uns pegou muito [sic], nós vamos chamar aqui, agora, todo mundo e vamos sentar. Quem deu a ideia foi o Juarezão. Eu acho que é desse jeito que funciona. E outra coisa: quem pegou muito, meus companheiros, vai ter que voltar e entregar alguns cargos para alguém”, afirma a voz captada na gravação.
g1