Segundo o relatório, a retração da economia afetou especialmente os setores da economia voltados para o mercado interno
Brasília – A recessão tem afetado a economia brasileira, mas o quadro não tem se propagado no sistema financeiro. A avaliação consta do Relatório de Estabilidade Financeira (REF) divulgado pelo Banco Central.
“As consequências desse período turbulento não têm se propagado de forma tão acentuada para o sistema financeiro”, cita o documento. O BC reconhece que há riscos no horizonte, mas o sistema financeiro segue resiliente.
A retração da economia afetou especialmente os setores da economia voltados para o mercado interno, cita o BC. “Como consequência, por exemplo, os requerimentos de recuperação judicial em 2016 foram recordes na série iniciada em 2012.
Esse cenário contribuiu para deterioração na carteira de crédito a empresas não financeiras nos últimos doze meses”, reconhece o BC.
Ainda sobre as empresas, o documento cita que “quanto aos efeitos da Operação Lava Jato, a atualização das simulações de contágio mostra um resultado em linha com o apresentado no Relatório de outubro de 2015”.
No documento, o texto cita que as simulações indicam que nenhuma instituição ficaria insolvente.
Sobre as pessoas físicas, o BC diz que a qualidade da carteira de crédito também piorou, “mas tendências favoráveis, na margem, para as condições de emprego e renda trazem perspectivas de melhorias à frente”.
O relatório nota ainda que o sistema financeiro tem exposição aos governos regionais, cuja capacidade financeira agravou-se em 2016. Mesmo assim, o documento não cita preocupação e diz que os bancos estão “adequadamente preparados para suportar eventuais perdas”.
“Além disso, ações reparadoras para as finanças dos Estados estão sendo discutidas com a União”, cita o documento.
Apesar da redução do crédito e do aumento da produção, “os resultados dos testes de estresse demonstram a resiliência do sistema financeiro, que dispõe de liquidez e capital suficientes para absorver choques”.
Estoque de crédito
O REF referente ao segundo semestre do ano passado avalia que o estoque de crédito deve continuar em declínio e os ativos problemáticos em ascensão no curto prazo.
“A materialização do risco de crédito a empresas tem sido desafiadora para a estabilidade financeira no período recente. A queda do crescimento da carteira aprofundou-se com o declínio da atividade econômica, as altas taxas de juros e a maior seletividade por parte das instituições financeiras”, afirma o documento.
O BC destaca que os ativos problemáticos na carteira de pessoas jurídicas cresceram em consequência da materialização do risco de crédito, passando de 4% do crédito para empresas em dezembro de 2014 para mais de 8% em dezembro do ano passado.
“Ao mesmo tempo, baixas para prejuízo ocorreram de forma intensa em 2016 e atingiram o maior nível desde 2011”, diz o relatório. “O risco materializou-se principalmente no crédito concedido a grandes corporações”, completa o texto.
Ainda assim, o BC considera que o sistema bancário tem demonstrado estar preparado para lidar com esse cenário complexo e para se ajustar a eventual aumento de risco.
“Apesar da materialização do risco, a provisão para cobertura de ativos problemáticos tem aumentado e está compatível com o perfil de risco dessas carteiras, o que minimiza a possibilidade de dano à estabilidade do sistema”, pondera a autoridade monetária.