Última vez no DF com a banda foi ‘show da confusão’ no Mané, em 1988. ‘Lembrar da turma, momentos bacanas, ligar modo memória’, afirma Bonfá.
“Estamos indo de volta pra casa”, diz um trecho de “Por enquanto”, faixa do disco de estreia da Legião Urbana, lançado há 31 anos e que rendeu recentemente uma edição especial e uma turnê comemorativa com os integrantes remanescentes. A celebração do primeiro disco vai permitir a Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá subir ao palco novamente sob o nome “Legião Urbana” na cidade onde tudo começou, Brasília, a “casa” da banda.
O baterista e o companheiro Dado moram no Rio de Janeiro desde a época em que estavam na estrada ao lado de Renato Russo. Nos últimos anos, o guitarrista costuma visitar mais a capital do que o colega.
O show “Legião Urbana XXX”, que acontece em 7 de maio no Net Live Brasília, será o primeiro de Bonfá e Dado no Distrito Federal, usando o nome da banda que os projetou, desde o “show da confusão”, no Mané Garrincha, em 18 de junho de 1988.
Na ocasião, um grande tumulto se formou depois que a banda decidiu deixar o palco após 50 minutos de música. Um fã invadiu o local de apresentação e agarrou o Renato no meio da música “Conexão amazônica”.
Antes, bombinhas e outros objetos foram atirados contra os músicos. O público começou a promover um quebra-quebra e a entrar em confronto com a Polícia Militar. Mais de 50 mil pessoas lotavam o estádio. Muitos acabaram entrando sem pagar.
Depois daquela noite, os legionários remanescentes voltaram a se apresentar juntos no DF e até tocaram sucessos da banda, mas não usando o nome da Legião.
“O show do Mané eu apaguei da memória. A gente já voltou a tocar junto em Brasília depois disso, eu e o Dado, no Porão do Rock, junto com a Plebe [Rude]”, diz o baterista.
Canções que sustentam
A expectativa de Bonfá é de que o público “de casa” receba a banda com astral parecido com o que ele, Dado e equipe têm encontrado em outras cidades. Cada lugar tem uma energia diferente, mas sempre especial, diz. Segundo ele, as plateias se transformam assim que o grupo começa a tocar.
“A gente está com uma banda maneira, todo mundo se divertindo adoidado, revivendo o melhor dos anos 1990, 1980. Tem o discurso, a força da música, uma galera nova indo aos shows, esse contexto novo.”
A renovação do público da Legião é destacada pelo músico. Ele fala sobre a presença de diferentes gerações de fãs nos shows, de “pais e filhos” que cantam juntos todas as composições, até mesmo as menos conhecidas, como “Dezesseis” – uma das canções com maior número de referências ao DF, com menções ao Lago Norte, Asa Sul, Sobradinho e UnB.
“Os netos já estão indo aos shows”, afirma o baterista, que também já é avô e diz que tem se divertido tanto quanto o público com a turnê.
Para Bonfá, as letras de 30 anos atrás continuam a fazer sentido, assim como a sonoridade permanece moderna. “Você ouve ‘Índios’, ‘Faroeste Caboclo’, é atemporal”, declara.
Apesar dessa característica, o músico diz que o passar dos anos ajudou a compreender melhor o trabalho, que ganha volume com os novos colegas de palco. “A gente está com uma puta banda e tem maior propriedade sobre toda a obra, a gente entende um pouco melhor. A gente era jovem demais.”
Bonfá e Dado dividem o palco com o guitarrista Lucas Vasconcellos, o baixista Mauro Berman, o tecladista Roberto Pollo e o ator e cantor André Frateschi. “No palco a gente vê os estilos de cada um. As músicas são mais bem executadas, é uma coisa completamente nova, dá um puta prazer”, afirma o baterista. “É uma felicidade de viver o momento com a galera. Cada um tem sua história, tem um entrosamento foda, toda a equipe. As músicas ganham uma energia diferente.”
Legião Urbana
O show que comemora os 30 anos de lançamento do primeiro LP da banda é dividido em duas partes. Na primeira, o álbum celebrado é tocado na íntegra e na ordem original. O disco gravado em 1985 traz sucessos como “Geração Coca-Cola” e “Será”, “Soldados” e “Por Enquanto”.
Depois do intervalo, a banda apresenta hits dos outros discos da carreira, como “Pais e filhos”, “Índios”, “Há tempos”, “Tempo perdido”, “Eu sei”, “Meninos e meninas”, “Angra dos Reis”, “Quase sem querer”, “Faroeste caboclo”, “Perfeição” e “Que país é este”.
“Em ‘País e filhos’ eu saio da bateria e vou cantar lá na frente. Na batera, o máximo que vejo são os meus pratos. Cantando ali é muito bacana, diferente. ‘Ainda é cedo’ eu canto tocando batera, o Dado também canta. Encaro a Legião como uma comemoração”, diz Bonfá.
Petróleo do futuro
Novas incursões pela obra da Legião não são consideradas no momento pelo baterista. Por enquanto ele permanece na estrada com o grupo é tem a ideia de tocar seus projetos musicais.
Um deles é em companhia do filho e também músico João Pedro. O trabalho mistura música e cachaça, guitarra e viola caipira, em um mundo etílico com sustentabilidade. O lançamento do projeto deveria ocorrer neste ano, mas foi adiado por causa da proporção que a turnê “Legião XXX” ganhou.
Questionado sobre um possível trabalho biográfico, como o livro lançado no ano passado por Dado, ele diz que pode vir novidade por aí. “Eu penso em fazer algo assim, como desenhos [contando a história dele e da banda]. Tenho anotações, às vezes fico viajando em algo assim. Quem sabe?”