Uma disputa entre donos de dois postos de combustíveis de Santa Maria, no Distrito Federal, fez com que o preço da gasolina caísse para menos de R$ 2,80 o litro nos estabelecimentos. A “promoção” começou na última quinta-feira (2) e não tem previsão para terminar, segundo os gerentes de ambos os comércios.
Nesta segunda (6), o litro da gasolina era vendido a R$ 2,79 – o preço médio em Brasíliaé de R$ 3,55, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). O gerente de um dos estabelecimentos diz que o preço dos combustíveis começou a cair, dia após dia, depois da discussão entre os proprietários e a mando deles. Na terça, o valor era R$ 2,89.
Gerente do posto na avenida das quadras 400, Wellinton Ribeiro afirma que a briga teve início depois que o dono resolveu aplicar em Brasília o preço praticado em um estabelecimento que também pertence a ele, em Goiás.“O preço médio lá é R$ 3,26. Ele quis botar esse preço aqui, mas o dono de outro posto não aceitou, e eles discutiram.”
A direção do outro posto, que fica na entrada deSanta Maria, na avenida Alagados, não confirma a desavença. “Nós conseguimos um desconto com o nosso fornecedor e estamos vendendo a preço de custo, como uma promoção para fidelizar o nosso consumidor”, disse a gerente, Adeilza Silva. Questionada sobre se o desconto tem ligação com o preço do concorrente, ela disse que “houve a redução para não perder os clientes.”
Ambos os postos registraram uma alta na venda de combustível. A reportagem constatou que os motoristas permaneciam até 30 minutos na fila para abastecer. Segundo Ribeiro, o movimento aumentou quatro vezes desde que os preços caíram. “Recebíamos dois caminhões de 30 mil litros por semana. Desde quinta, já recebemos oito”.
Adeilza também conta que a reposição do estoque está mais frequente. “Só hoje [segunda] recebemos dois caminhões, e ainda está previsto para recebermos mais dois até o fim do dia.”
“Eu estou trabalhando para que todo o estoque que recebermos hoje tenha esse preço. Quando ele acabar, poderemos voltar ao preço normal. Mas posso ter uma nova conversa com os distribuidores e manter o preço por um pouco mais de tempo”, disse Adeilza.
Ribeiro afirmou que vai estender a cobrança baixa. “O preço vai continuar até o outro posto aumentar”. O gerente disse que o posto já tem prejuízo pela ação, mas que “não mudará o preço até que o concorrente também o faça.”
Aumento no movimento
No meio do “fogo cruzado”, o consumidor comemora. Acostumado a pagar por seguidos aumentos, muitos se surpreenderam com o preço reduzido. Alguns acreditam que depois o preço aumentará além do que é cobrado nos demais postos.
Empresário no ramo de confecções, Anival Borges, de 71 anos, acredita que o aumento vai ser ainda maior depois do fim da disputa dos donos de postos. “Agora eu acredito que vai passar de R$ 4 o litro. Vou fazer economia agora, mas suspeito de que não terei isso nos próximos dias”.
O revendedor Francisco Ambrósio, de 39 anos, conta que precisa do carro para trabalhar, e que se o preço fosse sempre esse, conseguiria economizar um terço do que gasta hoje com combustível. “Gasto, em média, R$ 1,5 mil por mês com gasolina. Se fosse nesse preço, minha economia poderia ser de R$ 500, que serviria pra comprar outras coisas para minha casa.”
O gerente Welliton Ribeiro disse que a redução tem atraído moradores de várias regiões do DF e Entorno. “Já teve gente de Vicente Pires, Gama, Recanto das Emas, Valparaíso [GO]. Muita gente ficou atraída pelo preço”. O bombeiro Rildo Tenório, de 48 anos, disse que avisou a todos na família. “Fiquei sabendo por amigos, e já avisei todos os meus amigos e familiares. Meu filho, que mora no Gama, vai vir só para abastecer aqui.”
Esse preço atingiu também quem costuma usar o transporte público. A vendedora Jorlândia Martins, de 37 anos, diz que costuma usar o BRT para ir ao trabalho, mas, ao saber do preço da gasolina, tirou o carro da garagem para ter um conforto maior.
“Quando uso o BRT, sempre vou no aperto, mas ia porque economizava no combustível. Com esse preço, encho o tanque e gasto menos no fim do mês. É uma alternativa ao uso do transporte público”, declarou.
Segundo o Sindicombutíveis, que representa os donos de postos na capital federal, cada dono é livre para cobrar o preço que achar adequado. A instituição também afirmou que não tem conhecimento de nenhuma desavença entre os seus representados.