Manobra impede escolha de relator e presidente da CPI que investigará irregularidades na rede de Saúde
Aproveitando uma brecha no regimento da Câmara Legislativa e uma aliança circunstancial com o Partido dos Trabalhadores, a base governista conseguiu adiar a definição do presidente e do relator da CPI da Saúde. O movimento foi executado pelo líder do governo, deputado distrital Julio César (PRB), o vice-líder, Roosevelt Vilela (PSB), em parceria com o líder do PT, Wasny de Roure. Com a estratégia, Rollemberg conseguiu uma vitória simbólica sobre o Bloco Popular Solidário Social, mais conhecido como o Blocão construído pela presidente da Casa, deputada Celina Leão (PPS).
Tendo a força de oito distritais descontentes com o Palácio do Buriti, o Blocão planejava abrir ontem a comissão parlamentar tendo total controle dos rumos da investigação, que tem potencial para atingir o governo de Agnelo Queiroz e também a gestão Rollemberg.
A princípio a CPI teria cinco membros. Dois definidos pelo Blocão: Cristiano Araújo (PSD) e Robério Negreiros (PSDB). Outros dois viriam do Bloco Amor Por Brasília, cujos nomes seriam de Wellington Luiz (PMDB) e Bispo Renato (PR). E o deputado autor do requerimento para a comissão, Lira (PHS).
No entanto, Wasny observou que Lira faz parte do Blocão e portanto o grupo teria três cadeiras, o que seria uma infração à regra da proporcionalidade. Como o PT havia assinado o requerimento para a abertura da comissão, o parlamentar solicitou uma das cadeiras. A presidente da Câmara tentou rebater o argumento declarando que o PT precisaria de quatro deputados para ter direito de participação. São três.
Julio César e Roosevelt interviram cirurgicamente, defendendo o pleito. Argumentaram que o bloco governista Brasília Em Evolução teria o direito à escolher a vaga em aberto e declararam que estariam dispostos à ceder o espaço ao PT. Buriti e PT então alegaram que a Casa não estaria respeitando o direito da minoria de poder se manifestar.
Proposta agora é criar mais vagas na comissão
Celina Leão remarcou a eleição da presidência e da relatoria da CPI para as 10h desta sexta-feira, no plenário da Câmara. Mas antes disso, os parlamentares terão que traçar qual será o quadro final de participantes. A questão está distante de um consenso. Enquanto o Buriti prefere que a comissão mantenha as cinco cadeiras, o Blocão defende a inclusão de novos assentos para receber o PT e até o bloco governista.
“A gente vai pensar de que forma que nós vamos contemplá-los. A gente vai abrir uma ou duas vagas. A gente vai discutir isso com os outros membros da CPI. Eu acho que para ter harmonia na Casa, acho que a gente também tem que respeitar o bloco do PT, que tem três deputados. Então a gente tem que ter a grandeza para tentar flexibizar um pouco”, comenta Celina. A presidente da Câmara, reforçou que em nenhum momento o PT teve quórum para participar.
No meio da discussão, o deputado Bispo Renato (PR) afirmou que não veria problema em deixar a CPI para abrir espaço para o PT. Wasny de Roure ressaltou que a interpretação do regimento sempre é polêmica. “Preservar a proporção é uma demonstração de compromisso com a coisa pública, com o trabalho sério e com a credibilidade que a instituição precisa e com a riqueza da diversidade partidária que nós temos na Casa”, explica o líder do PT.
Inicialmente, o governo prefere que a CPI tenha cinco membros, conforme o requerimento original redigido por Lira. Como a primeira lista de nomes passou pelo crivo do Blocão a alteração de um nome forçaria a uma revisão das estratégias do grupo e seria ainda mais uma derrota para grupo, ainda no começo da comissão.
Agora, eleição direta
1 – Com uma nova postura nas relações com o Legislativo, que busca privilegiar a estratégia, o Buriti deverá enviar o projeto para a eleição direta de administrações regionais para a Câmara na próxima semana. O trâmite está atrasado e é uma das principais bandeiras de campanha de Rollemberg. Neste caso, a aprovação em plenário é fundamental para o socialista.
2 – Hoje pela manhã, Rollemberg planeja reunir líderes comunitários de todo o DF para apresentar as linhas gerais do projeto que abrirá a possibilidade de escolha dos administradores pelo voto popular. O evento será no Palácio do Buriti. A ideia é capitalizar apoio dos personagens diretamente interessados antes de encaminhar o texto para o Legislativo.
3 – A aprovação do projeto será uma prova de fogo para Rollemberg e a nova filosofia da base governista. Tradicionalmente, os distritais indicam os administradores regionais para acomodar seus respectivos grupos políticos. Emplacar as eleições dependerá de muito jogo de cintura.