A Bloomberg anunciou ontem que a Uber começaria a testar já neste mês uma pequena frota de carros autônomos na cidade de Pittsburgh, onde possui um centro de pesquisa. Embora trate-se de um pequeno teste, a novidade já está deixando os motoristas do serviço apreensivos, segundo uma reportagem do Guardian.
Cynthia Ingram, uma assistente jurídica com 30 anos de experiência que começou a dirigir para a Uber após perder o emprego, se surpreendeu com o quão cedo a tecnologia chegou. “Eu imaginei que ainda levaria pelo menos mais uns dois anos até que isso fosse realmente implementado, e eu já estaria aposentada até lá”, opinou.
Guardando o lugar
Rob Judge, que dirige para a Uber há apenas três meses, também se preocupou com a possibilidade. “Para mim, isso não é um trabalho de longo prazo. Mas para muitas outras pessoas com quem tive contato, isso [dirigir para a Uber] é seu único meio”. Judge também se mostrou insatisfeito com a postura da empresa. “Parece que nós estamos apenas guardando o lugar até que a tecnologia chegue”, disse.
Substituir os motoristas por computadores ainda poderia ser visto como algo negativo pelos clientes do serviço, na opinião de Judge. “Isso tem o potencial de eliminar aquela interação humana, e essa é a melhor parte de toda a experiência”, argumentou.
Sabotagem
Grupos fechados do Facebook aos quais o Guardian teve acesso mostravam os motoristas do serviço se revoltando e propondo, em tom jocoso, maneiras de sabotar os carros autônomos da empresa. “Acho que a gente deveria encher a cara e vomitar nos carros autônomos… o próximo passageiro terá uma bela surpresa”, sugeriu um deles. “Subir em uma ponte, esperar que um deles passe embaixo e jogar tinta no telhado”, propôs outro.
Judge não propôs nenhum tipo semelhante de sabotagem, mas conseguiu entender a perspectiva daqueles motoristas. “Acho que muitos de nós temos esperança de que haja alguns obstáculos que consigam atrasar esse processo”, confessou.
Renda básica
O diretor da Pittsburgh United, Alex Wallach Hanson, considera que já é necessário pensar em políticas públicas prevendo esse futuro. A Pittsburgh United é uma coalizão de grupos trabalhistas e comunitários que defende os interesses das famílias trabalhadoras da região.
“Se parte da economia da inovação é substituir motoristas por tecnologia, precisamos pensar em soluções políticas que possamos implementar, como renda universal básica, para garantir que todos da nossa comunidade tenham uma vida que lhes possibilite sustentar suas famílias”, argumenta Hanson.
Ele consegue perceber possíveis vantagens para os clientes do serviço, mas coloca os interesses dos trabalhadores em primeiro lugar. “Isso é uma coisa boa para a nossa cidade, mas nós precisamos assumir uma posição de liderança para garantir que ela beneficia todos da nossa economia”, defendeu.
Opinião divergente
Por outro lado, Eric Lightfoot, que também é motorista da Uber, se diz empolgado com o futuro de carros sem motoristas. “Nos Estados Unidos, não dá mais pra todo mundo ter carro. Isso tem que acabar. Se isso é um dos caminhos possíveis [para mudar essa situação], então que assim seja. Não me incomoda nem um pouco”, declarou.
Nem mesmo a proximidade da mudança apavora Lightfoot: “Se acontecer amanhã e eu ficar desempregado, eu arrumo outro emprego. Eu dou um jeito”, disse. Por outro lado, o motorista não pretende entrar num carro autônomo tão cedo. “Eu vou deixar as cobaias acertarem esse negócio todo antes de eu entrar em um”, disse.