Beatriz Angélica Mota, criança de 7 anos morta a facadas dentro de um colégio particular em Petrolina em 2015, foi assassinada pelo então morador de rua Marcelo da Silva, de 40 anos. A menina teria se assustado ao vê-lo com uma faca, e o crime teria sido cometido para silenciá-la, segundo o secretário de Defesa Social, Humberto Freire.
Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (12), no Recife, Humberto Freire falou sobre a demora em apontar um autor para o assassinato, que ocorreu no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora.
Na terça (11), seis anos, um mês e um dia depois do caso, a SDS disse que identificou o morador de rua Marcelo da Silva como o assassino de Beatriz. Ele foi indiciado pelo crime no mesmo dia.
O anúncio da autoria do crime ocorreu somente 15 dias depois que os pais de Beatriz percorreram durante 23 dias mais de 700 quilômetros a pé, entre Petrolina e o Recife, para pedir justiça.
“Temos a motivação alegada se coadunando [coincidindo] com a dinâmica dos fatos que, ao haver contato do assassino com a vítima, ela teria se desesperado e por isso foi silenciada a golpes de faca”, declarou o secretário.
Participaram da coletiva o secretário de Defesa Social, Humberto Freire; o chefe da Polícia Civil, Nehemias Falcão; a coordenadora o do Central de Apoio a Promotorias (Caop Criminal), Ângela Cruz; e o gerente geral da Polícia Científica, Fernando Benevides, que tomou posse do cargo neste mês.
Nenhum dos delegados que integraram a força-tarefa criada em 2019 para investigar o caso participou da entrevista coletiva.
Como a coletiva foi restrita a jornalistas, os pais de Beatriz, Lucinha Mota e Sandro Romilton não puderam participar, mas foram chamados pelo secretário para uma conversa antes da entrevista. A mãe da garota afirmou que precisa de mais elementos e informações para considerar que o caso está solucionado (saiba detalhes mais abaixo).
Evidências
Em 2021, a polícia começou a monitorá-lo, junto com outros 124 condenados do sistema prisional, depois de um refinamento dos dados genéticos e melhoria do material encontrado na faca cravada no tórax de Beatriz.
No final de 2021, surgiu o primeiro indicativo que apontava o DNA de Marcelo como sendo o mesmo encontrado na faca.
“Surgiu o primeiro indicativo ainda em 2021 e, a partir desse indicativo, diversas outras análises são necessárias para comprovação”, explicou Humberto Freire.
Na primeira semana de janeiro, Marcelo da Silva foi levado ao Fórum de Trindade, também no Sertão, para um procedimento ligado a outro crime pelo qual responde. Segundo o secretário Humberto Freire, ele já foi preso ao menos três vezes por estupro de vulnerável e crime contra o patrimônio.
Foi nessa ida ao fórum que a Polícia Científica coletou, mais uma vez, o material genético do suspeito e conseguiu concluir o confronto entre os materiais genéticos.
De acordo o secretário de Defesa Social, o DNA de Marcelo teve total compatibilidade com o material genético presente no cabo da faca encontrada no corpo de Beatriz. Depois desse exame, o suspeito prestou depoimento em que, segundo diz a polícia, confessou o crime à força-tarefa criada para conduzir as investigações.
“Ele estava transitoriamente no local e entrou na escola para conseguir dinheiro para sair da cidade. Pela narrativa, [o crime] não era direcionado a uma pessoa específica. Beatriz foi a pessoa que ele encontrou e que, diante do susto, ele a silenciou a facadas”, disse Humberto Freire.
Em 2017, a polícia divulgou imagens de um homem suspeito de ter sido o autor do crime. Segundo a SDS, trata-se de Marcelo da Silva.
O secretário afirmou, também, que o número de facadas dadas em Beatriz mudou ao longo das perícias. “O laudo tem 42 fotografias de ferimento. Mas, segundo informações, são dez facadas. São 42 fotografias, algumas dela do mesmo ferimento, o que é normal”, declarou.
Humberto Freire disse ainda que, apesar de as investigações seguirem em curso, está certo de que o assassino da menina Beatriz foi encontrado.
“Temos um crime em que o acusado está preso por outro crime de estupro de vulnerável; temos um acusado que, além desse histórico, narrou aos delegados que o interrogaram a dinâmica dos fatos com detalhes. Isso só reforça que há elementos suficientes fazer esse indiciamento”, afirmou.
Família
A mãe de Beatriz, Lucinha Mota, disse que espera que Marcelo da Silva seja, de fato, o autor do crime. No entanto, ela não acredita que a menina tenha sido morta de forma aleatória, mas sim que ela foi escolhida pelo criminoso.
“Eu acredito [que ele seja o autor do crime], pelos elementos que eles apresentaram, que é o exame de DNA, que é incontestável, e as características físicas, mas isso só não é suficiente. Isso é uma fé de mãe, uma fé da família que está desesperadamente em busca de justiça. Então a gente se apega a tudo e a todos os detalhes”, declarou.
Lucinha afirmou ainda que acredita que o assassino de Beatriz tenha agido a mando de alguém, e que problemas do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora podem ser a motivação.
“Todo crime tem uma motivação, e a forma como foi praticada é muito violenta, praticada com muito ódio”, declarou. “Nós não tínhamos inimigos, não tínhamos rixa, não tínhamos dívidas, não tínhamos problema nenhum. Mas o colégio tem”, declarou.
Ministério Público
De acordo com a coordenadora do Centro de Apoio a Promotorias (Caop Criminal), Ângela Cruz, o Ministério Público devolveu nesta quarta-feira os autos do inquérito à Polícia Civil, pedindo novas perícias, para que a corporação faça mais considerações, e o caso siga adiante até chegar à Justiça.
Entenda o caso
Beatriz Angélica Mota participava da formatura da irmã, no dia 10 de dezembro de 2015, quando saiu do lado dos pais para beber água e desapareceu. Era 21h59 deste dia, e as imagens deste momento, que foi filmado, são consideradas as últimas feitas da menina com vida.
Pouco tempo depois, o corpo de Beatriz foi encontrado em um depósito desativado de material esportivo, localizado perto da quadra em que ocorria a formatura. Ela foi achada com uma faca cravada na região do abdômen.
Ao longo de seis anos, o Caso Beatriz teve oito delegados. Desde a data do assassinato, foram realizadas sete perícias. O inquérito acumulou 24 volumes, 442 depoimentos e 900 horas de imagens analisadas.
A investigação ficou com uma força-tarefa formada por quatro delegados, que passaram a comandar as apurações. A identificação do suspeito de ter matado Beatriz foi divulgada seis anos, um mês e um dia depois do crime.
O anúncio da autoria do crime ocorreu somente 15 dias depois que os pais de Beatriz percorreram durante 23 dias mais de 700 quilômetros a pé, entre Petrolina e o Recife, para pedir justiça.
Após a caminhada, os pais da menina se reuniram com o governador Paulo Câmara (PSB), no Palácio das Princesas, sede do governo. O governador afirmou que era favorável ao processo de federalização das investigações.
No mesmo dia, o chefe do Executivo estadual anunciou a demissão do perito Diego Costa, que prestou consultoria ao colégio onde a menina foi morta. Segundo Humberto Freire, ele “comprometeu a função policial” e, por isso, foi exonerado.
Ao longo do processo, um funcionário terceirizado da escola, Alisson Henrique de Carvalho Cunha, teve a prisão decretada por apagar imagens das câmeras de segurança do colégio, atrapalhando as investigações. Segundo a SDS, o material foi completamente recuperado.
Após a identificação e confissão do suspeito à polícia, a mãe da menina, Lucinha Mota, fez uma transmissão na internet para dizer que ainda faltam respostas sobre o assassinato.
Fonte: G1