Dados foram divulgados nesta segunda; até setembro, foram 269 diagnósticos de Aids e outras 567 detecções do vírus. Há cinco homens para cada mulher infectada, diz estudo.
Entre janeiro e setembro deste ano, o Distrito Federal diganosticou, por dia, cerca de três pessoas com o vírus HIV. Relatório divulgado nesta segunda-feira (27) pela Secretaria de Saúde aponta 567 casos detectados e outros 269 pacientes diagnosticados com Aids nesse período.
Segundo o balanço, o aumento dos casos de contaminação pelo vírus HIV é mais acentuado entre jovens de 20 a 24 anos, e entre pessoas com mais de 55 anos. Entre essas duas faixas, a população adulta com idades entre 25 e 54 anos registrou queda na proporção de casos, na comparação entre 2011 e 2016.
O gerente de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) da pasta, Sérgio D’Ávila, diz que é preciso “ampliar as formas de prevenção e comunicação” para que os casos da doença diminuam nas faixas etárias mais preocupantes.
“A gente tem que diversificar as ações de prevenção, e retomar um diálogo muito mais próximo com a comunidade. É preciso perceber que a Aids ainda não tem cura, e que é um grave problema de saúde pública, mas existem formas de enfrentá-la”, diz D’Ávila.
Em 2016, a Secretaria de Saúde do DF notificou 617 novos casos de HIV diagnosticados, além de 319 registros de pessoas vivendo com Aids. Hoje, o governo do DF fornece antirretrovirais – os coquetéis de enfrentamento ao HIV – a cerca de 13,6 mil pessoas.
HIV e Aids
Com o avanço dos tratamentos e da detecção precoce, segundo o governo, a proporção de pessoas soropositivas que chegam a desenvolver a Aids – ou seja, que têm sintomas de enfraquecimento do sistema imunológico – vem caindo nos últimos anos.
Entre 2011 e 2013, por exemplo, o número de pessoas que apresentavam sintomas da Aids era superior ao de casos registrado de HIV. Isso significa que havia uma subnotificação das infecções pelo vírus. A tendência se inverteu e, em 2016, de cada três pessoas diagnosticadas com o HIV, apenas uma já tinha desenvolvido Aids.
Nesse contexto, o diagnóstico precoce continua sendo definidor. “É importante falar que a gente está detectando muito mais casos de HIV do que de Aids. Quanto mais cedo detectar, mais chances de evitar que o sistema de defesa desenvolva a Aids”, diz Sérgio D’Ávila.
O subsecretário de Vigilância em Saúde, Marcos Quito, afirmou que o objetivo é fazer com que o DF caminhe para manter o monitoramento “90/90/90” – estabelecido como meta pela Organização das Nações Unidas (ONU) para cumprimento até 2020.
O termo, na verdade, reúne três metas numéricas ligadas ao HIV: diagnóstico de 90% dos casos existentes, tratamento de 90% dos casos diagnosticados e redução de 90% dos casos tratados a taxas indetectáveis do vírus.
“Hoje, a primeira meta não foi alcançada ainda. A gente estima que, hoje, 75% dos portadores de HIV estão diagnosticados [no DF]. Então, falta ainda melhorar essa parte.”
Dados nacionais
Na última semana, dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontaram que o Brasil obteve avanços no diagnóstico, tratamento e controle do vírus nos últimos quatro anos. Segundo a pasta, hoje, 84% das pessoas vivendo com HIV em todo o país já têm diagnóstico.
“O ministério reconhece que pessoa com carga viral indetectável não transmite o vírus HIV”, explica a diretora do Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis IST, HIV, Aids e Hepatites Virais do ministério, Adele Benzaken.
O Ministério da Saúde estima que 830 mil brasileiros tenham HIV. Segundo o relatório da pasta, 84% foram diagnosticadas com o vírus – o equivalente a 694 mil pessoas – e 72% delas estão em tratamento. Destas, 91% já estão com carga viral suprimida, as chamadas “pessoas indetectáveis”, que, segundo Benzaken, não transmitem o vírus.
“Essas pessoas em tratamento estão no sistema público de saúde, com recurso nacional. Em qualquer outro país do mundo com esse quantitativo de pessoas, há financiamento externo”, destacou Adele Benzaken. “E isso só acontece no Brasil, porque a lei garante que toda pessoa infectada tenha acesso ao tratamento.”
Além da “Meta 90/90/90”, também é intenção do governo federal que o Brasil elimine a Aids até 2030. Segundo Benzaken, para isso acontecer é preciso atingir taxas mínimas de contaminação viral no país, que pode ser alcançanda tanto por políticas de prevenção ao vírus, quanto pelo tratamento regular, que reduz a carga viral no sangue.
“A erradicação só vai acontecer quando tivermos uma vacina.”
Jovens são mais afetados
Apesar dos avanços, analisados sob uma perspectiva geral, a faixa etária de jovens com 18 a 24 anos é a que tem os menores índices, tanto de diagnóstico do HIV, quanto de tratamento e de carga viral suprimida. “Se os jovens não têm carga viral suprimida, eles podem estar transmitindo o HIV”, disse Adele Benzaken.
Segundo ela, este quadro está sendo discutido dentro do Ministério da Saúde para o desenvolvimento de serviços acolhedores que alcancem os jovens. “Muitas vezes eles nem estão transitando na atenção básica. E a gente sabe que a maior parte deles são pobres, negros e não têm informação qualificada. Por isso a importância de unir outras áreas do ministério.”
Benzaken também apontou a importância de que a rede pública de saúde tenha grupos de adesão para que os jovens infectados pelo HIV possam trocar experiência e informações de saúde com outras pessoas na mesma circunstância.
“O maior desafio no Brasil é esse, porque desde 2013 a taxa de abandono e regularidade tem-se mantido a mesma (9%), principalmente entre o grupo de 18 a 24 anos.”
Sobre os motivos que colocam a população mais jovem no grupo de maior risco para contaminação e transmissão do HIV, a diretora explicou que o fator psicológico pode ser determinante.
“O HIV se torna um elemento na vida sexual desse jovem com o qual ele precisa conviver diária e constantemente. É como se tivesse uma figura a mais nos seus relacionamentos e que ele sempre tem que se explicar.”
“Tomar o remédio diariamente é uma reafirmação de que tem o vírus.”
Fonte: G1 DF.