Diálogo foi entre vice do GDF e presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues. Governador diz que gravação visa a prejudicar projeto de OSs na saúde.
O governador Rodrigo Rollemberg disse considerar “chula e leviana” a conversa entre o vice-governador, Renato Santana, e a presidente do Sindicato dos Servidores da Saúde (SindSaúde), Marli Rodrigues, na qual abordam um suposto esquema de propina na administração pública. Rollemberg disse que o vice já tinha lhe alertado informalmente sobre a suspeita, e que o governo investigou, mas não encontrou nada.
“O vice-governador me disse informalmente, uma única vez, que uma pessoa estaria pedindo vantagens para ter liberação de pagamentos na Secretaria de Fazenda. Imediatamente eu peguei esse nome, convoquei o secretário de Fazenda, ele pesquisou e me disse: ‘Olha, não tem ninguém com esse nome, isso aqui é absolutamente desconhecido no âmbito da Secretaria de Fazenda”, disse Rollemberg.
Questionado se confia no vice-governador, Rollemberg foi evasivo. “Olha, eu fiquei muito decepcionado com o teor da conversa. É uma conversa chula, é uma conversa leviana, é uma conversa de baixo nível, e desqualifica os interlocutores”, afirmou.
O governador anunciou que vai à Justiça contra a presidente do Sindsaúde por entender que os áudios não apresentam provas, e sim ilações. Segundo ele, por trás das gravações, há interesses da entidade presidida por Marli Rodrigues.
“O sindicato está se colocando radicalmente contra as organizações sociais [empresas privadas chamadas para participar da gestão da saúde pública]. Ao tentar passar uma imagem para a população de que há qualquer tipo de corrupção no governo, especialmente nessa área, procura tirar a credibilidade do governo”, declarou.
Em nota, a presidente do SindSaúde disse que vai provar todas as alegações dela. O vice-governador afirmou repudiar com veemência ter sido alvo de gravação ilegal e disse que informou ao governador sobre o suposto esquema assim que tomou conhecimento dele.
Repercussão
A divulgação dos aúdios, revelados pela revista “IstoÉ” nesta sexta-feira (15), fez o governador convocar uma reunião de emergência com deputados aliados e o secretário de Saúde, Humberto Fonseca, neste domingo (17). O objetivo era dar explicações sobre as providências tomadas pelo GDF sobre as denúncias. A presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS) também convou reunião extraordinária às 10h desta segunda para discutir o assunto.
No fim de semana, Rollemberg determinou à Polícia Civil e à Controladoria-Geral do DF a abertura de investigação para apurar o suposto esquema de propina. Ele disse que também iria pedir investigação do Ministério Público sobre o assunto conversado entre a presidente do SindSaúde e o vice-governador.
Na conversa, a presidente do sindicato pergunta a Santana se ele tem conhecimento de pagamento de 30% de propina em contratos da Secretaria de Saúde. O vice-governador responde saber de pagamentos de 10% na Secretaria de Fazenda. “Autorizou a pagar 10% de propina”, diz Santana, sem revelar quem teria concordado com o suposto repasse de valores. “Eu não autorizei, mas o assunto chegou para mim”, disse na sequência.
Investigação
O controlador-geral do DF Henrique Moraes Ziller afirmou que as denúncias foram feitas ao governador há três meses, mas que, por “falta de elementos mínimos”, não se instaurou processo à época.
“A única informação concreta que havia era o nome do funcionário que seria da Secretaria de Fazenda. Ele não foi encontrado no quadro do órgão e não houve prosseguimento da investigação.” Por “elementos mínimos”, Ziller menciona, como exemplo, que são necessários contratos, valores concretos do recebimento de propina e nomes de servidores que supostamente estejam envolvidos com atividades ilícitas.
O controlador-geral explicou que, a partir da divulgação do caso, é possível que novos aspectos de supostos esquemas de corrupção surjam para os órgãos fiscalizadores. “O governador Rollemberg quer se liste informações mínimas que possam dar indícios a novas investigações. Na próxima segunda-feira (18) vamos retomar esses procedimentos.”
Questionado a respeito do tempo necessário para apuração, Henrique Ziller afirmou que o prosseguimento da investigação foi um pedido de urgência do GDF. “Obviamente que a apuração irá depender dos elementos que a gente dispuser. Mas o governador pediu que não passe de 30 dias e reafirmou que não compactua com o desvio de recursos públicos”, comentou.