Mais um sonho se encerrou ontem nas pistas do Distrito Federal. Joelson Fernandes, 38 anos, era um ciclista de alta performance e estava treinando na via Estrutural, como fazia todos os dias. Sua rotina de atleta foi interrompida por um criminoso em fuga durante uma perseguição policial. Após ser atingido pelo carro, o esportista foi arremessado a cerca de quatro metros de distância.
O homem acusado de atropelar e matar o ciclista é Genival Pereira da Silva, 47 anos, que cumpria pena em regime semiaberto no Centro de Progressão Penitenciária (CPP), no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). O Correio apurou que ele respondia por um homicídio consumado, um tentado e roubo.
Segundo informações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Genival roubou o carro pela manhã, e à tarde empreendeu fuga em direção à região de Ceilândia.Fontes policiais informaram que o criminoso recebeu R$ 500 para roubar o veículo.
Ao perceber que estava sendo perseguido, Genival perdeu o controle do veículo, atropelou Joelson e bateu em outro carro, ferindo um casal. O ciclista morreu na hora, e as outras duas vítimas foram encaminhadas ao Hospital de Base.
No momento do crime, Genival usava luvas nas mãos para evitar deixar marcas no interior do carro. Ele acabou preso em flagrante e encaminhado para a 8ª Delegacia de Polícia (Estrutural).
Lembranças
Nas redes sociais, Joelson aparece sempre em pódios, com troféus e com sua companheira: a bicicleta. O número de medalhas é incontável. A última grande conquista de Joelson ocorreu em junho do ano passado, em uma competição de 102 km, da Avancini, do Santander. Em 30 de janeiro, ele ficou em segundo lugar na competição 1º Rachão os Monsters 2022, de 50 km.
De acordo com o amigo Sérgio Freitas, 44 anos, também praticante de ciclismo,Joelson era muito comprometido com o esporte. “Foi o oitavo melhor ciclista de Brasília”, afirmou. Sérgio passava pela Estrutural no momento do acidente. Ele contou que, nas últimas semanas, o atleta estava treinando para participar de mais uma competição.
“Um bom filho e um cara alegre”, é assim que Sérgio descreve o amigo. “Não tinha tristeza com ele. Não tinha tempo ruim, estava sempre sorrindo. Todo pedal que a gente ia fazer, ele fazia um vídeo feliz. Parceiro de todo mundo e super do bem. É uma perda grande pra gente”, completou.
Quase diariamente, Joelson passava pelo local onde foi atropelado. Em uma rede social ele registrava seu rendimento. O rapaz, que era vigilante, percorria cerca de 40km todos os dias. Segundo o amigo, ele era muito comprometido com o esporte e também cuidadoso.
Sonho de criança
Irmão mais velho de duas mulheres e filho de mãe solo, Joelson escreveu, em um depoimento no Instagram, que o esporte sempre teve um significado especial na vida dele. De família humilde, o atleta começou a trabalhar muito cedo, como engraxate de sapatos pelas ruas de Jacobina, na Bahia. “As dificuldades que não foram poucas, levaram pra longe de mim o sonho de criança, que era ter uma bicicleta. Aprendi a andar já na minha pré-adolescência. Minha primeira bike não era minha, só que a sensação era de ser o dono”, disse no texto.
Aos 16 anos, trabalhando em uma vidraçaria, ele comprou sua primeira bicicleta. “Chegou o grande dia de realizar o meu sonho de ter a minha própria bike.” O contato com o ciclismo na vida do atleta veio, segundo ele, em uma época muito difícil, quando ele enfrentava o início de uma forte depressão. “A bike foi minha aliada para minha cura. Com a ajuda dela, saí do sedentarismo e turbinei a vontade de viver, me deu qualidade de vida, conheci lugares incríveis, fiz amizades com pessoas que viraram irmãos, me colocou nas competições fazendo de mim um atleta amador”, relatou, num depoimento publicado há uma semana.
Fonte: Correio Braziliense