Além da aura de brilhante poeta e compositor, Caetano Veloso traz consigo, enquanto cidadão, o espírito indomável e contestador dos que se opõem contra os desmandos cometidos pelos poderosos de plantão. Foi assim nos anos de chumbo da ditadura militar, quando escreveu a canção Divino Maravilhoso para Gal Costa cantar na terceira edição do Festival da Record, em 1968. Um dos versos diz: “É preciso estar atento e forte/Não temos tempo pra temer a morte”. Meses depois foi preso e, posteriormente, exilado por determinação do general que presidia o país.
Na criação do repertório para o Meu coco, álbum lançado em dezembro de 2021, uma das músicas selecionadas foi Não vou deixar, que expressa bem a visão do tropicalista em relação ao momento que o país vive atualmente: “Não vou deixar, não vou/ Não deixar você esculachar com nossa história/ É muito amor, é muita luta, é muito gozo/ É muita dor, é muita glória…”.
Meu coco deu nome também ao show com o qual Caetano, perto de completar 80 anos, cumpre turnê por cidades brasileiras. Depois de estrear em abril, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, e se apresentar em Porto Alegre, São Paulo, Salvador, Recife e Rio de Janeiro, o cantor chega a Brasília.
Neste sábado (18/6), às 22h, ele se apresenta no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, com ingressos esgotados. Uma nova data está marcada para 7 de outubro. Em Meu coco, ele passeia por um repertório que o leva visitar várias fases da trajetória artística que vai além de 50 anos, fazendo uma espécie de revisão da obra, que está entre as mais relevantes no variadíssimo espectro da música popular brasileira.
“Muitas vezes sinto que já fiz canções demais. Falta de rigor?, negligência crítica? Deve ser. Mas acontece que desde a infância amo as canções populares inclusive por sua fácil proliferação. Quem gosta de canções gosta de quantidade”, ressalta o artista. “Encanta-me a multiplicidade de pequenas peças musicais cantadas, mesmo se elas surgem a um tempo redundantes e caóticas”, acrescenta.
Caetano, ao elaborar o roteiro do espetáculo se deteve sobre o rico universo de canções que criou em mais de 50 anos de carreira, do qual selecionou as 26 que tem levado ao público. Há desde Avarandado, registrada em Domingo,o seminal LP que dividiu com Gal Costa, em 1967, à músicas do Meu coco, o primeiro em quase 10 anos sem lançar disco de inéditas. Desse projeto, ele selecionou Anjos tronchos, Ciclâmen do Líbano, Enzo Gabriel, Sem samba não dá e a citada Não vou deixar.
Estão presentes no set list os clássicos da importância de Cajuína, Baby, Leãozinho, Lua de São Jorge, Menino do Rio, Muito romântico, Odara, Reconvexo e You don’t know me — essa do disco Transa, gravado no exílio em Londres. A elas se juntam as Araçá azul, Itapoã, Mansidão e Noite de cristal.
Da banda que acompanha Caetano fazem parte Lucas Nunes (guitarra e direção musical), Alberto Continentino (baixo), Rodrigo Tavares teclados), Kainã de Jegê (bateria), Pretinho da Serrinha, Thiago da Serrinha (percussão). O cenário tem a assinatura de Luiz Henrique Sá, a partir de esboço do artista plástico Hélio Eichbauer, morto em 2018.
Meu coco
Show de Caetano Veloso e banda neste sábado (18/6), às 22h, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Lotação esgotada.
Por Correio Braziliense