As mortes relacionadas ao câncer são consequência, em pelo menos um terço dos casos, de hábitos alimentares, como o baixo consumo de frutas e vegetais, da falta de atividade física e do uso de álcool e tabaco, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Uma pesquisa publicada na Diabetologia — jornal da Associação Europeia de Estudos do Diabetes — mostra que pessoas com diabetes tipo 2, cujo desenvolvimento é associado a boa parte desses fatores de risco, apresentam maior taxa de mortalidade em decorrência de tumores do que aquelas que não têm a doença metabólica.
A equipe da University of Leicester e da London School of Hygiene & Tropical Medicine, ambas no Reino Unido, observou que, considerando todos os cânceres, a taxa de mortalidade é 18% maior. Para os tumores de mama, 9%. No caso do colorretal, que tem a obesidade e a ingestão de ultraprocessados como fatores de risco, a taxa é de 140%. Autor da pesquisa, Suping Ling diz que os resultados enfatizam a necessidade de priorizar a prevenção, a pesquisa, a detecção precoce e o tratamento do câncer principalmente em indivíduos mais velhos.
“Especialmente, para câncer colorretal, de pâncreas, de fígado e de endométrio, cujas taxas de mortalidade foram substancialmente maiores em indivíduos com diabetes tipo 2 do que na população em geral”, completa o também pesquisador da University of Leicester. Para esses tipos de tumores, a mortalidade foi quase o dobro da registrada na população em geral.
Segundo a endocrinologista Polyanna Gomes, em pessoas com a doença metabólica, a glicose fica em índices mais altos do que o recomendado e há uma maior oscilação das taxas. Essa condição deixa esses indivíduos mais vulneráveis. “Há um estado metabólico potencialmente inflamatório, o que pode ter uma relação com a maior incidência de câncer, uma vez que as flutuações glicêmicas podem predispor a formação de tumores”, explica.
Na mesma linha, os autores do estudo indicam que os tumores com maiores taxas de mortalidade entre indivíduos com diabetes tipo 2 — de pâncreas, fígado e endométrio — podem estar relacionados a exposições prolongadas aos efeitos do aumento dos níveis de açúcar no sangue, da resistência à insulina e da inflamação crônica. “Não temos ainda essa relação direta do risco de diabetes e câncer, mas o fato de ter sido constatada essa taxa de mortalidade aumentada gera um alerta principalmente para a prevenção. Isso é importante para criar políticas que melhorem o rastreamento”, indica Gomes.
Obesidade mórbida
A equipe analisou dados de 137.804 indivíduos com 35 anos ou mais, diagnóstico recente de diabetes tipo 2 e tempo médio de acompanhamento médico de 8,4 anos. As informações foram colhidas ao longo de 20 anos, entre 1º de janeiro de 1998 e 30 de novembro de 2018. Os cientistas também constataram uma significativa diferença entre a mortalidade por câncer em pessoas com obesidade mórbida e a doença metabólica (5,8%) e aquelas também diagnosticadas com diabetes, mas em outras categorias de peso (todas as taxas abaixo de 1%).
Polyanna Gomes lembra que há uma relação direta da incidência do câncer e do diabetes aos hábitos alimentares, à prática de exercício físico e ao manejo do estresse. “Então, quando você analisa essa relação do diabetes tipo 2 e tumores, é mais um motivo para deixar acentuada essa ideia de promover um estilo de vida saudável visando ter um equilíbrio tanto na questão da composição corporal quanto para evitar o câncer”, diz.
Cigarro
No caso da combinação tabagismo e diabetes, o estudo mostra que fumantes têm uma taxa de mortalidade por câncer de 3,4%, contra 1,4% entre os não fumantes. Para os autores, a maioria das políticas de saúde atuais acaba beneficiando mais os não fumantes. Por isso, defendem, é importante ter ações personalizadas para os adeptos do cigarro, como programas de triagem específicos. “Intervenções para fumantes, além de estimular que as pessoas parem de fumar, podem incluir campanhas para aumentar a conscientização sobre o câncer e melhorar a detecção precoce”, sugerem.
Na avaliação do grupo, os resultados sinalizam a necessidade de uma revisão de protocolos de cuidados direcionados a indivíduos com diabetes tipo 2. “A prevenção de doenças cardiovasculares tem sido considerada uma prioridade em pessoas com diabetes. Nossos resultados desafiam essa visão mostrando que o câncer pode ter superado as doenças cardiovasculares como a principal causa de morte em pessoas com diabetes tipo 2. Por isso, a prevenção aos tumores merece um nível de atenção semelhante”, defendem.
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Exercícios físicos têm maior impacto sobre a longevidade do que a genética
Os autores queriam descobrir se o DNA poderia influenciar o risco de mortalidade precoce mais do que a vida sedentária que, conhecidamente, reduz a expectativa de vida.
A prática de atividades físicas tem maior impacto na longevidade que os genes, segundo um estudo da Universidade da Califórnia, em San Diego, publicado no Journal of Aging and Physical Activity. Os autores queriam descobrir se o DNA poderia influenciar o risco de mortalidade precoce mais do que a vida sedentária que, conhecidamente, reduz a expectativa de vida.
“O objetivo era entender se as associações entre atividade física e tempo de sedentarismo com a morte precoce variam com base em diferentes níveis de predisposição genética para a longevidade”, disse o principal autor, Alexander Posis, aluno do Programa Conjunto de Doutorado em Saúde Pública da universidade norte-americana.
Em 2012, como parte de um estudo populacional, os pesquisadores começaram a medir a atividade física de 5.446 mulheres nos Estados Unidos com 63 anos ou mais, e as acompanharam até 2020, para determinar causas de mortalidade. As participantes usaram um acelerômetro profissional por até sete dias para medir quanto tempo passaram se movimentando, a intensidade da atividade física e o tempo de sedentarismo.
O estudo prospectivo descobriu que níveis mais altos de atividade física leve, moderada ou vigorosa foram associados a menor risco de morte precoce. O maior tempo sedentário, por sua vez, teve relação com uma mortalidade maior. Essas associações foram consistentes entre as mulheres que tinham diferentes níveis de predisposição genética para a longevidade.
“Nosso estudo mostrou que, mesmo que você provavelmente não viva muito com base em seus genes, ainda é possível prolongar sua expectativa de vida adotando comportamentos de estilo de vida positivos, como exercícios regulares e sentar menos”, disse o autor sênior, Aladdin H. Shadyab, professor assistente na Escola Herbert Wertheim de Saúde Pública e Ciência da Longevidade Humana na UC em San Diego. “Por outro lado, mesmo que seus genes predisponham você a uma vida longa, permanecer fisicamente ativo ainda é importante para alcançar a longevidade.”