Pouca idade, mas muita velocidade. Esse pode ser o lema de Pedro Clerot, jovem piloto brasiliense na Fórmula 4. Aos 15 anos, ele puxa a fila como um dos maiores destaques do automobilismo da capital federal e da nova safra do cenário nacional.
Voando baixo nas categorias de base, Clerot é dono de resultados expressivos e de uma mentalidade vencedora. A aposta teen do Distrito Federal responde às expectativas como gente grande. Na estante, ostenta o bicampeonato do Open Brasileiro de Kart, o tricampeonato brasiliense da categoria, além da conquista da Fórmula Delta no ano passado.
Além da rodagem nacional, a cria de Brasília também acumula quilometragem em pistas internacionais. A pré-temporada para a estreia da F4 no Brasil foi realizada na Itália, com trabalhos em circuitos tradicionais do automobilismo mundial, como Ímola e Monza.
A F4 brasileira dará a oportunidade do jovem competir no Autódromo da capital do país pela primeira vez. Ele não esconde a animação. “É legal poder representar Brasília, inclusive, estou muito ansioso para correr por aqui”, conta.
Ao Correio, Pedro Clerot abre as portas de sua casa, fala sobre o momento que vem vivendo e projeto a sequência da temporada.
Apresentação
Comecei no automobilismo em 2016, mas foi em 2017 que entrei em algumas competições. Em 2018, a coisa começou a andar de vez, com viagens para fora de Brasília e corridas em São Paulo. Nessa época, fui quinto na minha primeira participação no Brasileiro de Kart. Em 2019, disputamos a Copa SP Light. Perdi o campeonato daquele ano na última prova, em uma rodada tripla, com inversão de grid.
Meu 2020 ficou marcado por um acidente em setembro, quando quebrei os dois pés e fiquei 45 dias sem andar. Fui vice-campeão brasileiro daquele ano, mas perdi a Copa SP Light por causa do meu acidente. Ano passado comecei com alguns problemas e decidimos migrar do kart para a Fórmula, onde fui campeão da Delta e cheguei à F4. Não foram anos fáceis, mas adquiri muito aprendizado e me fortaleceu muito.
Apoio da família
Ninguém da minha família é ligado ao automobilismo. Acredito que meu bisavô ou tataravô materno tenha sido mecânico da Williams, mas, fora ele, não temos envolvidos. Meu pai gosta muito, realizava alguns tracks de moto no Autódromo de Brasília e eu o acompanhava. Ele demorou um pouco para me colocar no kart, mas acabou me colocando porque é uma coisa que nós gostamos. Meus pais sempre me apoiaram muito.
Acidente em 2020
Aconteceu em um treino em que não era nem para eu ter ido. Era sexta-feira à tarde, um amigo meu me chamou para fazer uma corridinha e fiquei empolgado. Acabou que quebrei os dois pés durante o acidente e fiquei sem correr por 45 dias. Meu pai, que estava em outro lugar, teve de ir correndo para o hospital. Não foi nada legal. Tudo aconteceu a 60 dias antes de um compromisso pelo Campeonato Brasileiro e a duas semanas da etapa final da Copa São Paulo Light, onde eu era líder. Porém, isso me ‘ajudou’ muito, pois foi um momento onde eu pude decidir continuar ou parar de vez. Dei a volta por cima e isso me deixou mentalmente mais forte.
Expectativas para a F4 2022
Nos preparamos muito bem para esse começo de temporada. Fizemos um trabalho incrível junto à Full Time. Tivemos um bom acerto de carro, não foi o melhor, mas é o suficiente para casar o conjunto. Dominamos a primeira etapa em Velocitta, chegamos a ter a pole, ganhamos a corrida número um com sobra. Na segunda, com a inversão de grid, largamos em oitavo e chegamos em quarto. E, na última corrida, largamos em segundo e vencemos novamente. Somos líder com o quase o dobro de pontos em relação ao segundo colocado. É tentar manter esse ritmo até o fim da temporada.
Importância da pré-temporada na Itália
Me ajudou muito, mas a vitória não veio 100% disso. Muita gente acha que saí em vantagem só por fazer a pré-temporada na Itália, mas muitos pilotos da F4 têm mais de 3 mil voltas nas pistas italianas. Fazia um ano e meio que não andava por lá e casamos bem com a pista e fomos rápidos. Tinha pilotos do meu nível e até melhores, mas conseguimos levar a melhor. Foi questão de cabeça, maturidade. Muita gente estava com a cabeça de kart, mas conseguimos estar um passo à frente.
Como conciliar a adolescência e a vida de piloto?
Não tenho vida normal. Vivo praticamente para o automobilismo. Raramente vou para festas, porque não tenho tempo. Para ter uma noção, nas duas últimas semanas embarquei para Itália, retornei ao Brasil, fui ao autódromo, fiz treinos e ainda competi no final de semana. Eu não paro. Quando tenho período de descanso eu foco em perder peso, por causa de todas as viagens.
Acordo, prático no simulador e vou aos treinos de kart. Nas horas em que não estou fazendo essas coisas eu vou para a academia e estudo. Estudo de quatro a cinco horas por dia. Agora, estou em uma escola online, diante da rotina, o fato de não conseguir acompanhar a turma. Tudo isso estava me prejudicando. Então, fui para uma escola para atletas. Minha rotina é focada no automobilismo.
Não tem muitas coisas. Quando não estou andando na vida real, pratico e me divirto no simulador. Claro, gosto de acompanhar as corridas das diversas modalidades, pois quem não assiste não aprende. E longe do asfalto, me divirto com o kitesurf, algo que gostamos de fazer em família.
Tem rivais na F4?
Não tenho nenhum em específico. Me surpreendi com o nível de todos por lá, andando super bem e com ótima adaptação ao carro. Porém, entre todos ali, acredito que a briga pelo campeonato está concentrada em cinco pilotos. Não vai ser fácil.
Competir com pilotos mais velhos
É tranquilo. O que pode influenciar muito é o quão experiente o piloto é. Pode parecer estranho, mas as vezes é mais difícil correr contra pilotos de 12 a 14 anos, com sete anos de automobilismo, do que com um 17 de idade e dois de pistas. Apesar da maturidade, eles podem não ter tanta malandragem de corrida.
Sente algum tipo de pressão?
Não sinto. É super tranquilo. Gosto de competir levando a bandeira brasileira, mas não sinto nenhum tipo de pressão quanto a isso.
Sempre aprendo com as vitórias. Nunca celebro demais porque sei que não é toda hora que teremos um bom fim de semana. Quando ganhamos, sempre tento pegar o máximo de aprendizado, com o que fizemos e deu certo. Guardo isso, deixo a euforia de canto, pois isso vai nos ajudar no futuro. Tento sempre manter a calma. Não adianta nada ganhar uma corrida e ficar pensando que sou o melhor. Isso afeta mentalmente.
Inspirações na F1
Me inspiro no Max Verstappen. Ele é o atual campeão e minha torcida foi para ele, até porque acho que o Hamilton já ganhou demais (risos). Me espelho e me vejo muito no Verstappen, principalmente da agressividade dele, que enxergo em mim também. Ele é um piloto muito bom, que chegou jovem na F1, mas já tem muita quilometragem. Para mim, ele é o mais completo da categoria hoje. Ele pode não ter o melhor carro, mas se vira com o que tem.
As dificuldades das categorias de base no Brasil
A moeda é a maior dificuldade que temos hoje no Brasil. Embora você ganhe bem por aqui, você ainda sai atrás do que uma pessoa na mesma função lá na Europa, por exemplo. No Brasil, temos que trabalhar mais para tentar equiparar as coisas. Ir para a Europa não é um bom investimento sem ter um patrocínio. O automobilismo é muito caro. Ir para a Itália sempre um foi um sonho meu e planejo ir para lá futuramente. Estamos em busca de patrocínio, mas sem nada concretizado.
O sentimento de representar Brasília
É legal poder representar Brasília, inclusive, estou muito ansioso para correr por aqui. Ainda não competi no Autódromo, mas meu pai fala que a cidade tem a melhor pista. Nosso cenário é ótimo, tivemos e temos vários bons pilotos locais, Nelson Piquet, Felipe Nasr e tantos outros.
Depois das vitórias na primeira etapa recebi mensagens. Até me surpreendi, mas é muito legal. No geral, estamos um momento legal do automobilismo brasileiro, com muita divulgação e retorno de várias provas e categorias. Vai ser bom competir aqui na capital, diante do público, com a cobertura da mídia. Tem sido bom.
O longo intervalo entre as etapas dificulta?
Não é bom ficar muito tempo parado, ainda mais ficar sem andar. Vou fazer o máximo para continuar treinando e tendo o contato com o carro, mas é bem difícil ficar dois meses sem correr, você acaba esquecendo um pouco como que é. E, quando volta, é preciso de uma adaptação muito rápida e encaixar tudo. Não é legal, mas é como o campeonato é realizado.
Fonte: Correio Braziliense