Ao justificar a necessidade de uma segunda fase da Operação Caronte, deflagrada nesta sexta-feira (17/11), o diretor-adjunto da Divisão de Assuntos Internos da Corregedoria-Geral da Polícia Civil do DF, delegado Marcos Paulo Loures, revelou algo assustador. Diversas funerárias estabelecidas na capital do país “terceirizavam” serviços para empresas clandestinas. Segundo denúncias recebidas durante as investigações, descobriu-se que os criminosos agiam como açougueiros, pendurando os defuntos de cabeça para baixo de forma que sangrassem mais rápido. “Pior que isso, corpos seriam mutilados, com pernas cortadas, para caberem nos caixões”, disse.
As denúncias que chegaram à polícia apontam, de acordo com o delegado, que uma das funerárias clandestinas chegou a acumular 30 corpos nus, deitados no chão, durante um dia de grande demanda. “Os relatos dão conta de que as vísceras entupiam e contaminavam a rede de esgoto”, afirmou o policial, chocado. Além disso, as funerárias clandestinas atuariam no transporte dos corpos em condições completamente insalubres.
Apesar de operarem precariamente e tratarem de qualquer forma os mortos, as funerárias cobravam caro dos familiares por “um serviço de qualidade” e um “tratamento atencioso”. Em alguns casos, os enterros chegavam à casa dos R$ 14 mil, conforme as investigações.
Na segunda fase da operação contra a Máfia das Funerárias, foram apreendidos 37 rádios transmissores programados na frequência utilizada pelas forças de segurança, além de carros funerários que transportavam corpos sem autorização, documentos e computadores. As buscas envolveram pelo menos 20 funerárias, clínicas e residências de suspeitos. O grupo criminoso era formado por médicos, funcionários de hospitais, empresários e até um policial civil aposentado.
Veja o vídeo da operação feito pela PCDF:
https://www.facebook.com/pcdf.oficial/videos/891857454305203/
Ao todo, foram cumpridos 21 mandados de buscas e apreensão e 11 de condução coercitiva. Um deles foi emitido contra um policial civil aposentado, que era pago para fornecer às funerárias a frequência do rádio das forças de segurança. Com isso, eles conseguiam chegar aos locais onde alguém tinha morrido primeiro do que os rabecões do Instituto Médico Legal (IML). Aproveitando-se da fragilidade das famílias, acabavam fechando negócio.
O argumento era de que se o corpo fosse levado ao IML seria cortado pelos peritos. Diante disso, os criminosos ofereciam um processo “menos doloroso”, caso o acordo fosse firmado.
O caso
As apurações da polícia indicam que a organização criminosa enganava as vítimas com a promessa de que o atestado de óbito sairia de graça. Mas, na verdade, estava tudo embutido no preço do velório e do enterro.
Durante as buscas realizadas na primeira fase da Operação Caronte, os agentes encontraram duas armas e diversos equipamentos que copiavam a frequência da corporação.
Os investigadores identificaram a ação de dois grupos criminosos ligados ao ramo de serviços funerários, como sepultamento, embalsamento, cremação e traslado de corpos, entre outros. Os suspeitos cobravam o atestado de óbito e o encaminhava para funerárias envolvidas no esquema. Os criminosos, geralmente, se passavam por servidores do IML.