Tony Fadell, um dos principais idealizadores do iPod e um dos envolvidos na criação do primeiro iPhone, publicou ontem uma série de tweets criticando a Apple, o Google, o Facebook e o próprio Twitter por não combater o vício em celulares. De acordo com ele, “o vício em dispositivos é real”, e é responsável por matar e ferir “milhares de pessoas” a cada ano.
As declarações de Fadell foram motivadas por uma matéria do Wall Street Journal segundo a qual dois investidores da Apple estariam pressionando a empresa a criar ferramentas para combater o uso excessivo de celulares entre jovens. Os acionistas enviaram uma carta aberta à empresa incitando-a a investir em recursos desse tipo.
De acordo com pesquisas citadas por ele, o uso excessivo de smartphones está associado a um aumento do risco de suicídio e depressão entre jovens. Além disso, o vício em celulares também estaria associado a uma queda no desempenho escolar dos adolescentes, uma pioria na qualidade de seu sono e uma redução em seu nível de empatia. Os tweets de Fadell podem ser vistos abaixo:
Adults are addicts – not only kids! & Google needs to help! Apple investors worried about smartphone addiction https://t.co/1SC0tXXchM @WSJ
— Tony Fadell (@tfadell) 8 de janeiro de 2018
10/10
With (or without) these tools, it’s up to us to act:
Screen time rules, living in the moment, screen-free meals, relearning analog objects like books & writing & sketching, tech-free days for the family to be together. (And yes it’s ironic I’m tweeting this…) 🙂 https://t.co/wWBQNMdsYK— Tony Fadell (@tfadell) 8 de janeiro de 2018
Vida presa ao celular
Fadell também comparou o uso de celular em carros aos efeitos de dirigir sob o efeito de álcool. Segundo uma pesquisa citada por ele, nove pessoas morrem e milhares ficam feridas a cada ano nos Estados Unidos por causa de motoristas distraídos em seus smartphones. No Reino Unido, de acordo com outra pesquisa, adultos passam mais de oito horas por dia em frente a telas, enquanto crianças passam cerca de seis horas e meia; segundo Fadell, esse dado deve nos motivar a fazer uma “desintoxicação digital”.
No entanto, segundo o ex-funcionário da Apple, isso é um grande desafio, pois “nossas telas são uma grande parte de nossas vidas. São nossas ferramentas de trabalho, calendários de família, dispositivos de emergência – nós realmente não conseguimos viver sem elas”. Por esse motivo, empresas como Apple, Google, Facebook e Twitter “têm agora a responsabilidade e precisam começar a nos ajudar a rastrear e gerenciar nossos vícios digitais em todos os aparelhos – celular, laptop, TV, etc”.
Segundo Fadell, essas empresas “são as únicas que podem fazer isso – elas são donas do ecossistema de aplicativos e sistema operacional”. Ele gostaria que as empresas criassem “modos de uso único”, que permitisse que o usuário não recebesse notificações enquanto lesse um livro, por exemplo. Outra sugestão dele é que as empresas permitam que apps de terceiros tenham acesso ao tempo que os usuários passam no celular e nos apps “para que possamos gerenciar e limitar nosso tempo neles”.
Arrependimento tardio
Como o Business Insider nota, Fadell não é o único ex-funcionário de uma gigante da tecnologia a mostrar arrependimento sobre o ecossistema que ajudou a criar. No mês passado,Chamath Palihapitiya, um ex-executivo do Facebook disse que a empresa na qual ele passou seis anos está atualmente “destruindo o tecido social de como a sociedade funciona”.
Mas antes mesmo dele, Antonio Garcia-Martinez, um ex-gerente de produtos do Facebook, também se mostrou preocupado com a atuação da rede social. De acordo com um livro escrito por ele, o Facebook mente sobre sua capacidade de influenciar pessoas com base nos dados coletados sobre ela.