O penúltimo dia do 49 º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro traz obras que dialogam com o cinema moderno
Em francês, um trecho de The Old Place (2000), curta de Jean-Luc Godard, anuncia: “Agora, mesmo quando pensamos que sabemos onde estamos, estamos perdidos. Ou não há um caminho conduzindo de volta para casa, ou não temos uma pátria que vale a pena voltar”. A sentença dá o tom do longa-metragem Não me fale sobre recomeços, do diretor paranaense Arthur Tuoto, que, junto ao documentário Pedro Osmar, pra liberdade que se conquista, dos paulistas Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques, integra a mostra Cinema Agora! no penúltimo dia de exibições do 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Em consonância, as duas obras dialogam com o cinema moderno por se utilizarem de ferramentas múltiplas. Em Pedro Osmar, poesia, música e política se encontram em narrativa fora do usual criada para reverenciar a obra do artista que dá nome a película. Apesar de não ser tão conhecido nacionalmente quanto os parceiros com quem já trabalhou – Chico Sá, Zé Ramalho e Lenine, por exemplo –, o paraibano é retratado em filme que foge do convencional. Os registros foram realizados em suportes diversos. Câmeras de 35 mm, imagens feitas pelo próprio artista, material de acervo e filmagens atuais que se amalgamam no filme de teor biográfico.
Convenções cinematográficas também passam longe da obra de Arthur Tuoto. Batizado de Não me fale sobre recomeços, o novo filme do paranaense pode frequentar, com igual peso, salas de cinema e galerias de arte. A obra mistura recortes de produções de diferentes épocas e idiomas, em formato digital, analógico, em preto e branco ou colorido. Esses trechos se casam a cenas em 3D de videogames, séries e citações verbais em uma espécie de breviário digital que questiona o papel da informação e da imagem na sociedade contemporânea. “É um filme com dinâmica bem ensaística mas também tem uma progressão que pode ser narrativa, dramática. Há um começo, meio e fim, apesar de aparecer de modo mais caótico do que um ensaio literário”, afirma Arthur.
Pela ousadia visual, a produção se encontra na linha tênue entre cinema e videoarte. Filme de montagens, aliás, são o forte do realizador, que também costuma fazer performances em uma linguagem experimental que cria novos canais de diálogo com o público. “Apesar de parecerem opostas e paradoxais, essas imagens se interligam muito bem”, conta o realizador, que vai ao encontro de outros diretores e promove, sutilmente, embates políticos. “Questionamos a utopia que seria uma relação equilibrada entre o indivíduo e estado”, exemplifica Tuoto. Ele enxerga o cinema do agora, o qual retrata no evento, pela busca do embate político com viés dramático.
Programação
O fomento ao audiovisual no DF. Seminário. Hoje, às 14h30, no salão Caxambu do Kubitschek Plaza Hotel (Setor Hoteleiro Norte, Qd. 2, Bloco E). entrada franca. Mesa composta por Guilherme Reis (secretário de Cultura do DF), Cláudia Rachid Machado (diretora de Acompanhamento de programas de fomento cultural da Secretaria de Cultura) e André Leão (conselheiro de cultura, Audiovisual) com mediação de Daniela Marinho (tesoureira da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo). Livre para todas as idades.
Não me fale sobre recomeços, de Arthur Tuoto. Hoje, às 14h, no Cine Brasília (106/107 Sul). Entrada franca. Debate, após o filme, no foyer do Cine Brasília, com mediação de Andrea Cals. Não recomendado para menores de 12 anos.
Pedro Osmar, Prá liberdade que se conquista, de Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques. Hoje, às 15h30, no Cine Brasília (106/107 Sul). Entrada franca. Debate, após o filme, no foyer do Cine Brasília, com mediação de Pablo Gonçalo. Não recomendado para menores de 10 anos.