Descrença e comemoração – a decisão do governador de São Paulo, João Doria, de desistir de concorrer à eleição espalhou reações contraditórias no meio tucano. Mas o efeito moral o governador obteve com o gesto mais duro: pretende deixar o partido, conforme declarou a auxiliares e a aliados. Com a atitude, Doria expõe o PSDB à contradição interna: o partido o escolheu em convenção e indica apoio a outro: Eduardo Leite.
Desde a tarde desta quarta-feira, é intenso o movimento de avaliação da decisão do governador e também do “deixa-disso”, como os políticos batizam o esforço para demovê-lo. No entanto, até mesmo os auxiliares mais próximos estão perplexos com a convicção de Doria, que pretende anunciar a guinada política na tarde de hoje.
Entre os apoiadores de Eduardo Leite estão os integrantes das alas comandadas pelo senador Tasso Jereissati (PSDB/CE) e pelo deputado Aécio Neves (PSDB/MG). O gaúcho reúne a maior parte dos tucanos históricos e estaria disposto a abrir a divergência, mesmo tendo perdido a convenção que escolheu o candidato. O gesto de Doria, no entanto, coloca a todos diante do desgaste moral de romper com as regras.
“A construção [da candidatura] vai entrar em campo agora”, declara apoiador de Leite. “Ele vai assumir o natural protagonismo dentro do partido e construir com o centro uma candidatura”, festeja. Para o grupo, a iniciativa de Doria equivale a uma ruptura, já que o governador declara a saída do partido, “após chamar de golpe” o apoio informal a Leite – que vai se licenciar do governo do Rio Grande do Sul. O prazo estabelecido pela legislação eleitoral para a desincompatibilização é 2 de abril.
A reviravolta também afeta diretamente Rodrigo Garcia, vice de Doria e candidato a sua sucessão. Garcia migrou do DEM para o PSDB e esperava assumir a cadeira de governador como forma de turbinar a própria campanha. A frustração deste plano instaura um complicador adicional à cena política paulista e pode ter reflexos favoráveis para os demais concorrentes ao Palácio dos Bandeirantes. Fernando Haddad, do PT, está na dianteira nas pesquisas, e Tarcísio Freitas, candidato de Bolsonaro, aparece com desempenho surpreendente.
Fonte: R7