‘Por trás da linha de escudos’ foi gravado no ano passado, com policiais militares de Pernambuco. Longa-metragem é exibido nesta quinta no Festival de Cinema de Brasília; leia entrevista.
As manifestações ocorridas no ano passado em Pernambuco, durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, foram o contexto escolhido pelo diretor pernambucano Marcelo Pedroso para retratar a atuação do Batalhão de Choque da Polícia Militar do estado. O documentário “Por trás da linha de escudos’’ é a aposta do Festival de Cinema de Brasília para a mostra competitiva desta quinta-feira (21).
Nos intervalos da programação da 50ª edição do evento, Pedroso antecipou os pontos-chave do filme. O documentarista inicia a conversa deixando claro o local de fala de um “roteirista e militante de movimentos sociais”.
Sobre o processo de gravação, o diretor conta que as filmagens foram feitas em três semanas, durante protestos nas ruas de Recife – majoritariamente, durante operações de rotina e treinamentos de militares da Polícia de Choque. O desafio, segundo ele, foi o exercício da empatia. “Tentei não julgar e não impor minhas vivências durante as gravações”.
“Eu tinha curiosidade de saber quem são as pessoas que trabalham no batalhão. Foi um exercício grande me esforçar para ouvir e tentar entender a perspectiva de mundo, como pensam e vivenciam o trabalho.”
Em pouco mais de duas horas, o roteirista resume a sensação de estar no “outro lado” e diz ter se surpreendido com algumas características observadas na corporação. Por exemplo, o que ele chama de “naturalização da violência”.
Durante o convívio com os militares, o documentarista diz ter tentado capturar o contexto amplo da estrutura da instituição, e não “apontar o dedo para os indivíduos”. Pedroso afirma que o longa-metragem se baseia na observação social e é guiado pelas estatísticas do país.
“Foi interessante saber sobre quais corpos que a polícia atua. Entendi a violência policial como sintoma de um Estado que não consegue assegurar direitos à população e, por isso, opera com práticas excludentes e racistas.”
O olhar do público
Desde a sinopse do filme, é possível perceber que “Por trás da linha de escudos” segue a veia politizada, explicitando os questionamentos que embasam a narrativa. A produção, no entanto, não é conclusiva sobre as observações feitas do “modus operandi” da Polícia Militar.
Na visão do diretor Marcelo Pedroso, há um ponto consensual sobre a estrutura da Polícia Militar no estado de Pernambuco. Ainda assim, o público é convidado a escolher quais tipos de emoção sentir.
“Há o indivíduo, a instituição e a estrutura. O filme está na linha entre o indivíduo que vem da periferia – negros e negras – e a instituição reprodutora das estruturas racistas. As observações permitem que cada pessoa chegue à sua conclusão.”
Confira a programação da mostra competitiva, nesta quinta (21):
Mostra Competitiva
20h, Teatro da Praça | Taguatinga, Espaço Semente | Setor Central – Gama, Teatro de Sobradinho | Riacho Fundo em frente à Administração
Torre, Nádia Mangolini, 2017, 18 min, SP, 12 anos
Baunilha, Leo Tabosa, 2017, 13 min, PE, 16 anos
Por trás da linha de escudos, Marcelo Pedroso, 2017, 124 min, PE, 10 anos
21h, Cine Brasília
Torre, Nádia Mangolini, 2017, 18 min, SP, 12 anos
Baunilha, Leo Tabosa, 2017, 13 min, PE, 16 anos
Por trás da linha de escudos, Marcelo Pedroso, 2017, 124 min, PE, 10 anos
50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Quando: De 15 a 24 de setembro
Locais: Cine Brasília (106/107 Sul), Museu da República (Setor Cultural Sul, lote 2), Meliá Brasil 21 (SHS Quadra 6), Teatro da Praça de Taguatinga (St. Central AE 5, próximo à Praça do Relógio), Espaço Semente (Setor Central do Gama, Entrequadras 52/54), Teatro de Sobradinho (Área Especial, Q 12, próximo à rodoviária) e administração regional do Riacho Fundo (Área Central 3, Lote 6).
Preços: R$ 6 (meia-entrada para a Mostra Competitiva, no Cine Brasília); entrada franca para as outras exibições. Algumas atividades requerem inscrição prévia pela web.