Emmanuel Macron e Marine Le Pen foram os mais votados no primeiro turno das eleições presidenciais da França, realizadas neste domingo (10/4). O atual presidente francês recebeu 27,6 % dos votos, enquanto a candidata de extrema-direita terminou com 23%.
A disputa foi mais apertada do que o esperado. O candidato de esquerda Jean-Luc Mélenchon recebeu 22,2% dos votos, de acordo com o jornal francês Le Monde.
O primeiro turno contava com 12 postulantes ao cargo de presidente, mas o destaque das votações foi para o grande número de abstenção, de 26,2 %, quase quatro pontos acima do registrado em 2017, no último pleito. Na França o voto não é obrigatório.
O segundo turno ocorrerá no próximo dia 24 de abril, e será uma repetição do confronto de 2017. No primeiro turno das eleições há cinco anos atrás, Macron foi o mais votado com 24% dos votos, contra Le Pen que obteve 21%.
No segundo turno, ele venceu por 66% a 34%. De acordo com a pesquisa de intenção de voto mais recente, feita pela Ipsos, Macron deve repetir o feito e ganhar no segundo turno por 54% a 46%, um confronto mais apertado do que o do último pleito.
Caso Macron consiga se reeleger, ele será o primeiro presidente a conseguir isso em mais de duas décadas.
O cenário do segundo turno
Agora, os franceses terão que decidir se dão continuidade às políticas reformistas do presidente Emmanuel Macron, que provocaram uma onda de protestos nos últimos anos, ou se dão uma guinada rumo ao ultraconservadorismo de Le Pen.
Macron foi bastante criticado pela demora em engajar-se na campanha e chegou a ser tachado de “arrogante” por parte do eleitorado. Priorizou o conflito na Ucrânia, na tentativa de destacar o papel de líder da Europa. Quando percebeu que Marine Le Pen ganhava força, acusou a rival de mentir ao adotar um tom mais moderado do que o pai, Jean-Marie Le Pen, fundador da Frente Nacional, e de esconder um programa de governo racista.
Analistas temem que, com uma eventual vitória de Le Pen no segundo turno, em 24 de abril, a França acompanhe o Reino Unido e tente se separar da União Europeia (UE), o que levaria ao colapso da integração. Também existe o temor de que a extrema-direita no poder coloque em xeque o papel de liderança da Europa. Com a saída de Angela Merkel do poder e a ascensão de Olaf Scholz na chanceleria alemã, Macron tem procurado se firmar como a principal figura política europeia.
Pós-doutor em ciência política, especialista em esquerda e ex-professor de universidades de Paris, Thomás Guénolé explicou à reportagem que os eleitores têm migrado para a extrema-direita há décadas. Em 1982, ele lembra que cerca de 50% eram adeptos dos candidatos da esquerda. Trinta anos depois, esse índice caiu pela metade. “Em 1982, quase zero porcento dos votantes eram de extrema-direita. Agora, somam um terço. A melhora de desempenho de Le Pen nas sondagens ocorre porque, cada vez mais, eleitores de Zemmour decidem votar nela, a fim de assegurar a extrema-direita no segundo turno”, comentou.
“A probabilidade de Marine Le Pen ganhar o segundo turno é muito baixa. No entanto, não chega a ser zero. Ela precisaria de um cenário altamente improvável, porém possível: um inesperado alto número de eleitores a apoiando, em vez de Macron; e um grande número de votantes da esquerda optando pela abstenção e abandonando Macron”, afirmou Guénolé.
Fonte: Correio Braziliense