Encontrou reuniu 11 deputados da base; governo não divulgou valor pedido. Na quarta, Liliane Roriz denunciou suposta corrupção nas emendas de 2015.
O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, se reuniu nesta segunda-feira (22) com deputados da base aliada na Câmara Legislativa para pedir mais verbas para a área de saúde. Rollemberg apresentou um quadro de crise nas contas públicas e pediu emendas parlamentares para comprar medicamentos e pagar empresas que atuam nas UTIs dos hospitais. Os valores necessários não foram divulgados.
A reunião aconteceu cinco dias depois da divulgação de um suposto esquema de corrupção envolvendo emendas parlamentares e pagamentos a fornecedores da Saúde. Em áudios gravados pela deputada Liliane Roriz (PTB) e entregues ao Ministério Público, membros da Mesa Diretora falam sobre mudanças na destinação de R$ 30 milhões em emendas.
O Palácio do Buriti foi questionado sobre os valores necessários para esses pagamentos e a “conveniência” em tratar do assunto em meio às denúncias de corrupção, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
A reunião aconteceu em um almoço na residência oficial do GDF, em Águas Claras. Segundo texto divulgado pelo governo, o grupo de parlamentares aliados “mostrou-se sensível à situação” de crise.
Além de Rollemberg, participaram da reunião o chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, e o responsável pela articulação entre Buriti e Câmara, José Flávio de Oliveira – ex-secretário de Liliane Roriz na vice-presidência da Câmara.
Base restrita
Dos 24 deputados com mandato vigente, 11 participaram do encontro: Agaciel Maia (PR), Chico Leite (Rede), Claudio Abrantes (Rede), Juarezão (PSB), Julio Cesar (PRB), Lira (PHS), Luzia de Paula (PSB), Professor Israel (PV), Reginaldo Veras (PDT) Sandra Faraj (SD) e Telma Rufino (sem partido).
Membro do governo até a última sexta (19), o ex-secretário de Trabalho Joe Valle reassumiu o mandato nesta segunda, mas não esteve na reunião. Liliane Roriz e Rodrigo Delmasso (PTN) costumam ser incluídos na “base aliada”, nos cálculos do Buriti, mas também não participaram do encontro.
Em junho, a Câmara Legislativa aprovou crédito especial de R$ 35 milhões em emendas parlamentares de oito deputados para a saúde. Do total, R$ 19,5 milhões foram para a oncologia do Hospital de Base, segundo o texto.
Segundo o governo do DF, R$ 5 milhões seriam usados na manutenção de máquinas e equipamentos, o que vai permitir reativar contratos com empresas que fazem reparo de aparelhos de radioterapia. Outros R$ 9 milhões iriam para serviços assistenciais complementares e R$ 1,5 milhão para elaboração de projetos de radiologia, disse o GDF na época.
Denúncias
O suposto esquema de corrupção veio à tona com a divulgação de áudios de conversas entre distritais. Os registros foram feitos pela deputada Liliane Roriz (PTB) e entregues ao Ministério Público. Nos diálogos, os deputados negociam a destinação de R$ 30 milhões em verbas que “sobraram” no fim de 2015.
Os áudios foram gravados em dezembro, logo após a votação do texto. Na conversa, a presidente da Câmara, deputada Celina Leão (PPS), discute com Liliane “o negócio do recurso”, e diz que vai incluir a então vice-presidente da Casa “no projeto”. Liliane diz que a conversa ocorreu porque ela ficou “muito contrariada, muito chateada” com a alteração no destino das verbas.
“É que eu chamei eles lá na hora, aquela hora que eu chamei, e falei: olha, Liliane está no projeto, porque eu já tinha atendido ela. Quer botar em outro lugar, e não quer botar no ‘grupo’. Ela tá no grupo, ela está no projeto com a gente. Ficou definido. Então, hoje, a gente vai falar com o secretário de Saúde que a gente fez o negócio. Então, só para te avisar, a gente vai falar com o secretário que o recurso foi para lá”, diz Celina na gravação.
“Deixa eu contar. O que aconteceu? Hoje, nós vamos falar com o secretário de Saúde. A gente colocou recurso para ele agilizar a… o negócio do recurso. Mas você tá no projeto, entendeu? Você não tá fora do projeto não. Você tá no projeto, mandei Valério falar com você”, continua a presidente da Câmara.
No começo de dezembro, os distritais aprovaram uma mudança no texto, direcionando o aporte para pagar dívidas do Palácio do Buriti com prestadoras de serviço em UTIs. Pela denúncia, o esquema envolveria repasse aos deputados de 7% sobre o valor das emendas.
Celina negou irregularidades e disse que Liliane mentiu porque sente “inveja” dela. Ela também adiantou que vai encaminhar documentos ao Ministério Público para provar que não agiu de forma ilegal na destinação de recursos de emendas parlamentares.
“A acusação é falha porque a emenda é da deputada. A emenda é dela, da vice-presidente. Ela que propôs. Se existe ilegalidade, ela que remoque responder”, afirmou Celina. Segundo ela, o termo “projeto” se refere ao texto da emenda.
Liliane seria julgada pelo Tribunal de Justiça naquela quarta em um processo que poderia cassar a possibilidade de ela se reeleger. A audiência foi adiada por falta de quórum.
“No dia do julgamento, ela tenta criar esse circo, colocando suspeição sobre os deputados. Se ela tinha percepcao de ilegalidade, por que ela propôs isso? Todo o trâmite tem que ser respondido por ela.”