Houve 55 votos a favor da admissibilidade do processo de impeachment. Interdição provocou congestionamento na altura da Rodoviária do Plano.
O trânsito na Esplanada dos Ministérios amanheceu fechado pelo segundo dia consecutivo, nesta quinta-feira (12), por causa da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado. A sessão acabou pouco antes das 7h, e o afastamento da petista foi aprovado com 55 votos a favor e 22 contra. Agentes do Detran informaram que ainda não há previsão para a liberação da via, que depende da ocorrência de manifestações e da possibilidade de pronunciamento de Dilma no Palácio do Planalto.
A opção para os motoristas é desviar na Rodoviária do Plano Piloto. A via S2, que dá acesso à parte de trás da Catedral Metropolitana e dos ministérios, teve lentidão. Muitas pessoas decidiram ir a pé para o trabalho.
Já manifestantes pró-impeachment montaram um “muro da vergonha” com fotos de senadores supostamente indecisos ou contrários ao afastamento da presidente Dilma Rousseff. Foram marcados como indecisos Eunício Oliveira (PMDB-CE), Douglas Cintra (PTB-PE), Randolfo Rodrigues (Rede-AP), Fernando Collor (PTC-AL), Walter Pinheiro (BA) e João Alberto Souza (PMDB-MA).
O muro, feito de papelão, trazia ainda os nomes de dez senadores supostamente contrários ao impedimento da presidente: Renan Calheiros (PMDB-AL), João Capiberibe (PSB-AP), Roberto Requião (PMDB-PR), Telmário Mota (PDT-RR), Edison Lobão (PMDB-BA), Benedito de Lira (PP-AL), Otto Alencar (PSD-BA), Lídice da Mata (PSB-BA), Vicentinho Alves (PR/TO) e Jader Barbalho (PMDB-PA).
A estrutura chamou a atenção dos grupos que passavam pelo local. Muitas pessoas pararam para tirar fotos com o muro. Perto dele também foi colocada uma bicicleta com espumante e pequenos bonecos infláveis da presidente Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestidos de presidiários.
De acordo com a Polícia Militar, havia 5 mil pessoas – 4 mil pró-governo – na Esplanada dos Ministérios no momento de maior público. Assim como no pleito na Câmara Federal, os grupos ficaram divididos por um muro de um quilômetro de extensão a partir da Rodoviária do Plano Piloto. A partir do terminal, policiais militares revistavam manifestantes à procura de pedaços de pau, fogos de artifício e bonecos infláveis.
Além disso, policiais direcionavam as pessoas: os contra a saída de Dilma se concentraram do lado do Teatro Nacional, com acesso liberado até as proximidades do Ministério da Justiça; os a favor do impedimento transitavam pelos arredores da Catedral Metropolitana e do Ministério da Saúde.
Marchas
A marcha dos grupos pró-governo começou às 17h. Indígenas e integrantes de movimentos sociais partiram do estacionamento do Estádio Mané Garrincha ocupando duas faixas do Eixo Monumental. A caminhada de cerca de quatro quilômetros se deu aos sons de “Não vai ter golpe” e com palavras de ordem contrárias ao vice-presidente Michel Temer, que assume o Executivo caso o afastamento de Dilma seja aprovado.
Manifestante dispara rojão contra barreira de policiais próximo ao Congresso Nacional durante votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado (Foto: TV Globo/Reprodução)
O diretor da Central Única dos Trabalhadores de Brasília (CUT) Julimar Roberto afirmou que 50 ônibus – com cerca de 2,5 mil pessoas – estão vindo de todo DF e Entorno para participar da manifestação nesta quarta.
A caminhada dos manifestantes a favor do impeachment, que até então estavam concentrados no Parque da Cidade, começou mais tarde. Antes da descida, eles receberam a viúva do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, que foi chefe do DOI-Codi do II Exército, em São Paulo, órgão de repressão política durante a ditadura militar – citado pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-SP) na votação na Câmara.
Morador de Belém (PA), o administrador de empresas Mário Montana conta que chegou à capital na última sexta-feira. Ele demonstrou receio quanto à possibilidade de confrontos após a votação. “Viemos protestar da forma mais pacífica possível. Acreditamos que hoje será o início de uma mudança”, disse. “Estamos com medo. Já passamos até por uma situação que atiraram um coquetel Molotov em um grupo, nós não queremos enfrentamento.”
A corretora de imóveis carioca Marta Santos, de 60 anos, está em Brasília desde 17 de abril. Ela disse que o impeachment “é legítimo e democrático, d está sendo feito por pessoas que estão comprometidas.” Segundo ela, uma intervenção federal é necessária.
Os grupos não chegaram a entrar em confronto, mas houve troca de ofensas. Um homem a favor do impeachment fez sinais com os dedos para mulheres pró-Dilma na altura do Setor Hoteleiro. Elas responderam com gritos de “machistas” e “golpistas não passarão” e chegaram a correr atrás dele.
Já na rodoviária, um motorista deu sinal com os dedos para os manifestantes pró-governo. O grupo reagiu jogando uma garrafinha na direção do carro. Um dos militantes chegou a partir para cima do homem, mas foi contido por uma policial militar.
Cerca de 1,5 mil policiais militares fazem a segurança na Esplanada nesta quarta-feira. Segundo o governo do DF, 150 policiais civis vão atuar durante o processo. Haverá reforço na 5ª DP, na Asa Norte, delegacia que atende as ocorrência da Esplanada dos Ministérios. O GDF vai destacar 160 bombeiros, 44 agentes de trânsito e dez servidores operacionais.
O muro que divide os manifestantes pró e contra o impeachment no gramado da Esplanada foi erguido entre a Catedral e o Congresso. O mesmo esquema foi adotado durante a votação do processo na Câmara Federal.
Favoráveis ao afastamento da presidente ficam ao lado esquerdo do Congresso e se concentram perto do Teatro Nacional. Manifestantes pró-impeachment ficam ao lado direito, com concentração no Museu da República.
Máscaras, lenços, bandanas e outros adereços que escondam o rosto estão proibidos. O mesmo vale para objetos cortantes e fogos de artifício. Não será permitida a venda de bebidas alcoólicas no local.
Os participantes só poderão ficar até a Alameda dos Estados. O espaço entre a Praça dos Três Poderes, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto, o Itamaraty e o Ministério da Justiça será restrito para as forças de segurança.
Votação no Senado
Os parlamentares vão votar nesta quarta o parecer do relator da comissão especial do impeachment no Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), que defende a abertura do processo de afastamento.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou nesta terça-feira (10) que Anastasia (PSDB-MG) e o advogado-geral da União, ministro José Eduardo Cardozo, devem ser os últimos a falar – por 15 minutos cada um – na sessão desta quarta-feira (11) que pode afastar a presidente Dilma Rousseff por até 180 dias.
Os senadores vão decidir se o Senado abre ou não o processo de impeachment da presidente. Se a maioria simples (metade dos presentes mais um) aprovar a instauração do processo, Dilma será afastada, e o vice Michel Temer assumirá a Presidência da República. Se o parecer for rejeitado, o processo é arquivado.
Orientação de bancadas
O presidente do Senado disse que não é “bom” que os líderes partidários orientem as bancadas sobre a votação a favor ou contra a admissibilidade do processo pelo Senado. “Eu acho que não é necessário. Como é um julgamento, qualquer orientação partidária acaba ajudando a partidarizar um assunto, o que não é bom que aconteça”, disse Renan.
Notificação de Dilma
Renan não quis dar detalhes de como e quando a presidente Dilma Rousseff será notificada da decisão dos senadores. O presidente da Casa disse que ela deve ser informada oficialmente pelo primeiro secretário da Mesa do Senado, o senador Vicentinho Alves (PR-TO). A tendência é que a notificação aconteça na quinta-feira.