Um estudo divulgado nesta segunda-feira indica que o cérebro pode assimilar próteses como parte do próprio corpo. “O estudo mostra que o córtex somatossensorial pode ser influenciado pela visão, o que vai contra tudo escrito nos livros de neurociência”, diz o brasileiro Miguel Nicolelis, professor da Universidade Duke (EUA) e participante do estudo.
“As descobertas suportam a teoria de que o córtex não está estritamente segregado em áreas que trabalham com uma função sozinha, como toque ou visão”, diz o neurocientista. O estudo foi publicado hoje na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
No estudo, dois macacos observavam uma imagem gerada em computador que era tocada por uma bola virtual. Ao mesmo tempo, os braços reais dos animais eram tocados, o que levava a uma resposta no cérebro.
Após a primeira fase, os macacos observavam o braço virtual sendo tocado pela bola de borracha, mas os braços reais não. Os cientistas, contudo, observavam que o cérebro reagia da mesma maneira, ou seja, que os animais sentiam como se a bola de borracha os tocasse de verdade.
Além disso, os pesquisadores descobriram que a resposta ao estímulo virtual era 50 a 70 milissegundos mais lenta que o toque físico, o que é consistente com o tempo envolvido nos caminhos que ligam as áreas do cérebro responsáveis pelo processamento visual e os córtices somatossensorial e motor.
As descobertas têm implicações nas pesquisas de interfaces cérebro-máquina, que estudam o uso de máquinas controladas neurologicamente para devolver o movimento a pacientes com paralisia. Segundo os cientistas, os dados podem levar a neuropróteses que são vistas pelo cérebro como parte da imagem interna do corpo.
Nicolelis afirma que as descobertas serão incorporadas ao projeto Andar de Novo (Walk Again), que pretende fazer uma pessoa com paralisia dar o chute inicial da Copa do Mundo de Futebol de 2014. “Enquanto ficamos proficientes no uso de ferramentas – um violino, uma raquete de tênis, um mouse ou um membro prostético -, nosso cérebro provavelmente muda sua imagem interna de nossos corpos para incorporar essas ferramentas como extensões de nós mesmos.”