Stefhanie Piovezan
São Paulo – SP
Um estudo liderado por pesquisadores da Universidade da Flórida oferece novas evidências de que o leite materno de mães imunizadas contra Covid-19 pode proteger os bebês. Atualmente, não há vacinas aprovadas para crianças com menos de seis meses de idade e a nutrição pode ser um caminho para propiciar imunidade.
A pesquisa, publicada na última semana na revista científica Journal of Perinatology, complementa as evidências apresentadas em 2021, quando os cientistas divulgaram que o leite materno de mulheres imunizadas contém anticorpos contra o Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19.
“Nossa hipótese era que encontraríamos anticorpos específicos para o Sars-CoV-2 em crianças amamentadas por mulheres vacinadas, uma ideia baseada em estudos anteriores que mostraram que anticorpos maternos contra certos patógenos entéricos podem ser detectados nas fezes de lactentes”, conta Joseph Larkin, autor sênior da pesquisa e professor na Universidade da Flórida.
No novo estudo, os cientistas analisaram as fezes dos bebês e também encontraram anticorpos para o novo coronavírus, indicando que essas proteínas são passadas por meio da amamentação e conseguem chegar ao trato gastrointestinal das crianças.
Para a análise, eles contaram com amostras de sangue e leite de 34 mães imunizadas com as vacinas da Pfizer ou da Moderna, além de amostras das fezes de 24 bebês. O material foi coletado em diferentes momentos, o que permitiu comparar os níveis de anticorpos ao longo do tempo.
Ao todo, foram analisadas 96 amostras de sangue materno, 101 de leite e 31 de fezes coletadas antes da vacinação, de 15 a 30 dias após a primeira dose, e depois de sete dias a seis meses após a segunda dose (nem todos os participantes contribuíram com material nos vários momentos).
No passo seguinte, os pesquisadores realizaram testes in vitro para verificar se os anticorpos encontrados nas amostras eram capazes de neutralizar um pseudovírus que mimetiza o Sars-CoV-2 e os resultados foram positivos.
O grupo descobriu que os níveis dos anticorpos dos tipos IgA e, principalmente, IgG (associado à resposta imune de memória) nas fezes dos lactentes depois da vacinação das mães eram maiores do que os parâmetros de controle.
Também verificou um aumento de 50% na capacidade de neutralização nas amostras de leite materno colhidas seis meses após a vacinação, quando já há redução dos níveis de anticorpos.
Com os resultados, eles levantam no artigo a ideia de que os anticorpos IgA e IgG contra o Sars-CoV-2 secretados no leite materno podem oferecer proteção aos bebês e potencialmente reduzir a gravidade de sintomas relacionados à infecção pelo coronavírus.
O estudo, porém, tem limitações, a começar por um número pequeno de participantes. Larkin explica que, com o avanço da vacinação, ficou mais difícil recrutar mulheres antes da administração do imunizante, por isso o grupo limitado.
Outra restrição é o fato de não ter sido considerada a possibilidade de as mães ou os bebês terem sido infectados pelo Sars-CoV-2 e não diagnosticados.
Além disso, muitos dos bebês participantes já tinham mais de seis meses e estavam ingerindo também outros alimentos. “Em combinação com a pequena amostra, isso pode ter interferido na concentração de anticorpos nas fezes e nos resultados sobre capacidade de neutralização, uma vez que crianças alimentadas exclusivamente com leite materno podem ter maior nível de anticorpos”, afirmam os cientistas no texto.
Ainda assim, eles avaliam que, juntos, os dois estudos oferecem uma visão mais completa de como a vacinação contra a Covid-19 durante a gravidez e a amamentação podem proteger a mãe e a criança. Larkin inclusive torce para que os resultados estimulem a amamentação e suscitem mais pesquisas. “Agora estamos interessados em compreender melhor como os anticorpos e outros elementos presentes no leite materno ajudam a proteger os bebês.”