Em meio à escalada de violência na guerra da Ucrânia e ao aumento do clima de tensão entre o governo Jair Bolsonaro (PL) e o Supremo Tribunal Federal (STF) após a publicação do decreto de indulto ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) — que têm ajudado a valorizar o dólar frente ao real e a derrubar a Bolsa de Valores —, autoridades norte-americanas em visita ao Brasil defenderam o respeito à democracia e demonstraram confiança nas instituições brasileiras neste ano eleitoral.
“O Brasil e os Estados Unidos são duas democracias fortes com o compromisso de manter a democracia para os nossos povos. E temos uma confiança muito forte nas instituições democráticas brasileiras e esperamos que os brasileiros também tenham; e que o voto seja livre e justo”, afirmou a subsecretária para Assuntos Políticos dos Estados Unidos, Victoria Nuland, nesta segunda-feira (25/4), a jornalistas.
Ao lado do subsecretário de Estado para o Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente dos EUA, José W. Fernandez, Nuland contou que a visita deles ao Brasil marca uma retomada do Diálogo de Alto Nível entre autoridades dos dois países. Do lado brasileiro, a delegação do Ministério das Relações Exteriores foi liderada pelo secretário de Américas, Embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva.
“Trata-se do mais abrangente mecanismo de diálogo entre o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e o Departamento de Estado dos EUA. O Diálogo conta com três eixos temáticos: i) apoio à governança democrática; ii) promoção da prosperidade econômica; e iii) fortalecimento da cooperação em defesa e segurança e promoção da paz e do primado do Direito”, informou a nota divulgada pelo Itamaraty após o encontro. “A reunião ofereceu espaço privilegiado para o intercâmbio de opiniões e para o acompanhamento dos diversos projetos prioritários para ambos os países”, acrescentou a nota do MRE informando que o objetivo do encontro foi buscar novas oportunidades de cooperação, “garantindo impulso político e visão estratégica ao conjunto da relação bilateral”.
Victoria Nuland confirmou que as eleições brasileiras de outubro foram um dos temas da conversa e ela fez questão de afirmar que confia no sistema de urnas eletrônicas nacional. “Temos sim confiança no sistema e vocês (brasileiros) precisam confiar no sistema também”, afirmou, em tom categórico. “As campanhas são abertas e o debate sempre faz parte das eleições”, afirmou ela, reconhecendo que houve um retrocesso nos hemisférios, e a democracia está passando por um novo teste. “Agora, é importante ter confiança nos sistemas para mostrar como a democracia brasileira é forte no Cone Sul”, disse.
Segundo a subsecretária, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o secretário de Estado, Antony Blinken, fizeram questão de designar dois subsecretários para o Diálogo de Alto Nível em um sinal de demonstrar o reconhecimento da importância do Brasil como parceiro comercial e também no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia. Ela lembrou que o Brasil votou a favor da condenação da invasão.
“Viemos falar sobre democracia e sobre essa ameaça que vemos que está ocorrendo neste hemisfério e vemos a Rússia violando a integridade de seu vizinho e prejudicando os princípios que o Brasil e os EUA defendem na ONU”, disse. Ela contou que um dos principais temas do encontro foi a segurança energética e alimentar e, nesse sentido, disse que Estados Unidos e Canadá estão empenhados em aumentar as suas respectivas produções de fertilizantes, matéria-prima fundamental para a produção agrícola de qualquer país.
Sanções à Rússia
Fernandez fez questão de enfatizar que as sanções propostas pelos Estados Unidos e a União Europeia à Rússia não estão relacionadas aos alimentos e aos fertilizantes. “Em primeiro lugar, qualquer insegurança alimentar é provocada pelas ações horríveis de Vladimir Putin (presidente da Rússia). As nossas sanções não estão causando insegurança alimentar. É preciso fazer essa distinção”, frisou.
De acordo com Nuland, Brasil e Estados Unidos “dependem um do outro” e estão trabalhando em conjunto para maiores parcerias em tecnologia, energia e meio ambiente e, inclusive, elaborando propostas para a Cúpula das Américas que deverá ocorrer em junho.
Adesão à OCDE
Os secretários reforçaram que os EUA apoiam o processo de acessão do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Eles disseram que estão bastante otimistas com o processo de adesão do Brasil à OCDE, “porque cria empregos para ambos os países”.
“É sempre melhor investir em país membro da OCDE e o Brasil tem feito bastante progresso nos critérios de adesão, mas sabemos que o processo ainda demora alguns anos para que todos os critérios sejam atendidos”, disse Fernandez, lembrando que essa transição ainda “demanda muito trabalho duro para tornar o Brasil mais competitivo e com uma economia melhor para os seus cidadãos”.
Fernandez tem uma agenda mais extensa no Brasil, pois viaja para São Paulo, onde tem agenda com representantes do setor privado e da sociedade civil, na terça (26/4) e quarta-feira (27/4). Na pauta dos encontros estão os desafios para a cadeia de suprimentos, a energia e a saúde, assim como a diversidade e o empoderamento feminino.
Fonte: Correio Braziliense