O ex-administrador de Sobradinho Carlos Augusto de Barros disse nesta quarta-feira (14), em depoimento à Comissão de Ética da Câmara Legislativa do Distrito Federal, que reconhece terem havido falhas na realização do 1º Festival Rural Ecológico, em outubro de 2010.
Ele disse que é amigo de Raad Massouh, deputado autor da emenda para destinar recursos ao evento, que foi indicado pelo parlamentar para o cargo, mas que só soube das irregularidades depois da realização da festa.
“O evento ocorreu, não na sua integralidade, isso eu queria deixar consignado, que eu fiquei sabendo só depois que aconteceu tudo. E depois que foi pago eu fiquei sabendo que o evento era dois dias e aconteceu só um”, afirmou.
Barros foi quem executou a verba de R$ 100 mil, destinada pela emenda parlamentar. Segundo o ex-delegado da Divisão Especial de Repressão aos Crimes Contra a Administração Pública (Decap), Henry Lopes, que investigou a denúncia sobre desvio da verba R$ 47 mil dos R$ 100 mil foram destinadas ao Sindicato Rural de Sobradinho. Segundo o delegado, R$ 70 mil foram desviados.
O autor da emenda, Raad Massouh, deve prestar depoimento à Comissão de Ética nesta quinta-feira (15). Havia a possibilidade de o parlamentar ser ouvido nesta quarta, mas a audiência foi suspensa porque já havia começado a sessão no Plenário da Casa.
“Não tenho obrigação de fiscalizar o uso da verba. Quem usa a verba é o Executivo, foi o administrador de Sobradinho na época. Ele pegou a verba e usou em outro evento, e eu não tenho nada a ver com isso. O Ministério Público tem mais é que fazer isso, tem que averiguar mesmo. Eu estou tranquilo, até minhas armas são registradas”, disse Massouh.
Segundo o relator do processo, Joe Valle, a expectativa é que até 21 de agosto a comissão vote sobre a quebra de decoro parlamentar do deputado. A data limite para emitir um parecer para a Câmara é 11 de setembro. A próxima reunião da comissão está marcada para a próxima terça-feira (13).
A verba da emenda do distrital foi repassada para a administração de Sobradinho, que contratou a produtora cultural MCM. Foi essa empresa que negociou com a Rural Tour, que contratou bandas para tocarem no evento.
O delegado Henry Lopes chefiava as investigações sobre o caso na época da realização da festa. Ele afirmou que rastreou a emenda parlamentar e que descobriu irregularidades.
Segundo ele, a verba de R$ 100 mil era destinada ao pagamento de cinco bandas, que deveriam tocar em dois dias de evento para um público de 10 mil pessoas. Lopes afirmou, no entanto, que a festa durou uma noite, que 100 a 150 pessoas estiveram presentes e que apenas duas bandas tocaram.
“Parte dessa [verba] foi parar na conta do Sindicato Rural, a Rural Tour, na pessoa de Maria Inês Viana, que à época presidia o sindicato e posteriormente veio a ser funcionária do gabinete do deputado Raad Massouh”, disse Lopes.
Segundo o delegado, as bandas receberam um valor menor do que aquilo que foi dito. “O valor total das cinco bandas, da liberação da emenda, era R$ 100 mil. Somente R$ 30 mil foram efetivamente pagos”, disse Lopes.
O delegado afirmou que o deputado participou do evento. Segundo informações do inquérito, Massouh “discursou na qualidade de autor da emenda”.