Um ex-funcionário aposentado do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) foi preso suspeito de facilitar o atendimento de pacientes em troca de dinheiro e benefícios. Anivaldo de Almeida Pereira, 76, praticaria o crime dentro da unidade há 15 anos. Ele foi detido em casa, na mesma cidade, após oito meses de investigação. O esquema teria a participação de nove pessoas no total – entre elas, dois médicos –, todas indiciadas.
Anivaldo se aproveitava da influência que tinha dentro do hospital para cometer os delitos, explicou o delegado-chefe substituto Fábio Costa dos Prazeres, da 12ª DP (Taguatinga). O suspeito ainda utilizaria roupas brancas, crachá e carimbo da época em que trabalhava como padioleiro no HRT.
“Ele cobrava entre R$ 70 e R$ 150 para antecipar marcações de exames, consultas e até cirurgias. O esquema era conhecido, mas ninguém tinha coragem de denunciar. Quando não recebia dinheiro, ele ganhava algum benefício, como garrafas de bebida alcoólica, por exemplo. Com a demora no atendimento na rede pública de saúde do DF, muitas pessoas optavam pelo serviço”, informou Fábio, ressaltando que os pacientes não serão punidos.
Segundo o delegado, com mais de 30 anos de contribuição, Anivaldo tinha acesso livre dentro do hospital. Além disso, ele também se passava por médico, policial e até agente do Departamento de Trânsito do (Detran). “Iniciamos as investigações depois que o diretor da unidade, Benvindo Rocha Braga, denunciou a situação”, completou. Braga, atualmente, é coordenador do HRT, segundo a PCDF.
Dois médicos envolvidos
O trabalho da Polícia Civil vai continuar nos próximos meses, garantiu o delegado Fábio Costa. “Dos nove suspeitos, apenas dois médicos e Anivaldo de Almeida Pereira eram do Hospital Regional de Taguatinga. O restante ajudava por fora. O aposentado, no entanto, era o principal. Neste ano, acreditamos que entre 12 e 15 pacientes tenham sido beneficiados pelo crime”, completou.
Anivaldo, que já tem passagem pela polícia por roubo e denunciação caluniosa, poderá responder por vários delitos, somando mais de 40 anos de reclusão, caso seja condenado. Entre eles, 12 crimes de tráfico de influência, cinco de falsa identidade, dois de corrupção ativa e um de falsidade ideológica.
Procurada pelo Jornal de Brasília, a Secretaria de Saúde confirmou que o servidor aposentado do HRT foi detido, após denúncia da diretoria do próprio hospital. “A pasta frisa, no entanto, que não compactua com qualquer tipo de atitude que não corresponda com a legalidade e esclarece que dispõe de um canal para denúncias pela central telefônica 160”, concluiu a secretaria, por meio da assessoria.
De acordo com a Polícia Civil, os nomes dos dois médicos indiciados são Francisco Valtenor de Araújo Lima Filho, 38 anos, e Valdir Soares da Costa, 46, clínico geral e oncologista, respectivamente. Eles são investigados por corrupção passiva e vão responder em liberdade, conforme informou a polícia à Secretaria de Saúde.
Segundo o delegado Fábio Costa dos Prazeres, somente Francisco já foi indiciado seis vezes por atestados médicos falsos, além de corrupção passiva.
Na delegacia, Anivaldo Pereira negou ser um criminoso.