Mostra de Rita de Almeida mistura linguagens, como artes plásticas e vídeo
A união de natureza, tecnologia e esoterismo leva os visitantes do Museu Nacional Honestino Guimarães a sentir o tempo corrente na companhia da performer Rita de Almeida e de um cristal. Sem pressa, o percurso da exposição Por sobre o tempo/cristal corpo/flutua — os versos do título formam um haicai — segue por etapas pelas quais o momento flui silenciosamente e com viscosidade.
“Vamos levar esse cristal para passear”, foi o impulso que motivou a artista e professora universitária a retirar o cristal do quintal de casa e carregá-lo para viajar por Brasília, Jalapão, Chile e Japão. Durante as viagens, Rita registrou performances com a pedra, um quartzo branco. O resultado é uma experiência compartilhada por meio de imagens e sons que imergem o espectador em recolhimento e contemplação.
Segundo a performer, o cristal permite uma “abertura para o instante, o aqui agora, o lugar em que ele se encontra”. “Para mim, o cristal tem uma questão de mediador. Ele propicia uma percepção do espaço pela textura que ele tem, pela abertura para camadas de cores e vibrações. Nos cristais tem olhos que ressoam, está por trás disso uma transparência, uma margem para o instante, o aqui agora, o lugar em que ele se encontra”, completa.
Vídeos em diferentes tamanhos e formatos foram distribuídos pela galeria e exibem cenas das viagens gravadas pelo pesquisador Carlos Praude e pela designer Yukie Hori. Nas imagens, Rita ergue o cristal em ambientes que fazem alusão aos elementos da natureza. Pontuações sonoras ambientalizam a galeria predominada pelo silêncio. No centro da sala foi disposto o cristal visto nos vídeos. Transparente e sob projeção de luz, a pedra foi pensada para mudar de cor a cada diferente nota que ressoa.
Além do que dá título à exposição, haicais de Rumi, Bashô, Guimarães Rosa, Manoel de Barros e Helena Kolody foram distribuídos na entrada da galeria. Os textos constróem um mapa poético do percurso dividido em sete etapas. Cada haicai é ligado a um trecho da galeria. Como o terceiro, Turbulência, de Guimarães Rosa: “o vento experimenta/o que irá fazer/com sua liberdade…” —, referência à instalação Caminhos, animação formada por traços que caminham aleatoriamente segundo algoritmo computacional até formar uma imagem que nunca se completa.
Responsável pela abordagem tecnológica, Carlos Paude conta que o objetivo é “gerar no espectador essa intenção de tempo expandido”, por meio de manipulação das imagens. O cristal, para ele pode “levar para lugares imaginários, oníricos, durante sonhos que estão associados a processos criativos por contaminação de todas essas imagens”.
Rita explica que a viagem com o cristal começou há três anos,de forma despretensiosa e evoluiu para uma exposição a partir da convergência de temas das pós-graduações dela e do marido, Carlos Praude. Os acadêmicos, então, estruturaram a exposição com ajuda da Marília Panitz como “acompanhante crítica” e do editor Wallace Lino.
Serviço
Por sobre o tempo/cristal corpo/flutua
Exposição de Rita de Almeida Castro. Até 3 de fevereiro de 2019 no Museu Nacional da República (SCS lt. 2). De terça a domingo, das 9h às 18h30. Entrada franca. Classificação indicativa livre. Fonte: Portal Correio Braziliense