Única no DF a reunir exclusivamente mulheres, a feira idealizada por Tatiana Nascimento e produzida pela editora Padê conta com 27 expositoras das mais diversas áreas e origens
É para driblar o mercado, mas também porque o mundo hoje é feito de nichos (e a internet está aí para provar), que experiências como a Semilla Feyra de publicadoras — programada para ocupar o Ernesto Café (115 Sul) durante o sábado — existem e fazem sucesso.
Única no DF a reunir exclusivamente mulheres, a feira idealizada por Tatiana Nascimento e produzida pela editora Padê conta com 27 expositoras das mais diversas áreas e origens. São editoras, escritoras, poetas, artistas, zineiras e ilustradoras reunidas em torno da ideia de dar às publicações independentes uma vida e um espaço que não conseguem ter no grande mercado.
Realizada pela internet, a seleção da Semilla foi feita por meio de chamada pública destinada a qualquer pessoa. O critério: ser uma publicadora independente. A ideia de Tatiana é a mesma que a guiou quando montou a editora Padê: dar visibilidade à produção de autoras negras ou lésbicas, mulheres transexuais, bissexuais.
“Porque mesmo no mercado fértil de publicações alternativas, aquelas que estão fora do grande mercado editorial, ainda têm muito mais homens publicando”, constata a editora. “A criação da Semilla pega carona nesse ímpeto de difundir as obras de mulheres negras, mulheres trans, mulheres lésbicas. A ideia surgiu pra que a gente, como editoras, conhecesse o trabalho de outras editoras e/ publicadoras independentes.”
A primeira edição da Semilla, em 2016, reuniu 30 expositoras. Este ano, o número é um pouco menor, mas Tatiana reparou na enorme quantidade de zineiras que se inscreveram. O formato é simples, acessível e barato, o que contribui para a divulgação. Nessas publicações, há um pouco de tudo, de quadrinhos, ficção e poemas a receitas, opiniões e desenhos.
2017. Crédito: Michelle Cunha/Divulgação. Trabalhos de Michelle Cunha, que expõe na Semilla – Feira independente.
Diversidade
O caráter de ativismo da feira não se restringe aos temas dos quais tratam as autoras. Tatiana lembra que só o fato de serem negras, lésbicas ou trans e estarem publicando já é um ato de ativismo. O conteúdo, ela defende, não precisa nem deve estar preso a essas questões, embora seja natural que as autoras escrevam sempre de um ponto de vista subjetivo.
“Tem bastante diversidade a produção, não são temas específicos. O patriarcalismo e o racismo produzem financiamento de determinados corpos e expressões, então só de elas estarem produzindo, já é um ativismo. O racismo não pode prender a gente no tema. Temos direito à expressão literária do sublime”, diz. Todas as mulheres que se inscreveram foram incluídas na feira. Tatiana não fez nenhuma seleção. O único cuidado foi atentar para que pelo menos metade das participantes fossem negras.
Propositivo
Para que houvesse representatividade significativa, Tatiana tomou o cuidado de difundir a chamada para a Semilla entre as redes de mulheres negras, de ativistas feministas e de mulheres travestis e transexuais. Ela mesma já participou de eventos de publicações independentes como a Dente e a Motim, o que ajudou nos contatos. “É um cenário muito fértil, ao mesmo tempo crítico e desconstrutivo, propositivo e construtivo, e que tem inspirado o surgimento de uma leva de coletivos de mulheres”, aponta.
Durante o evento, além dos estandes de vendas das publicações e dos objetos, haverá também sarau de poesia com Lara Nogueira, performance de Maria Léo Araruna, que vai encenar o Manifesto Trav(Eco)-Ciborgue, e lançamento do livro Nós, trans — escrevivências de resistência, do grupo Transcritas Coletivas.
Uma roda de conversa sobre literatura negra reúne Paula Gabriela, do projeto Lendo mulheres negras, Calila das Mercês, do Escritoras negras da Bahia, e Ana Flávia Magalhães, do selo Maria Firmina dos Reis. Literatura lésbica também é tema de bate-papo com Julianna Motter, Victória Sales e Nina Ferreira. Também está programada a exibição do filme Mulheres do barro, de Edileuza Penha de Souza, que vai conversar com o público após a sessão.
Programação
10h Abertura com performance de Lidi Leão
10h30 Poesia com Lara Nogueira
11h Roda de conversa Literatura Lésbica: Nina Ferreira, Julianna Motter e Victória Sales. Mediação: Tatiana Nascimento.
12h30 Lançamento de livro Espevitada, de Noélia Ribeiro (poemas)
12h45 Exibição do filme Mulheres do barro, de Edileuza Penha de Souza, seguida de roda de conversa com a diretora
14h Roda de conversa Literaturas negras: Paula Gabriela (projeto Lendo Mulheres Negras), Calila das Mercês (projeto Escritoras Negras da Bahia), Ana Flávia Magalhães (selo Maria Firmina dos Reis da Biblioteca Nacional). Mediação: Luciene Rêgo
16h00 Manifesto Trav(Eco)-Ciborgue, performance de Maria Léo Araruna
16h30 Lançamento do livro Nós, trans – escrevivências de resistência, do grupo Transcritas Coletivas, com participação
de autorxs e leitura
17h30 Sarau Quanta!, com declamação de poesia com Victória Sales (SP), lançando o livro de poemas Um jazz pra duas, Nina Ferreira, Nanda Fer Pimenta e apresentações musicais de Moara, Beatriz Águida, Daniela Vieira e Tatiana Nascimento. Apresentação de Jana Almeida, da Força Afro Brasil
20h Encerramento
Semilla — Feyra de publicadoras
Sábado, das 10h às 19h, no Ernesto Cafés Especiais (CLS 115, Bl. C, Lj 14) 44 Produções, Pareia Comunicação e da ONG Força Afro Brasil