Na mostra ‘Quando tudo deixar de ser’, artista reúne séries produzidas desde 1997. Ghomes tem obras expostas em museus reconhecidos internacionalmente, como o Museu de Arte de São Paulo.
Com obras expostas nos principais museus do Brasil – como os de Arte Moderna e Contemporânea e o Museu de Arte de São Paulo –, o artista visual Rogério Ghomes está em Brasília para a exposição de séries fotográficas “Quando tudo deixar de ser”. As imagens revelam o processo produtivo ao longo de 30 anos de carreira, desde 1997.
Sorridente, o fotógrafo recebeu a reportagem do G1 na Referência Galeria de Arte, na 203 Norte, com uma brincadeira: “Está tudo à venda, até o artista”. O humor, no entanto, cede lugar à quietude das obras penduradas nas paredes.
“Meu trabalho é onde realmente sou eu. O outro é um personagem, esfuziante, falante, que eu precisei criar pra me defender.”
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O “verdadeiro” Rogério Ghomes tem um olhar saudoso e introspectivo, que revela memórias e imagens que transitam entre o passado e o presente. “Como artista, sou um transeunte silencioso.” A nostalgia, segundo ele, está no enquadramento, nos desfoques, na horizontalidade das obras.
As séries em exposição representam o que Ghomes chama de “alargamento da fotografia”, quando as obras se misturam com outras linguagens, como a pintura, a colagem, a escultura e até o audiovisual. O desfoque, por exemplo, se assemelha ao esfumaçado dos pincéis.
“Meu trabalho dialoga muito com a pintura. É extremamente pictórico, nos temas, na forma de produção, nos padrões cromáticos.”
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O curador, Fábio Luchiari, acompanha o trabalho de Rogério Ghomes desde 2001, quando se conheceram. “Virei um confidente e um olhar externo ao mesmo tempo, o que dá uma apuração diferente. O privilégio de fazer leituras pessoais.”
Ele explicou que o trabalho de Ghomes é sempre pensado na primeira pessoa. “Ele fala dele, das angústias e anseios que dialogam com cada um de nós. As buscas, viagens, conflitos internos.”
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Na série “Árbol”, as fotografias esverdeadas foram feitas com smartphone e editadas por meio de um aplicativo que disponibiliza uma paleta variada de filtros. Registradas em locais diferentes, como Londrina, Buenos Aires e Campinas, as imagens revelam a mescla do espaço urbano com a vegetação.
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As esculturas aparecem como forma de legitimar o espaço urbano que invade o verde e a figura humana é materializada em pedra ou em sombra. “A escultura é sempre a representação de alguma memória. De um acontecimento que merece ser lembrado”, disse.
“Quando falamos em fotografia, falamos em morte. O registro é sempre de algo que foi.”
O valor do clique
A alta capacidade de reprodutibilidade da fotografia, segundo Ghomes, traz a falsa sensação de que este tipo de arte tem menos valor. “Há um conceito [social] de que a pintura tem valor maior que a foto pela questão da reprodutibilidade.”
No entanto, à parte das especificidades técnicas da pintura, fotografar requer mais que um apertar de botão. Segundo ele, é preciso ter, acima de tudo, repertório. “É uma aquisição de vida”, disse o artista.
“Técnica qualquer um aprende. Já o pensamento, a maneira como vê o mundo e articula as ideias, isso é uma das grandes questões.”
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A tecnologia, segundo ele, permite que a fotografia seja uma arte financeiramente mais acessível, mas isso não a torna menos complexa. “Ela entra na produção da contemporaneidade: o que era único, deixa de ser. No campo da arte, permite uma tiragem, torna o valor mais acessível.”
“Não é um valor cultural, é monetário. Mas as pessoas atrelam um ao outro.”
Enquadramento, luz, enfoque e outras técnicas estão disponíveis em manuais e em sites especializados na internet. O que não pode ser adquirido é o olhar do artista. No caso de Rogério Ghomes, essa visão encontra elementos de interseção entre o passado e o presente.
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