O 600º dia de guerra na Faixa de Gaza foi marcado, uma vez mais, pelo desespero. A fome extrema levou milhares de palestinos a invadirem o armazém do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, em Deir el Balah (centro), e saquear fardos de comida. “Hordas de pessoas famintas invadiram a instalação (…) em busca de produtos alimentares que estavam estocados para serem distribuídos”, afirmou o PMA em nota, a qual pediu “acesso humanitário seguro e sem restrições para permitir imediatamente a distribuição ordenada de alimentos” na Faixa de Gaza. Pelo menos quatro pessoas morreram durante o tumulto — duas foram esmagadas e duas receberam disparos de armas de fogo.
Morador de Deir el Balah, o fotojornalista Abdulruhman Ismail testemunhou o incidente e descreveu o caos, o medo e os tiros. “Tudo foi avassalador. Fiquei o mais próximo que pude do armazém, assistindo a uma onda humana avançar em direção ao que as pessoas acreditavam ser sua última chance de sobrevivência”, relatou ao Correio. “Elas corriam com tudo o que tinham — descalças, famintas, exaustas. Algumas haviam caminhado quilômetros. Mães agarravam seus filhos. Idosos se apoiavam em bengalas. Era mais do que desespero — era puro instinto humano em movimento.”
De acordo com Sunghay, hospitais carecem de suprimentos médicos e, como se não bastasse, têm sofrido bombardeios. “Existe a possibilidade de epidemias. As pessoas são desabrigadas repetidamente. Sabemos de grupos que foram obrigados a fugir em até 18 ocasiões nos últimos 19 meses. Estão exautas, perderam familiares, estão feridas, doentes e cansadas”, afirmou. Ao ser questionado sobre o que deve ser feito para uma distribuição segura de comida, o chefe do Escritório de Direitos Humanos da ONU nos Territórios Palestinos Ocupados respondeu que existe um modelo seguido pelas agências das Nações Unidas. “Temos feito isso há meses. Nós levamos os alimentos e os distribuímos nas comunidades. Nós nos certificamos de que pessoas em necessidade urgente, desesperadas e vulneráveis recebam a comida, além de bolsões de Gaza onde é difícil alcançar. Esse modelo tem funcionado.”
Nesta quarta-feira (28/5), familiares dos 58 reféns israelenses que seguem em poder do grupo terrorista Hamas se reuniram em Tel Aviv e denunciaram que foram “abandonados” pelo governo de Benjamin Netanyahu. Eles reivindicaram cessar-fogo em Gaza e a libertação de todos os sequestrados. Das 251 pessoas capturadas pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, 58 permanecem em Gaza, das quais 34 foram declaradas mortas pelas autoridades israelenses. Também ontem, Netanyahu anunciou que Israel matou Mohamed Sinwar, suposto líder do Hamas em Gaza e irmão do ex-líder Yahya Sinwar, assassinado.
O novo apelo do papa
O papa Leão XIV voltou a apelar pelo fim dos bombardeios de Israel à Faixa de Gaza. “De Gaza, os gritos dos pais sobem aos céus cada vez mais intensamente, enquanto agarram os corpos sem vida de seus filhos, em busca de comida e abrigo contra as bombas. Renovo meu apelo aos líderes: cessem o fogo, libertem todos os reféns e respeitem integralmente o direito internacional humanitário!”, afirmou.
EU ACHO…
“Cerca de 2,2 milhões de pessoas estão lutando para viver. O que estamos trazendo para Gaza, em termos de alimentos, é uma quantidade ínfima, como uma gota no oceano. Não importa o quanto trouxermos para Gaza, haverá caos, saques e feridos. A situação geral é terrível. Os bombardeios prosseguem, as pessoas continuam sendo mortas, não há água potável, a população inteira de Gaza foi espremida em 20% do território.”
Ajith Sunghay, chefe do Escritório de Direitos Humanos da ONU nos Territórios Palestinos Ocupados
Fonte: Correio Braziliense