Trecho de mata na Granja do Ipê foi usado para reuniões pelo presidente. Grupo quer avançar tombamento e garantir segurança para frequentadores.
O governo do Distrito Federal prevê instalar oficialmente nesta terça-feira (26) o conselho gestor da Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Granja do Ipê, no Riacho Fundo. O local abriga um sítio histórico conhecido como Mesa JK, em referência a uma estrutura de pedra e cimento em meio à mata nativa, criada pelo presidente Juscelino Kubitschek para reuniões informais durante a construção de Brasília.
O espaço foi disputado por grileiros e construtores, mas segue intocado pelo avanço das obras de urbanização. O grupo será responsável por levar adiante os projetos de tombamento e de ampliação da segurança da área, às margens do Caub I.
Os esforços da comunidade para resistir ao avanço da cidade geraram um grupo de discussão, o “Diálogos do Ipê”, que ajudou a alertar o governo do DF sobre as tentativas de invasão ou depredação do espaço. No mês passado, o Palácio do Buriti publicou o decreto de criação do comitê gestor, que agora deve passar a existir fora do papel.
O conselho será presidido pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e reúne nove órgãos do GDF, nove membros da sociedade civil e quatro instituições de ensino. Entre os membros, estão a Secretaria de Meio Ambiente e a Universidade Internacional da Paz (Unipaz), instalada em prédio de Oscar Niemeyer que foi residência do primeiro governador do DF, Israel Pinheiro. O prédio fica dentro da área de preservação.
Tombamento
Presidente da associação de produtores rurais da região, Josué Camargo afirma que o interesse do grupo vai muito além da “autopreservação”. Além da importância para a história do DF, a região abriga dois sítios arqueológicos pré-cabralianos, com objetos de cerâmica e ruínas de construções de até 4 mil anos.
Em 1998, um decreto consolidou a região como Área de Relevante Interesse Ecológico, mas o tombamento do espaço não acompanhou o mesmo ritmo. Os processos estão em estágio avançado no Instituto do Patrimônio Histórico e Ambiental, mas ainda esbarram na burocracia.
“O Iphan fez parte dessa nossa trajetória. Um dos sítios arqueológicos já era tombado, mas o outro ainda está no processo. A Mesa JK também está em processo, mas ainda precisamos de algumas imagens do Arquivo Público como provas materiais desse uso do espaço”, diz Camargo.
Por enquanto, a “prioridade” do comitê gestor é garantir a segurança do patrimônio e dos frequentadores – biólogos, pesquisadores, ciclistas e aventureiros. A ideia é usar uma área que já tinha sido reservada pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU) para um projeto que não se concretizou, em 2010.