Único Hospital Veterinário Público atende todo o Distrito Federal e chegou a correr risco de fechamento, mas o GDF libera verba para a instituição
Olhares desconfiados, inquietação, latidos e alguns miados marcam a espera dos bichinhos no Hospital Veterinário Público (HVET). De segunda a sexta-feira, centenas de gatos e cachorros de todo o Distrito Federal comparecem à unidade, localizada em Taguatinga Norte, na busca pelo atendimento gratuito. Para alguns donos, que não têm condições financeiras de arcar com tratamento privado, o hospital se tornou uma maneira de fazer com que os animais tenham uma vida saudável.
O hospital foi inaugurado em abril do ano passado e, desde então, 50 cães ou gatos são atendidos diariamente. Na última semana, a instituição corria risco de fechar as portas e só tinha verba para funcionar até a próxima sexta-feira. Porém, na segunda-feira, o governador Ibaneis Rocha (MDB) garantiu que o local receberá novo repasse e que os usuários do serviço não precisam se preocupar. O chefe do Executivo ainda prometeu que expandirá a rede a outras regiões administrativas.
Para os donos dos bichinhos, a notícia trouxe alívio. Ontem, a estudante Rennatha Gabryella Sales, 19 anos, chegou com o cachorro Hulk por volta das 4h. Apesar do atendimento na unidade começar às 8h, ela queria ser uma das primeiras a ser atendida. “Ele está com inflamação na orelha, e a gente não sabe o que é. Fiquei com medo dessa história de que o hospital poderia fechar e resolvemos trazer ele o mais rápido possível”, lamenta.
Rennatha mora na Ponte Alta do Gama e tem mais oito cachorros em casa. De acordo com ela, custear o tratamento veterinário de todos seria impossível. “Apenas as consultas deles são R$ 80. Além disso, temos que pagar exames, medicamentos e algum procedimento, caso seja necessário. O hospital consegue nos ajudar muito e é um serviço de saúde importante para o DF”, diz.
Para a técnica em enfermagem Irene Soares, 60, a situação é a mesma. Em janeiro, o labrador dela teve um tumor e conseguiu ser operado e tratado no HVET. Pouco tempo depois, o outro pet de Irene, um yorkshire, começou a apresentar sintomas da doença do carrapato, comum entre os cachorros. “Se eu fosse pagar o tratamento deles, gastaria no mínimo uns R$ 6 mil e não tenho condições para isso”, comentou.
Como Rennatha, Irene chegou à unidade por volta das 4h da manhã. “A gente vem cedinho porque sempre aparecem muitos pacientes, e as senhas são limitadas. Porém, eles recebem o atendimento adequado e saem daqui saudáveis e com o retorno marcado”, conta. Para ela, o hospital consegue diminuir até mesmo o número de abandonos. Moradora de Santa Maria, a técnica em enfermagem disse que viu muitos casos de animais doentes largados na rua.
Saúde
A diretora do HVET, Mayara Cauper Novaes, ressalta que um hospital veterinário público é questão de saúde para toda a população. De acordo com ela, a unidade tem como missão dar a pessoas sem condições financeiras possibilidades de tratar animais doentes. “Em menos de um ano, conseguimos fazer muitos atendimentos e diagnósticos. As pessoas acataram o serviço e fazem uso dele”, ressalta.
Mayara ressalta que, além de atender os animais, os profissionais tentam passar conhecimento. “Levamos informações para as pessoas tentarem entender sobre doenças, zoonoses, prevenções e a importância de vacinar. Muitos não sabem os danos que pulgas ou carrapatos podem trazer. O hospital está envolvido nesse processo de educação e saúde”, explica.
Quando a notícia do possível fechamento da instituição estourou, a diretora disse que ficou surpresa. “Ficamos sabendo de forma extraoficial. ONGs (organizações não governamentais) começaram a compartilhar a notícia. Em seguida, procuramos o Ibram (Instituto Brasília Ambiental) para saber a veracidade da história”, informa. Segundo Mayara, a troca recente de governo pode ter feito com o que o Executivo não voltasse os olhos para o hospital, mas que a situação promete ser outra daqui para frente.
Quem precisa de tratamento para os bichinhos doentes ainda defende que a rede precisa ser aumentada e que cortes não podem acontecer. O gari Maurício Paulino Freire, 56, mora no Recanto das Emas e decidiu passar a noite de domingo na unidade para que o cachorro dele fosse atendido na segunda de manhã. “Esse hospital é referência. Os bichos são muito bem tratados e ajuda muito quem não tem dinheiro para levar no veterinário particular”, afirma.
O cão de Maurício tem problema de pele e apresenta coceiras. Na rede privada, o gari custeou uma vez o atendimento ao cachorro e precisou desembolsar R$ 600. “Muitos não têm dinheiro para fazer esse tipo de coisa. Precisamos que modelos iguais a esse cresçam e cheguem mais próximos à população”, reforça.
Abandono
Uma das queixas dos funcionários do Hospital Veterinário Público (HVET) é o abandono dos animais nas proximidades do unidade, na esperança de que os veterinários os recebam. No entanto, o local não tem estrutura para atender os bichos. Além disso, o abandono e maus-tratos a animais é crime, que prevê de pagamento de multa a detenção de até 1 ano.
Serviço
O Hospital Veterinário Público (HVET) é gerido pela Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa). Ele funciona das 8h às 17h, de segunda a sexta-feira. Localizado no Parque do Lago do Cortado, em Taguatinga Norte, atende 50 animais por dia, sendo 30 com consulta marcada e 20 por emergência.