Diretora da Agefis diz que terreno seria usado para construir obra pública. Seops afirma que lotes no local custam entre R$ 250 mil e R$ 300 mil.
Moradores de um condomínio construído em terreno irregular em Vicente Pires, no Distrito Federal, queimaram pneus para impedir a derrubada de mais casas nesta quarta-feira (5). Este é o segundo dia de operações no local – outras duas tentativas foram frustradas. Na terça (4), a fiscalização removeu sete dentre cerca de 20 residências na rua 8 da região. Outras nove têm liminar garantindo a permancência delas.
A diretora da Agefis, Bruna Pinheiro, disse que o o governo investe na regularização de Vicente Pires. De acordo com ela, o condomínio irregular – erguido neste ano – seria usado para abrigar obras públicas, como escola ou posto de saúde. No entanto, ela não soube informar qual tipo de construção seria feita no local. “Os projetos deixam em aberto, conforme o orçamento do governo”, afirmou.
“A gente precisa manter livres os lotes institucionais”, disse. “Construção em área pública nesta gestão não é mais permitida. Esse descontrole da ocupação da área publica tem que acabar.Brasília não suporta mais isso”, completou a diretora.
Por voltadas 8h30, um grupo de moradores estava deitado no chão impedindo a passagem de equipes da Seops e da Agefis. A Polícia Militar montou um cordão de isolamento e acompanhava a ação.
Não houve confronto. Durante a operação, 180 policiais, bombeiros, fiscais e servidores de órgãos do GDF estavam no local. Documentos levados pelos manifestantes apontam que o ex-administrador regional autorizou a construção da chácara.
A Seops afirmou que há 32 lotes na área e que 27 deles têm construções. A expectativa é que 14 casas sejam derrubadas nesta quarta.
O advogado Wendel Ranchel afirmou que as construções são de 2013. “Estamos na iminência de conseguir mais [liminares]. Não nos foi oportunizado um prazo para a gente conseguir isso. Os moradores não foram notificados, não teve notificação.”
Ele disse que tomou conhecimento nesta terça do documento. “A gente está buscando com esse documento reverter a situação. A administração emitiu esse documento e autorizou as construções.”
Resistência
A moradora Hérica Rabelo é uma das que teriam a casa removida pela operação. Enquanto a ação acontecia nesta terça, ela preferiu resistir. Ela contou ter ficado no telhado da casa dela, mas desistiu por causa do sol quente.
“Disseram que iam derrubar tudo. Não tem conversa aqui, não. Ninguém quis negociar, ninguém deu prazo algum”, afirmou.
“Não adianta ficar em cima do prédio. Eles disseram que quem estivesse em cima, iriam dar voz de prisão”, diz Hérica, que mora no local há oito meses, com os dois irmãos e os pais. “Já chegaram na violência. Não sei por que insistem em derrubar aqui. Alguma coisa está acontecendo porque essas operações custam caro.”
“Ninguém é invasor. Vimos a placa e pagamos muito para comprar o lote. Em nenhum momento o governo alertou para isso”, declarou a mulher. “Meu irmão ficou cadeirante por levar um tiro na escola. Esse é o segundo golpe que o governo dá contra ele.”
Moradora de um prédio em frente ao condomínio onde aconteceu a operação, a uruguaia Eva Pires disse repensar a ideia de viver em Vicente Pires. “É horrível. Vim com meus filhos pensando em comprar aqui, agora não quer mais. Não dá a tranquilidade que você espera”, contou a enfermeira aposentada de 81 anos.
De acordo com a Seops, os lotes do condomínio irregular eram vendidos entre R$ 250 mil e R$ 300 mil. “Este condomínio existe desde 2013 e está em uma área passível de regularização. Os moradores daqui pagam luz e água”, disse a advogada Tany Mary, que conseguiu liminar na Justiça no final de julho para um morador.
“Era um sonho meu ter uma casa própria. Agora tenho que trabalhar tudo de novo”, disse a empresária Adriana Videres. Ela relatou já ter gasto R$ 500 mil no lote, comprado no ano passado. “Eu esperava que fosse se regularizar.”