A combinação de dois anos de pandemia da Covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia tem feito a inflação subir, no Brasil e no mundo. A sensação de que os preços estão aumentando a cada ida ao supermercado é real, e comprovada com números.
Segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desde março de 2020, quando a Covid-19 foi caracterizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como pandemia, até o mesmo mês neste ano, garantir a alimentação diária se tornou muito mais caro. Em dois anos, o custo médio de comidas e bebidas subiu 27,2%; o do botijão de gás, 49,1%.
Despesas nessas áreas subiram ainda mais do que a inflação geral. No mesmo período, o índice oficial de alta dos preços cresceu 16,9%. Em 2021, a inflação fechou em 10,06% – o maior aumento em seis anos.
Concentrada em itens básicos, como a cenoura, o café e o gás, a alta de preços tem forte impacto em lares de renda baixa, que destinam fatia maior do orçamento à alimentação. Dados do Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda revelam aceleração dessas despesas, em fevereiro, para todas as classes de renda pesquisadas, mas, no caso das famílias de renda muito baixa, o aumento foi mais acentuado: 1%, em fevereiro. Isso contribuiu para que esse grupo apresentasse a maior taxa de inflação acumulada em 12 meses (10,9%). A faixa de renda alta foi afetada com menor impacto – equivalente a 9,7%.
No começo da pandemia, a disparada no custo de alimentos foi consequência do aumento das exportações de produtos agrícolas, incentivadas pela alta do dólar. Isso, somado ao pagamento do auxílio emergencial, fez os preços no setor da alimentação dispararem.
Neste ano, com o início da guerra na Ucrânia, os brasileiros viram esses preços subirem ainda mais, embalados pela elevação do custo do petróleo no mercado internacional. Como a maior parte do transporte de cargas no Brasil é feita por caminhões, os efeitos são quase imediatos.
“A alta do preço dos combustíveis, devido ao conflito, inflaciona tudo: bens e serviços”, explica Luiz Roberto Cunha, especialista em inflação e professor de economia da PUC-Rio.
A última estimativa do Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central (BC), é que a inflação anual prevista para 2022 chegue a 6,45%, impulsionada pelo reajuste nos combustíveis. É uma desaceleração em relação a 2021, mas a previsão inicial para o ano não chegava a 6%. Durante o período analisado pelo Metrópoles, a gasolina acumulou aumento de 46,1%, e o diesel ficou 53% mais caro.
A meta de inflação para este ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,5%. Será considerada cumprida se fechar no intervalo entre 2% e 5%.
Para o analista, a sucessão de acontecimentos (pandemia e guerra) pressiona a economia global de maneira nunca vista: “É difícil imaginar uma situação economicamente pior do que esta que estamos vivendo”.
Fonte: Metrópoles