O desejo de garantir atendimento adequado para crianças com doenças complexas e raras era grande demais para uma única ala hospitalar. Mesmo assim, foi no 7º andar do Hospital de Base, em 1960, que o sonho do Hospital da Criança de Brasília (HCB) iniciou uma trajetória de sucesso que, agora, passa a ser conhecida graças ao livro Da Unidade de Pediatria do HBDF ao Hospital da Criança de Brasília: uma história que merece ser contada. A obra será lançada hoje, no próprio HCB, às 10h30, e traz a história de como a unidade se tornou referência nesse tipo de atendimento.
A diretora clínica da instituição, Elisa de Carvalho — médica gastroenterologista pediátrica —, fala com orgulho do crescimento do projeto. Ela explica que, na pediatria, existem doenças passíveis de receber atendimento primário. Portanto, se a criança tem sintomas de diarreia, gripe ou pneumonia, ela pode ser assistida na atenção básica. No entanto, há grupo de crianças que são portadoras de doenças raras, essas precisam de tratamento especializado, a chamada atenção terciária.
Elisa exemplifica o caso de crianças que precisam fazer um transplante hepático no primeiro ano de vida, procedimento que necessita de suporte e o HCB cumpre esse papel. Diagnósticos incomuns e tratamentos complexos, como lúpus infantil e câncer também são tratados no hospital.
“Com o crescimento de Brasília, um andar apenas no Hospital de Base foi ficando pequeno para todas as especialidades. Inicialmente, cada profissional foi conseguindo novos espaços, em outras Unidades de Saúde. Entretanto, corríamos o risco de ter fragmentação do cuidado da criança, se as especialidades não estivessem atuando em conjunto”, lembra. A partir dessa percepção, começou o sonho de construir um hospital para crianças, que se tornou realidade há 10 anos.
Gabriel Euripes
Uma das pessoas que acompanhou a mudança da ala de pediatria do Hospital de Base para o Hospital da Criança de Brasília (HCB) foi Gabriel Euripes, 19 anos, que ainda é assistido na unidade. O jovem, que na infância foi submetido a um transplante de fígado, só será atendido em outro local quando completar 21 anos, conforme o protocolo de atendimento.
Ele nasceu com uma doença chamada Atresia das Vias Biliares (AVB), patologia do fígado e ductos biliares que ocorre em recém-nascidos. Por conta da condição, o estudante do ensino médio passou por 19 cirurgias. A mãe de Gabriel, Francisca Euripes, 43, admite que o tratamento recebido pelo filho “é um luxo”. Antes, segundo a dona de casa, a saúde era precária, faltava equipamentos, mesmo tendo sempre profissionais excelentes. “O hospital é um conjunto completo. As pessoas são humanizadas e o trabalho é de excelência, fantástico”, afirma.
De acordo com a definição da Sociedade Brasileira de Pediatria, na AVB ocorre uma inflamação destes dutos, levando a uma obstrução progressiva. Para solucionar, geralmente as crianças passam por transplante de fígado. Por tomar imunossupressores — remédios para o corpo não rejeitar um órgão transplantado — Gabriel teve doença linfoproliferativa no intestino, além de um câncer, e todas as doenças foram tratadas no HCB. O jovem ainda tem deficiência auditiva severa bilateral, mas escuta com o aparelho. Todas as patologias atendidas no HCB.
Ver o hospital em funcionamento foi uma emoção, conforme descreve Francisca. “Fiquei sabendo dele, quando ele ainda era um sonho”, conta. Gabriel sabe de suas limitações, mas comemora ter adquirido autonomia graças aos tratamentos. “O hospital é muito bom para mim, queria ficar lá até ter mais de 21 anos. Consigo andar lá até de olhos fechados”, diz.
Mel e Lis
Camilla Neves, 28 anos, é mãe de duas meninas gêmeas que nasceram siamesas, Mel e Lis. As duas vieram ao mundo no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) e foram encaminhadas para o Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB). A cirurgia de separação delas foi estudada durante um ano antes de ser feita e foi acompanhada por uma equipe de mais de 50 médicos, em Brasília.
O neurocirurgião Benício Oton de Lima integrou a equipe. De acordo com a mãe, foram nove meses em consultas semanais. “A gente estava no hospital toda a semana”, lembra. No Hospital da Criança, a cirurgia de altíssima complexidade para separar gêmeas siamesas foi um sucesso, graças à dedicação de toda a equipe.
“Não tenho nem palavras para descrever o HCB. Para mim, é um hospital de outro mundo, de tanto que é perfeito, organizado, lindo. Fora que os funcionários também sempre são maravilhosos, super cuidadosos e preocupados com o bem-estar do paciente e da família”, afirma Camilla.
Integrando a história da instituição ela fala de todo aprendizado e cita, comovida, a dedicação de todos os profissionais que lidam com as crianças.
Fonte: Correio Braziliense