Os encontros na cena musical brasiliense ocorrem de uma forma quase natural e, por vezes, são responsáveis por juntar músicos e compositores de diferentes origens. Em 2014, num show de Sthel Nogueira, o violonista carioca Jaime Ernest Dias e o pianista português João Lucas, ambos radicados em Brasília há bastante tempo, acabaram se conhecendo. Um ano depois eles estavam trabalhando juntos.
Depois de muita troca de informações com ose ensaios informais, decidiram levar ao palco o resultado do que vinham fazendo. O primeiro show foi em 2017, na Casa Thomas Jefferson. No ano seguinte ocuparam por duas vezes o palco do Clube do Choro e tocaram também na Casa do Choro, no Rio de Janeiro.
“Entre um show e outro fomos construindo um repertório autoral, registrado no CD Cerrado Atlântico, que vamos lançar em show — amanhã e sexta-feira, às 21h — no Clube do Choro, um palco já bem familiar para nós”, diz Jaime. “Vai ser uma espécie de recital em duo, com direção do violonista João Fereira, no qual teremos como convidado especial o ator Murilo Grossi. Entremeando os blocos musicais, ele dará voz a textos de Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes, Tomás de Aquino, José Bonifácio e Luiz Cruls, selecionados pelo poeta piauiense Paulo José.
O show, dividido em duas partes, tem na primeira parte do repertório do disco, temas como Valsa branda burguesa (única composta em parceria pelos dois), Mestre de obras, Liliana e Fogo cerrado, de Jaime; No baile com Ernesto, Choro de riso e Trem intrépido, de João Lucas. Há ainda Partita em sol menor (Johan Sebastian Bach), com arranjo camerístico do pianista português.
Tom pra Jobim
A segunda parte do show traz releituras — com novos arranjos — dos dois músicos para as consagradas Tom pro Jobim (Sivuca e Dominguinhos), Migalhas de amor (Jacob do Bandolim), Cadência (Juventino Maciel, Chorinho feliz, do compositor lusitano Mario Lajinha; além do medley que inclui Princesa (Jaime Ernest Dias) e In Sorrow’s wake (Andriew York).
“No disco misturamos referências eruditas, raízes populares e liberdade de improvisação para falar de lugares, histórias e pessoas que fazem parte daquilo que somos e de onde viemos”, destaca João Lucas. “Por décadas, Jaime e eu estivemos em lados opostos do Atlântico. Mas, ao nos encontrarmos, nos surpreendemos com tantas afinidades artísticas que culminam nesta parceria”, acrescenta o pianista e arranjador.
Morador de Brasília desde 2011, doutorando pela UnB, João Lucas produziu trabalhos de diversos artistas portugueses; e escreveu para a Orquestra Sinfônica da Estremadura, da Espanha, e para a portuguesa Orquestra Metropolitana de Lisboa; e compôs trilhas para espetáculos de teatro e dança. Jaime, filho da flautista Odete Ernest Dias — com que gravou vários discos — integrou formações camerísticas, acompanhou cantores em shows no Brasil e no exterior; e é um dos criadores da Orquestra de Cordas Brasileiras e da Orquestra de Violões de Brasília.
Cerrado Atlântico, gravado no auditório da Casa Thomas Jefferson, com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), pode ser adquirido no Clube do Choro por R$ 30, ou acessando gratuitamente em streaming pelo soundcloud.com/cerradoatlantico. O show será levado ao Projeto Música e Cidadania, no Paranoá, dia 16, às 15h; e ao Projeto Cultural Waldir Azevedo, no dia 17, às 20h.
Cerrado Atlântico
Show do violonista e Jaime Ernest Dias e do pianista João Lucas, para lançamento de disco homônimo, amanhã e sexta-feira, às 21h, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.