Promotores goianos explicam que ainda é preciso colher depoimentos e provas, mas relatos iniciais sugerem a prática de diferentes crimes sexuais
Goiânia — As mulheres que desejarem denunciar formalmente o médium João de Deus, acusado de violência sexual contra várias pacientes que procuraram sua ajuda, não precisarão viajar a Goiás para prestar depoimento. Segundo promotores do MP de Goiás que concederam entrevista coletiva nesta segunda-feira (10/12), os relatos serão colhidos nos estados das vítimas, pelos MPs locais.
A ação faz parte de uma força-tarefa iniciada para apurar os casos, que vieram a público no último sábado. Segundo Luciano Miranda Meireles, coordenador do Centro de Apoio Criminal do MP goiano, já há depoimentos marcados em São Paulo e Minas Gerais, e certamente, outros estados e o Distrito Federal também colherão denúncias.
Ele explicou que, há seis meses, o MPGO solicitou à Polícia Civil do estado uma investigação criminal sobre o médium porque havia suspeitas, mas dada a dimensão que o episódio ganhou, o próprio MP assumirá a investigação. A coordenação ficará com Abadiânia (GO), cidade onde João de Deus faz seus atendimentos, mas com apoio de uma equipe lotada na capital do estado.
“Nós sabemos que, muitas vezes, essas vítimas demoram um tempo para entender esse tipo de crime. Por isso, temos feito de tudo para que elas possam se sentir seguras, para dar confiança a essas vítimas e permitir que elas possam denunciar sem medo”, afirmou Meireles.
Um e-mail foi criado especificamente para receber denúncias relacionadas a João de Deus: denuncias@mpgo.mp.br. Por meio dele, o MP espera colher novas denúncias, inclusive de vítimas do exterior.
Estupro
Os promotores explicam que ainda não conseguem precisar o total de possíveis vítimas. “Ainda não temos o número concretizado. Ainda é preciso que as vítimas venham prestar depoimento”, esclareceu o promotor. Só depois dessa fase de coleta dos relatos e das provas, João de Deus poderá ser chamado para um interrogatório.
Meireles esclareceu, ainda, que os próprios relatos, nesse caso, poderão ser considerados provas. “A gente precisa deixar claro que estupro não é um crime aberto, que acontece em praça pública. Mas a lei prevê essas situações, o que permite que o depoimento da vítima possa ser utilizada como provas”, afirmou.
Pelas informações preliminares, a maioria delas obtidas por meio da imprensa, é possível que João de Deus seja processado por uma diversidade de crimes: estupro (passar a mão nas partes íntimas da vítima sem consentimento já configura esse crime, segundo a lei brasileira), violação sexual mediante fraude (em casos que o abuso tenha sido cometido sob a promessa de cura) e estupro de vulnerável (quando a vítima tem menos de 14 anos). Segundo o promotor, a pena máxima para esses crimes varia de seis a 15 anos.
Interdição da casa
Há a possibilidade de a Casa Dom nácio de Loiola, o centro erguido por João de Deus em Abadiânia, ser interditado, mas essa medida só será tomada quando após o MP obter evidências robustas.
“Enquanto não tivermos algo concreto, por cautela, não poderemos interditar o estabelecimento, porque se não temos nada. Fatalmente, (um pedido desse tipo) vai ser negado (se for feito agora). Tomaremos todas as providências, de forma célere, mas não atabalhoada”, afirmou o promotor. Fonte: Portal Correio Braziliense