Yara Oliveira tentou transferir os R$ 995 de auxílio da conta corrente para poupança. Para recuperar dinheiro, encontrou ‘destinatário’ da transferência em redes sociais.
Por pouco a estudante de serviço social Yara Oliveira, de 25 anos, fica sem o dinheiro da assistência estudantil: quando foi transferir da conta corrente para a poupança, acabou acrescentando um dígito e mandando o dinheiro para outra pessoa. Depois de quase “uma noite sem dormir”, ela terminou encontrando o dono da conta, o segurança Junio Santos, que se solidarizou e devolveu a quantia de R$ 995.
Yara estuda na Universidade de Brasília (UnB) e trabalha como babá nos fins de semana para complementar a renda. Ela é composta pelo auxílio moradia e pela bolsa da assistência estudantil – que somados dão os R$ 995.
A transferência indesejada ocorreu na última sexta-feira (7). Ela precisava fazer o “manejo” entre a conta-corrente e a poupança para pagar as contas.
“Eu cheguei da faculdade tão cansada que comecei a colocar os dados e automaticamente já preencheu o resto e eu nem percebi porque a conta dele é igual a minha, só muda que eu tenho um número a mais.”
“E eu sempre confiro, mas dessa vez eu estava ocupada resolvendo as coisas. Quando fui salvar o comprovante eu vi o erro e fiquei desesperada, nem dormi à noite.”
Yara procurou na internet todas as pessoas com o mesmo nome do dono da conta até encontrar Junio Santos, que trabalha como segurança de uma faculdade. Oliveira disse que iria verificar se o dinheiro estava na conta dele e, no dia seguinte, mandou mensagem dizendo que já tinha devolvido.
“Eu fiquei sem acreditar que ele foi tão solícito. Eu até falei pra ele devolver só R$ 900, mas ele transferiu o valor total.”
“Eu fiquei admirada porque tem tanta gente ‘passando a perna’ hoje em dia, quase não se tem empatia. E várias pessoas falaram que já tinha passado por isso, e quando encontraram o dono da conta, a pessoa fez foi bloquear.”
Junio Santos contou que só percebeu a transferência indesejada quando recebeu a mensagem de Yara pelas redes sociais. Os R$ 995 representam quase 90% do salário do segurança.
“Quando vi o dinheiro na minha conta eu nem pensei. O dinheiro era dela e pode acontecer com qualquer pessoa, eu só pensei em devolver. Ela até falou que eu podia depositar só parte do dinheiro, mas eu devolvi tudo.”
“Eu achei estranho porque muita gente veio me parabenizar. Eu fiz o que eu fui educado pra fazer. Por que eu vou ficar com o que não é meu? A honestidade está sendo subestimada.”
Apropriação de bens
Especialista em direito processual e civil, o advogado Leonardo Ranna aconselha, nestes casos, a entrar em contato com o banco para pedir a restituição do valor. Ele alerta que gastar dinheiro da conta sem saber a origem dele pode ser considerado crime. A pena prevista é de um mês a um ano de detenção, ou multa.
“Quem se apropria de coisa alheia está sujeito a responder por um crime. O que não pode fazer é gastar o dinheiro. Aqueles que recebem um dinheiro em sua conta e simplesmente não procuram devolver estão cometendo o erro de apropriação de coisa alheia e vão responder no âmbito da Justiça criminal e civil.”