Com a palavra “antirracismo” estampada no peito, amigos e familiares do estudante de odontologia Matheus Antunes decidiram fazer um ato de conscientização acerca da injúria racial. O evento ocorre junto a um campeonato de futevôlei no próximo sábado, 7 de maio, no Futevôlei Aranhada.
A ideia do evento partiu da mãe do Matheus, Muria Antunes, e do proprietário do Futevôlei Arranhada, Renato Moisés. O torneio será nos mesmo moldes do que ocorreu quando duas meninas cometeram injúria racial contra Matheus, mas, desta vez, o intuito será a luta contra o racismo. “Era dia 24 (de abril), a gente estava encerrando o torneio principal do ano, o torneio de futevôlei. Depois que já tinha encerrado, as meninas estavam na praça de alimentação e gravaram um story no Instagram para os amigos delas, onde elas, infelizmente, acabaram cometendo essa atitude”, relembrou Renato.
Na gravação, as meninas fazem declarações sobre o jovem, como “é preto e ainda fica tirando os outros de tempo” e “não passa um desodorante”
“O vídeo viralizou na segunda-feira (25 de abril). Infelizmente, o Instagram do futevôlei tinha sido hackeado, então a gente não tinha muita voz e o que a gente podia fazer era entrar em contato com o Matheus e saber como ele estava, perguntar como ele queria reagir diante da exposição para a gente dar o suporte e apoiar. Foi isso que eu ofereci pra ele”, contou o organizador do evento.
Na mesma semana, a mãe do Matheus retornou a ligação de Renato e aceitou a proposta. “A mãe dele me pediu para ajudar, porque ela queria fazer o contrário, ela não queria pregar o ódio, ela sabia que as meninas estavam sofrendo algumas ameaças e ela não queria pregar o ódio. Eles queriam fazer um evento educativo que passasse a ensinar às pessoas o que é o racismo, o que é a injúria racial, o preconceito enraizado”, afirmou Renato.
Assim nasceu a ideia de fazer o torneio antirracismo. “Tínhamos acabado de encerrar um torneio, e decidimos fazer outro, onde eu entrei em contato com os patrocinadores que nos ajudaram no último evento, a maioria deles já estavam cientes do que tinha acontecido, e eles compraram a briga. Através da ajuda desses empresários do comércio do Gama, eu consegui fazer as camisas, que vai ser a mesma usada no torneio principal, a diferença é que vai estar escrito no peito ‘antirracismo’, que é a forma que a mãe dele pediu para ser abordado”, relatou o organizador.
Um dia de esporte, música e conscientização
Além de levantar a bandeira antirracista, o evento tem como foco educar. De acordo com Renato Moisés, organizador do torneio, a ideia é que a população do Gama, e de todo DF, possa participar de palestras com especialistas que vão falar sobre o que é o racismo, o preconceito e o que pode ocorrer com quem comete o crime de injúria racial.
“Nós conseguimos também músicos e palestrantes, que vão explicar a diferença de injúria, racismo e preconceito. Nosso evento tem o intuito de bater contra o racismo, mas principalmente ensinar as pessoas. A ideia é que, através desse infeliz ocorrido, a gente possa tirar o melhor, que é educar as pessoas. Essa é nossa forma de apoiar. O evento vai ser no mesmo lugar que aconteceu o outro, a partir das 8h30, aberto ao público e com transmissão também pelo perfil do futevôlei e pelo instagram do Matheus”, informou Renato.
Estão programadas para ocorrer três palestras, logo após a competição de futevôlei. A primeira será um terapeuta que irá falar sobre o antirracismo. A segunda será às 10h40, será comandada pelo advogado Elias Soares, sobre a diferença entre racismo e injúria racial. Por fim, às 11h10, um psicólogo vai estabelecer a relação entre saúde mental e injúria racial.
Depois das palestras, por volta das 11h30, o músico Gui Navoz e o dj Negogusta farão um show para encerrar o evento.
O dia em que ocorreu a injúria racial
Tudo ocorreu no domingo, 24 de abril, depois do torneio no Futevôlei do Aranhada. Uma menina postou no Instagram, para os melhores amigos, um vídeo chamando Matheus Antunes de preto e humilhando o estudante.
“Negão nem falou com a gente ontem, viu”, diz uma amiga. Quando a dona do perfil diz “Nossa, negão ele é atirado, é preto e ainda fica tirando os outros de tempo”. Em seguida a amiga completa: “Não passa um desodorante”, e as meninas sorriem. A jovem excluiu o perfil da rede social após a repercussão do caso.
Matheus explicou ao Correio que conhece as meninas por amigos em comum e que acredita que elas se referem a alguma vez que ele conversou com elas. “Estou retomando minha vida aos pouquinhos, graças a Deus”, disse o estudante.
Marque na agenda
Futevôlei todos contra o racismo
Sábado, 7 de abril, a partir das 8h30
Local: no Futevôlei Aranhada, que fica na Arena Café, AV. Buritis, Chácara Recanto União 13. Ponte Alta Norte – Gama
Fonte: Correio Braziliense