Sapatilhas de ponta, colãs pretos e meias cor-de-rosa. Calos nos pés, dores nas pernas, cansaço. Tudo isso faz parte da rotina dessas jovens moradoras da Cidade Ocidental, em Goiás. Elas têm desejos iguais aos de qualquer criança, brincam e estudam. O que as difere da maioria dos amigos e vizinhos é o fato de serem apaixonadas por balé clássico — modalidade de dança que é, por vezes, restrita às elites. Com desejos e metas pessoais, elas são talentosas e já decidiram: querem ser bailarinas da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. E o sonho pode começar a ser realizado em breve. Entre 24 e 25 de agosto, a Cidade Ocidental será palco da pré-indicação para o corpo de bailarinos da companhia mundialmente conhecida.
Todos os méritos resultam de muito ensaio, esforço e suor. São horas dedicadas à realização daquilo que está a cada dia mais próximo de acontecer. Apesar de muito novas, elas sabem o que representaria integrar a única escola do Bolshoi fora da Rússia. Joinville, em Santa Catarina, é a sede brasileira do programa desde março de 2000. A jovem Maria Vitória Soares, 12 anos, é uma das fortes candidatas à pré-indicação goiana. Morando no local desde pequena, ela começou a fazer balé aos 6 anos e, desde o ano passado, treina para as audições do Bolshoi. A bailarina tem um futuro promissor e já foi para Joinville tentar a vaga por duas vezes — em outubro do ano passado e em julho deste ano. As tentativas só animam a menina, que deseja ser, além de bailarina, uma grande médica. “É uma experiência muito boa e eu não vou desistir. Todos me incentivam muito e acreditam no meu sonho”, afirma.
Leonardo de Assis, 36, é pai de Maria e, nas horas vagas, especialista em dança clássica. De tanto acompanhar os ensaios, as apresentações e as audições da filha, o vigilante está imerso no mundo do balé. Ele afirma que se a menina passar nas audições finais, toda a família terá de construir uma nova vida em Joinville. “Apoiamos integralmente o sonho dela porque ela leva muito a sério, sempre por vontade própria. A Maria faz dieta e cuida da saúde, tudo pelo balé”, lembra. Leonardo conta ainda que a irmã mais nova de Maria, Emanuely, 7, já está seguindo os passos da garota. Ela começou a fazer aulas de balé na mesma academia com apenas 3 anos, porque via Maria Vitória dançar. Esperançoso, ele se mostra firme e confiante para mais um desafio que Maria vai enfrentar, desta vez, em sua cidade do coração. “Eu acredito. Ela tem muita força de vontade e até já conseguiu um patrocínio”, orgulha-se.
Para as audições da Cidade Ocidental, as meninas estão bastante confiantes. Afinal, não há nada como se sentir em casa. Serão três auditores, que vão avaliar o nível técnico, o equilíbrio, a musicalidade, os giros, os saltos e a elasticidade das candidatas. Depois da fase de pré-indicação, as bailarinas selecionadas disputarão a final em Joinville. Para quem superar a última fase do processo, o prêmio será mais que valioso: oito anos de estudos na escola do Bolshoi e, no fim, a saída com o merecido diploma de bailarina profissional. A bailarina e professora de educação física Juliane Melo, 31, é proprietária da academia de dança que sediará as audições. Criada na Cidade Ocidental, ela diz que receber a equipe de avaliadores do Bolshoi em um município do Entorno do Distrito Federal é algo honroso. “Nem nos meus maiores sonhos eu imaginei uma coisa dessas. Ver que essas meninas terão a chance de entrar numa escola de balé mundial é fantástico”, emociona-se.