Arlindo Gomes de Araújo morreu em junho de 2020, no Hospital de Taguatinga, após aparelhos serem desligados por outro paciente — Foto: Arquivo pessoal
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) manteve uma condenação contra o governo do DF pela morte de um idoso, de 90 anos, no Hospital Regional de Taguatinga (HRT)
ospital Regional de Taguatinga (HRT). Arlindo Gomes de Araújo faleceu depois que um outro paciente desligou os aparelhos que o ajudavam a respirar.
O caso ocorreu em junho de 2020, mas a decisão em segunda instância saiu em 2 de junho deste ano. A indenização a ser paga à família do paciente foi fixada em R$ 40 mil, mesmo valor estipulado em primeiro grau. Cabe recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Questionado sobre a decisão, o GDF não se manifestou. No processo, o governo alegou que o paciente seguia em quadro grave e que os aparelhos desligados não foram a causa da morte (saiba mais abaixo).
Para a relatora do caso, desembargadora Diva Lucy de Faria Pereira, é “inegável reconhecer ter havido falha no serviço prestado pelo Hospital Regional de Taguatinga. Faltou na adoção de indispensáveis medidas para prevenir e reduzir a ocorrência de incidentes no setor de emergência do mencionado nosocômio público”.
“A ausência de vigilância sobre os pacientes permitiu que situação inusitada provocada por um dos internos resultasse em dano desnecessário ao paciente, genitor do autor, que veio a óbito”, diz na decisão.
Ainda de acordo com a magistrada, “o dano constatado era evitável, bastando que atendidos fossem os mais elementares cuidados hospitalares”.
Morte no hospital
Arlindo Gomes de Araújo passou mal em casa, e foi levado pelo Corpo de Bombeiros (CBMDF) para o hospital público. De acordo com um dos netos da vítima, que não quis ser identificado, a suspeita era de síndrome respiratória, e o caso ocorreu em um dos picos da pandemia de Covid-19.
“Assim que ele chegou, foi para a sala vermelha e logo o intubaram. Falaram [para os familiares]: ‘Pode ir para casa que agora ele está na ala de Covid, aí tem que aguardar sete dias para o resultado [do exame] sair'”, conta o neto.
Relato de médica do Hospital Regional de Taguatinga, no DF, sobre morte de paciente que teve aparelho respiratório desligado — Foto: TV Globo/Reprodução
A família não podia visitar o paciente, em razão dos protocolos de segurança contra Covid-19, e as informações sobre o estado de saúde de Arlindo Gomes de Araújo eram passadas pelo hospital. O neto diz que todos foram surpreendidos, menos de uma semana depois da internação, com a notícia da morte do idoso.
“Depois de quatro ou cinco dias que ele estava internado, só informaram que ele tinha falecido. Ligaram de manhã e a gente ficou estarrecido. Ele estava intubado, mas estável e, do nada, ele amanhece morto”, relembra o neto.
“A gente só ficou sabendo do fato no IML, com o corpo do meu avô dentro do carro da funerária. O policial veio correndo na nossa direção, com o papel na mão, e disse: ‘Vocês viram essa ocorrência?’. E a gente: ‘Não’. ‘Então senta aí que é traumático'”, conta o neto da vítima.
Hospital Regional de Taguatinga, no DF — Foto: Lúcio Bernardo Jr/Agência Brasília
Equipamentos desligados da tomada
De acordo com o depoimento da médica que estava de plantão no dia da morte, a equipe de enfermagem constatou que dois aparelhos respiratórios tinham sido desligados da tomada. Um estava funcionando com a bateria auxiliar, mas a bateria do outro estava descarregada.
Segundo o relato, outro paciente, de 79 anos, internado na mesma ala, disse que desligou os aparelhos pois havia “constatado que os pacientes não necessitariam mais do respirador mecânico, em virtude de estarem bem”.
A ação não foi testemunhada por funcionários do hospital mas, segundo a equipe médica, o paciente que confessou ter desligado os aparelhos já vinha dando trabalho. O homem também morreu.
Na noite em que Arlindo Gomes de Araújo faleceu, saiu o resultado do exame de Covid-19 do idoso, que deu negativo. A família conseguiu mudar a causa da morte na certidão de óbito para “a esclarecer”.
Fonte: G1