Documentário Geração Baré-Cola retrata a cena musical dos anos 1990 em Brasília e será lançado em DVD e blu-ray, no Cine Drive-in
Anos 1990. Enquanto lambadas e axés monopolizavam o mercado pós-Legião Urbana, uma turma arriscava, com muito bom humor, destoar do coro e fazer rock autêntico e diverso pelas quadras do Distrito Federal. Eram inúmeros grupos, dos mais variados gêneros, lutando para tocar e conquistar o público brasiliense. Esse movimento que levaria bandas como Raimundos e Maskavo Roots ao sucesso nacional é tema do documentário Geração Baré-Cola — Usuários de rock, lançado hoje (quinta, 19/10), a partir das 18h30, em DVD e blu-ray no Cine Drive-in.
O filme foi dirigido por Patrick Grosner, observador privilegiado e membro da turma da época, ainda que não tenha tocado em nenhuma banda. Fotógrafo, Grosner foi responsável por registrar em imagens a maioria das bandas que existiram no Distrito Federal no início dos anos 1990.
“Isso dá um olhar de uma história contada de dentro para fora. É um filme produzido por alguém que de fato viveu aquela época. E como eu não era de nenhuma banda, não foquei na minha história, mas sim na de vários daqueles grupos do período”, acredita Grosner.
Guitarrista da Maskavo Roots, Carlos Pinduca concorda com Grosner e destaca que isso foi fundamental para que o filme fosse fiel àquele momento. “O Patrick é um cara da galera. O filme foi feito por pessoas que estão muito de dentro, eles passaram e viverem aquilo também. E o Patrick conseguiu fazer isso sem focar exclusivamente nas bandas maiores. Poderia ter feito assim, mas não fez. Ele chamou todo mundo e deu a mesma importância. E, na época, as bandas tiveram de fato a mesma importância.”
O cenário dos anos 1990 foi, de fato, diverso. Eram centenas de bandas com estilos muito variados. Punk, metal, reggae com rock, hardcore com forró são alguns exemplos da mistura que fez a geração dos anos 1990 na capital federal.
“Todo mundo andava junto, nós fazíamos as mesmas coisas, frequentávamos os mesmos lugares. Só que cada um tinha sua ideia de música, do que gostava e todo mundo respeitava essas diferenças”, lembra Gabriel Thomaz, à época guitarrista e vocalista do Little Quail and the Mad Birds.
“Uma das coisas mais legais é que era uma época eclética. As pessoas aceitavam que as bandas fossem diferentes. Em eventos, as pessoas estavam acostumadas a ir e ver outras coisas que não eram do universo delas. O que unia era esse desejo de criar um som original”, aponta Pinduca.
Apesar de todas essas diferenças, um movimento coeso que representasse aquela geração surgiu. “O caminho que a gente viu foi exatamente de cada um seguir o seu estilo. Mas acabou se formando uma cena de todo jeito, mesmo com todo mundo diferente”, confirma Thomaz.
“Era essa vontade de fazer que movia. Não era uma coisa pensada, era tudo meio anárquico, mas, sem querer, o rock de Brasília dos anos 1990 foi um movimento”, aponta Patrick Grosner.
Gabriel Thomaz lembra também que aquela geração fez parte do fim de um ciclo pré-internet, ainda analógico, em que as bandas faziam, por exemplo, manualmente cópias e mais cópias de fitas demo.
“Essa geração foi a última antes de a internet dominar, de todos estarem com o celular na mão. Naquela época, era todo mundo fazendo as coisas rolarem, criando seu som, produzindo cassetes com demos, num tempo em que as pessoas ainda se encontravam de verdade e viviam aventuras”, observa Thomaz.
O filme
A ideia de fazer o longa surgiu em 2011, quando Grosner terminava a faculdade de cinema. “Tinha que apresentar um projeto para a disciplina de documentário. Pensei: ‘Vou fazer um filme mesmo, aconteça o que acontecer’. Como eu documentei essa história em fotografias, achei que tinha muito para contar.”
A partir daí, começaram as entrevistas, a procura por material e os diversos cortes até chegar ao registro final. “Eu entrevistava e pedia que as pessoas me passassem aquelas fitas do fundo do armário. Algumas coisas eu sabia que existiam, então fui pedindo.”
Essa etapa, conta Grosner, foi a mais fácil. “Parece que é uma coisa muito difícil, mas não. Esse período de captação foi o mais tranquilo.” As dificuldades maiores vieram na etapa de circulação e exibição do filme.
Com apoio do FAC (Fundo de Apoio à Cultura), agora o longa chega ao formato de DVD e blu-ray para, finalmente, encontrar um público maior. “Cada um deles vai custar R$ 20”, adianta Grosner. As cópias estarão disponíveis no evento hoje (quinta, 19/10), no Cine Drive-in.
Geração Baré-Cola — Usuários de rock
Lançamento de DVD e blu-ray, exibição e apresentação de bandas. Cine Drive-In (SRPN, Trecho 1, Asa Norte). A partir das 18h30. Entrada: 1 kg de alimento não perecível. Classificação indicativa: 14 anos.
Algumas das bandas que participaram do movimento
1 Animais dos Espelhos
2 Akneton
3 BSB-H
4 Câmbio Negro
5 Deja Vu
6 DFC
7 Divina Tragédia
8 Dungeon
9 El Kabong
10 Feijon’s Band
11 Filhos de Menguele
12 Flammea
13 Kratz
14 Little Quail and the Mad Birds
15 Low Dream
16 Maskavo Roots
17 Os Alices
18 Os Cabeloduro
19 Os Cachorros das Cachorras
20 Os Wallaces
21 Oz
22 Pravda
23 PUS
24 Raimundos
25 Restless
26 Roque & Os Biles
27 Royal Street Flash
28 Vernon Walters
29 Zona