Obras ainda são incentivo para leitura
Os videogames encantam gerações desde a década de 1970, quando começaram a se popularizar. Houve a época em que os recordistas dos fliperamas eram os reis da região. Essas aventuras,aos poucos, foram transferidas para games como Mario Bros., a turma do Sonic, na década de 1980. Desde então, esta indústria de entretenimento nunca mais parou de seduzir jovens e crianças.
“Levar essa diversidade da brincadeira do videogame para a literatura traz muitos benefícios às crianças, elas começam a se interessar mais por livros e em ir além dos jogos”, explica a psicopedagoga Talita Santos, orientadora educacional no CEAV Jr de Águas Claras.
Diogo Torres tem apenas 8 anos e gosta de videogames desde os 5. Fã de Minecraft, um jogo em que se pode construir tudo que a imaginação permitir usando blocos, ele ficou empolgado quando descobriu os livros sobre o game. “Pedi para minha mãe e minha madrinha comprarem porque eu queria muito ler. Eles falam das coisas que eu gosto”, diz.
Agora, Diogo está lendo Diário de um bárbaro covarde, de Nick e Travis, que assinam sob o pseudônimo Two Little Cowboys. “Eu queria ler porque conta a história do bárbaro, os dias dele, a vida, e porque é sobre um jogo que eu gosto. Até agora eu achei legal!”, conta Diogo. Inspirado no game Clash of clans, o livro conta a história de um guerreiro nada corajoso que busca se transformar no bárbaro mais popular do mundo.
Zumbi
Os livros vão de dicas e táticas a fanfictions sobre personagens dos jogos e atingem crianças e adolescentes. Entre as histórias, está a coleção Diário de um zumbi do Minecraft, de Herobrine Brook. O livro traz as histórias de Zack Zombie, um zumbi de 12 anos que frequenta uma escola especial para monstros e tem vários amigos assustadores, como esqueletos e outras criaturas fantásticas. Mesmo que Zack acredite que a vida de um humano é muito mais legal que a de um zumbi, os livros mostram para as crianças que é bem parecida.
Educação
Com textos curtos e de fácil leitura, a publicação conquista os pequenos. “Eu li o primeiro (Um desafio assustador) em uma semana, foi muito rápido”, conta Diogo. Quem também adora o jogo é Lucas Yungh, de 8 anos. Ele conta que gosta de vários videogames, mas o preferido é Minecraft. “Eu quis ler para saber um pouco mais do game e eu achei bom porque educa as pessoas e também gostei muito porque ele falava coisas que eu não sabia. Li Diário de Minecraft — O conto do mundo do Nether e seus dragões e achei muito legal.”
E se muitos acreditam que a tecnologia afasta as pessoas, o pedagogo, e pai de Lucas, Ronaldo Yungh apresenta uma visão um pouco diferente quando se fala de videogames. “Pode parecer um paradoxo, mas esses jogos tecnológicos estão melhorando a socialização e a cooperação”. Ele também explica que a maioria dos jogos exigem trabalho em equipe e estratégia e isso contribui para a aproximação das crianças umas com as outras.
Yungh ressalta que elas são curiosas e que a união entre literatura e games é uma aposta certa. “Descobrir caminhos e superar desafios são grandes atrativos.” Ele também lembra que “muito mais do que o conteúdo intrínseco, essa leitura leva à prática e à reflexão. A criança vê no livro uma caminho para descoberta e cria o hábito de ler, refletir e praticar”.
Dos games para as redes
Se estamos todos conectados, quem nasceu inserido nesse contexto digital não poderia ser diferente. As crianças estão sempre ligadas nas novidades e usam a tecnologia ao seu favor, para descobrir táticas e vencer os jogos, por exemplo. Diogo Torres é uma dessas crianças. “Gosto dos vídeos do AuthenticGames, Felipe Castanhari e Operação Cinema. Eles falam sobre jogos e ensinam algumas coisas”, conta o menino, que confessa usar algumas dicas para passar fases dos games.
O youtuber Marco Túlio criou o canal AuthenticGames para falar sobre Minecraft em 2011. Ele escreveu ainda o livro AuthenticGames — Vivendo uma vida autêntica e também faz sucesso por isso. Em páginas interativas, com fotos e desenhos formados por cubos, ele conta um pouco da sua história de vida e dos amigos. Outro que também fala sobre o jogo no YouTube e em livro é Pedro Afonso, mais conhecido como RezendeEvil. Na publicação Dois mundos, um herói: Uma aventura não oficial de Minecraft, ele fantasia sobre acordar dentro do jogo e enfrenta alguns desafios.
Leitura
Maralice Torres é pedagoga e mãe do Diogo. Ela ressalta que os livros são um incentivo à leitura, assim como os vídeos e jogos, mas lembra que tudo precisa ser ponderado e que os pais precisam ter cuidado. “É necessário observar e ficar atento aos tipos de jogos, para não influenciar de forma negativa a vida da criança, e não interferir no seu aprendizado. O AuthenticGames, por exemplo, mostra muita responsabilidade. O escritor (Marco Túlio) incentiva as crianças aos estudos e a respeitar os pais, e fala que quando pequeno teve de seguir limites também.”
Ver os vídeos não só ajudam as crianças, mas também as inspiram. “Diogo fica vendo esses vídeos e morre de vontade de fazer também. Ele diz que quer ser youtuber e se inspira no canal AuthenticGames, porque acha que os vídeos, além do livro, são irados”, conta Maralice.