Paralisação começou em 8 de outubro; grupo pede reajuste salarial adiado. Categoria fez assembleia na noite de sexta e diz respeitar Justiça e cidadão.
Médicos da rede pública do Distrito Federal rejeitaram a proposta do governo, mas decidiram em assembleia realizada na noite desta quinta-feira (12) encerrar a greve da categoria, iniciada em 8 de outubro. Os profissionais reivindicam o pagamento da última parcela do reajuste salarial, aprovado na gestão Agnelo Queiroz e suspenso pelo governador Rodrigo Rollemberg.
Em nota, o Sindicato dos Médicos diz que a categoria não aceitou a proposta apresentada pelo governo, mas decidiu voltar ao trabalho em respeito à decisão da Justiça, que declarou a greve ilegal, e em respeito “à população, maior vítima do apagão administrativo desse governo”. A entidade chama o adiamento dos reajustes para 2016 de “pedalada” e “claro calote”.
Os médicos também reivindicam pagamentos de benefícios em atraso, como licença-prêmio, horas extras, 13º e férias e criticam as condições de trabalho e a terceirização da saúde.
A greve dos médicos foi declarada depois de o governador Rodrigo Rollemberg anunciar a suspensão, por um ano, do pagamento dos reajustes salariais a 32 categorias do funcionalismo público que haviam sido acordados na gestão anterior. A greve foi considerada ilegal pela Justiça.
O governo alega não ter recursos para quitar os reajustes. No início do mês, Rollemberg afirmou que o reajuste retroativo, que não for pago durante esse adiamento, só deve ser quitado em 2017.
Por conta da suspensão do reajuste, várias categorias do funcionalismo entraram em greve no DF, entre elas os professores, agentes do Detran e metroviários. Nesta quinta, funcionários do Metrô e professores da rede pública também encerraram as paralisações.
‘Boicote ao GDF’
No dia 6, o secretário de Saúde do DF, Fábio Gondim, determinou a abertura de sindicância para apurar as declarações e a conduta do presidente do Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico), Gutemberg Fialho, em vídeo obtido pela TV Globo. Nas imagens, o dirigente sindical diz que haverá boicote ao governo caso a categoria não receba o reajuste salarial que havia sido aprovado na gestão anterior.
No vídeo, Fialho afirma que o boicote ao governo será feito durante todo o mandato de Rodrigo Rollemberg. “Os servidores podem voltar sem nada. Mas vai ser quatro ano travando a máquina pública e boicotando o governo (sic)”, diz.
O presidente do sindicato declara que a gravação foi feita no dia 20 de outubro em uma reunião com o colégio de líderes da Câmara e justificou que falou em nome dos servidores públicos de todas as categorias.
“Essa declaração foi feita no início do movimento. Eu chamava a atenção do governo para uma radicalização por parte dos servidores se não houvesse uma proposta com entendimento entre sindicato e governo. O próprio governo está se boicotando. Tudo chegou em um ponto crítico, como aconteceu com os professores.”
Na sexta, o secretário se disse surpreso com a atitude de Fialho e afirmou que a conduta dele não faz parte do entendimento de todos os médicos da rede pública, “que sempre prezam pela humanização e pelo atendimento digno à população”.
“Causou-me bastante preocupação que o presidente do sindicato de uma das categorias mais importantes da Saúde defenda publicamente que se tomem medidas para travar a máquina pública. Isso não é um boicote ao governo, é um boicote à população”, disse Gondim.
Segundo ele, a Corregedoria da Secretaria de Saúde já está tomando as medidas cabíveis para a apuração. “Queremos saber tudo o que aconteceu, de fato, para evitar que a população sofra as consequências de um ato impensado.”
O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) informou que só tomará uma ação em relação às declarações de Fialho caso aconteça alguma situação que fira as normas éticas da entidade. Segundo o CRM, não é possível se tomar providências contra profissionais com base apenas em uma declaração.