Morte de jovem durante assalto em parada de ônibus da Asa Sul aumenta a sensação de vulnerabilidade na capital. Levantamento mostra que todas as modalidades de roubo e furto subiram em 2016
No ônibus, no comércio, em casa ou na calçada, é difícil encontrar alguém em Brasília que não tenha sofrido uma violência ou que não seja uma vítima da criminalidade. Embora os índices da Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social demonstrem queda na maioria dos crimes em janeiro deste ano em comparação com o mesmo mês de 2016, a sensação nas ruas do Distrito Federal é de medo. Em um dos episódios mais recentes, Iago Guedes Gomes, 24 anos, morreu durante um assalto. O latrocínio aconteceu na parada de ônibus da 112 Sul, na noite de sábado. O sepultamento ocorreu ontem.
A sensação de temor é frequente, principalmente para quem circula pela cidade a pé ou de carro. Houve seis casos a mais de roubo a pedestre entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017: as ocorrências passaram 3.061 para 3.067. Os registros de furtos em veículos também cresceram. No primeiro mês deste ano, foram 1.012 casos contra mil no mesmo período de 2016.
A dentista Jamylle Stival, 33 anos, fará parte da estatística de roubo de carro em fevereiro. No último sábado, ela voltava para casa, em Águas Claras, com os dois filhos, quando decidiu parar em uma padaria a duas ruas de distância do prédio onde mora. Enquanto estacionava, outro carro parou atrás dela e dois homens armados anunciaram o assalto. “Eles já chegaram gritando para eu sair do carro e só implorei para que deixassem eu tirar meus filhos do carro”, contou. O carro foi recuperado no dia seguinte, em Samambaia. Ninguém havia sido preso até o fechamento desta edição.
O diretor da Associação de Moradores e Amigos de Águas Claras, Marcelo Marques, disse que um dos problemas da cidade é a existência de construções abandonadas. Há pelo menos 10 estruturas paradas e invadidas por moradores de rua e viciados. “Cansamos de pedir aos órgãos competentes para tomarem providências sobre os prédios, que também servem de abrigo para assaltantes. Entendemos que houve investimento nesses imóveis, mas são locais perigosos, próximo a residências, e ainda são criadouros do mosquito da dengue”, concluiu Marcelo.
Vulnerável
Na avaliação de moradores e comerciantes da Asa Sul, a violência cresceu nos últimos anos. O ex-presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista) Antônio Augusto de Moraes tem uma loja de artigos esportivos na 308 Sul. Nos últimos três anos, criminosos arrombaram o local 12 vezes. Dois casos ocorreram na última semana. “Na madrugada de sexta-feira, os bandidos conseguiram entrar, mas fugiram sem levar nada porque alguém acionou a polícia. No sábado, retornaram e levaram R$ 15 mil em produtos”, disse.
Em Ceilândia, a tranquilidade não faz parte do expediente do cobrador Sérgio Antônio Badu, 48. Ele sofreu 10 assaltos no último ano. Levantamento da Secretaria de Segurança Pública revela que, em 2016, cresceram todos os roubos e furtos, inclusive aqueles cometidos em coletivos. “No terminal rodoviário não há ninguém que nunca tenha sido roubado. Da última vez, me assaltaram com um pedaço de tesoura. Isto é uma situação absurda”, queixou-se.
O subsecretário de Gestão da Informação da Secretaria de Segurança Pública, Marcelo Durante, ressaltou que o medo do crime consiste na sensação de vulnerabilidade. Segundo ele, a visibilidade da polícia também influencia esse contexto. “O fator mais relacionado para a sensação de insegurança não é tanto ver a polícia, mas, na hora em que a pessoa precisou, a polícia estava perto para atender ou chegou de forma rápida. Por isso, estamos investindo na Ciade e conseguindo aumentar a recepção das chamadas”, garantiu.
Segundo o porta-voz da Polícia Militar, major Michello Bueno, o trabalho da PM é feito a partir das estatísticas, e o efetivo é distribuído dependendo da necessidade de cada região.