Último levantamento do Índice dos Desafios da Gestão Estadual mostra que jovem possui melhores condições de ensino no DF. Por outro lado, mercado não está absorvendo mão de obra na mesma proporção, diz especialista.
O Distrito Federal é a unidade da federação com o maior Índice dos Desafios da Gestão Estadual (IDGE) no critério juventude. Isso significa que a capital federal tem a maior proporção de jovens com alta capacidade de produção e participação no mercado de trabalho, acesso à saúde e nível de escolaridade. No entanto, a taxa de desemprego em Brasília é superior à média nacional. A pesquisa usa dados de 2015.
No ranking nacional, o DF aparece em primeiro lugar, com índice de 0,933 – a taxa varia de 0 (a pior) a 1 (a máxima). A capital tem a segunda menor concentração do país de jovens com idade entre 15 e 29 anos que não estudam, trabalham ou procuram emprego. O percentual é de 10,4%, sendo a média nacional 14,3%.
O acesso ao ensino superior em Brasília também é o mais significativo do Brasil. Enquanto a média do país é de 15,2%, na capital o percentual é de 30,9%. No ranking geral – que reúne todos os níveis de ensino, do básico ao superior – o DF figura em segundo lugar, com índice de 0,917, depois de São Paulo.
O secretário da Criança, Aurélio Araújo, disse que este cenário se explica por uma maior consciência dos jovens quanto à importância da educação aliada a programas do governo de incentivo e inclusão. “Existe o entendimento dos jovens em geral de que o estudo é capaz de transformar a própria vida
Segundo ele, até o final deste ano, cerca de mil estudantes que passaram pelo programa “Bora Vencer” devem ingressar nas instituições de ensino superior do DF – a Universidade de Brasília (UnB), o Instituto Federal de Brasília (IFB) e a Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs).
“A nossa rede de ensino, com todas as suas dificuldades, é ainda uma das melhores do país.”
Araújo também atribui o índice positivo à ampliação física da UnB, com a criação de campi nas regiões administrativas de Ceilândia, Gama e Planaltina. Também menciona a ampliação do acesso à universidade pelo sistema de cotas, para estudantes de escolas públicas e pessoas negras.
Ainda segundo o IDGE, no critério gravidez precoce – em mulheres de 15 a 29 anos – o DF também tem o menor índice do país (5,9%), seguido por Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais – a média nacional é de 12,2%.
Além disso, o DF é a terceira unidade federativa do país com a maior expectativa de vida, de 77,8 anos, atrás de Santa Catarina e Espírito Santo. A média nacional é de 75,5 anos.
Cenário contraditório
Apesar dos índeces positivos, outros critérios mostram que o cenário no DF é complexo e não tão promissor para os jovens quanto parece. Segundo o levantamento, o desemprego no DF está entre os dez maiores do país, com taxa superior à média nacional – 10,4% contra 9,6%. Entre janeiro de 2015 e junho de 2017 foram fechadadas 2,9 milhões de vagas formais em todo o país, aponta a pesquisa.
Os dados revelam que, ainda que a capital concentre um dos maiores percentuais de jovens qualificados e em busca de uma ocupação profissional, o mercado de trabalho não está absorvendo esta mão de obra na mesma proporção.
O economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos explicou que, mundialmente, as maiores taxas de desemprego estão entre jovens de 16 a 24 anos. O DF segue a tendência, mas com uma variável socioeconômica.
“O desemprego é maior entre as pessoas com ensino médio e não entre os analfabetos”, disse Ramos. “Tem que ter família que banque o desemprego. O analfabeto não fica sem emprego, porque a família não tem dinheiro para sustentar.”
“Educação não é uma variável contra o desemprego. É um pouco mais complexo.”
“Agora, acredito que o problema do ensino médio está se deslocando para o ensino superior. Com a ampliação do crédito estudantil, por exemplo, mais pessoas têm acesso às graduações e acabam entrando no mercado de trabalho mais tarde.”
Crise econômica
Para o secretário da Criança, Aurélio Araújo, a crise econômica que o país enfrenta é um fator importante, mas o desemprego no DF está relacionado a questões históricas e fisiologicas que condicionam o funcionamento do mercado de trabalho. “A própria composição arquitetônica da cidade é historicamente desigual”, explicou.
“Brasília não foi planejada para comportar a população mais simples. O próprio surgimento das satélites vem como espaços para colocar as pessoas de baixa renda.”
O funcionalismo público, a carência de indústrias e um mercado de serviços que atende aos servidores também seriam fatores que contribuem para este cenário. “Brasília ainda está se descobrindo economicamente como movimentos criativos, jovens que começam a empreender tanto nas zonas centrais, como nas periferias.”
Desigualdade social
O Índice dos Desafios da Gestão Estadual (IDGE) também aponta que o Distrito Federal tem a maior renda domiciliar per capita do país, de R$ 2.133. A média nacional é de R$ 1.057. No entanto, a capital é a região com maior desigualdade de renda, com índice de 0,563. O estado com menor taxa é Santa Catarina, com 0,422. A média no Brasil é de 0,514.
O professor da UnB explica que este é o perfil de Brasília desde a construção, quando a capital “promissora” estimulou um fluxo migratório que, segundo ele, acontece até hoje. “O problema é que esse fluxo ele é movido pela renda per capita, então as pessoas vão para esses polos econômicos, e, assim, aumenta a taxa de desemprego.”
Carlos Alberto Ramos disse que essa proporção inversa entre renda per capita e taxa de desemprego ocorre em todos os países do mundo. Já no DF, o funcionalismo público e os trabalhadores que ascenderam socialmente por meio da educação sustentam um grupo específico de desempregados.
“Se o jovem tem ensino superior e não encontra trabalho, especialmente se a família vem de condição social mais baixa e vê a educação como forma de ascenção, ele não vai topar trabalhar com algo que não seja compatível com a posição social que aspira, como um serviço manual.”
A pesquisa avalia nove áreas, entre saúde, educação, segurança e condições de vida, em todas as unidades federativas do país a partir de 28 indicadores. Os dados que dão base ao levantamento são obtidos por instituições de pesquisa e controle como o Inep, Pnad, IGBE, DataSuS e o CNJ.